Coimbra foi rica em publicações nestes últimos cem anos. Nas primeiras décadas do século XX, quando nasceu “O Despertar”, muitos outros títulos deram à estampa. Tiveram, contudo, na sua maioria, uma vida curta, havendo muitos que não passaram do primeiro ano. Acompanhando a evolução política e social que se fazia sentir em todo o país, a “cidade de província” assistiu ao nascimento de vários jornais maçónicos, republicanos, laborais mas também académicos e estudantis, não fosse esta uma cidade tão marcada pela sua Universidade. Seria praticamente impossível recordar aqui, hoje, todos os títulos surgidos nestes 100 anos. Ficam, contudo, alguns dos que, no seu tempo, terão sido mais emblemáticos. “O Despertar” está, naturalmente, entre eles e distingue-se precisamente pela sua longevidade, não havendo outro em Coimbra que mantenha uma publicação contínua há 100 anos.
Muito poderia ser dito sobre a história da Imprensa em Coimbra. Hoje, nesta edição em que comemoramos os 100 anos de “O Despertar”, não é nossa intenção fazer uma análise exaustiva de todos os títulos surgidos. Pretendemos apenas, de forma sucinta, evocar alguns dos jornais e revistas que marcaram a Imprensa da cidade que, recorde-se, começou em 1812, nesse longínquo ano em que apareceu a Minerva Lusitana.
Sendo 1917 o ano que marca o início da história de “O Despertar” é precisamente por aí que começamos esta breve evocação, recorrendo a dados disponíveis na Biblioteca Municipal de Coimbra (onde se encontram todas as coleções) e a informações recolhidas por Carlos Santarém Andrade, com vários livros editados e que foi diretor daquela Biblioteca, tendo publicado um trabalho mais exaustivo sobre este tema na edição das Bodas de Diamante deste jornal, em 1992.
Pode dizer-se que os últimos anos da primeira década do século XX foram ricos em novos títulos. Em 1917, para além do aparecimento de “O Despertar”, surgiu também “A Voz do Cárcere”, feito pelos presos da cadeia de Santa Cruz e que surgia como um “porta voz” dos seus anseios. A sua existência foi, contudo, muito curta, havendo registos de apenas cinco publicações. O mesmo sucedeu com “O Trovão”, quinzenário feito pelos estudantes” que se manteve durante muito pouco tempo. Vida relativamente mais longa teve “O Tempo”, jornal que, tal como “O Despertar”, surgiu com uma periodicidade bissemanal e que foi publicado até 1920. Desse ano apenas “O Despertar” resistiu, mantendo-se vivo há 100 anos. Recorde-se que apareceu a 2 de março, sendo publicado duas vezes por semana. Assumia-se como um “jornal modesto”, que tinha como colaboradores várias figuras coimbrãs, das mais diversas áreas.
No ano de 1918 o destaque vai para a estreia da “Revista Industrial” e do semanário académico “Alvorada”, dois títulos que não vão além desse ano. Surgiu também “O Radical”, publicação do órgão do Centro Republicano José Falcão, que se manteve até 1920.
O ano de 1919 foi um ano fértil em novos títulos. Ligado à Grande Guerra surge “Aldeia Portuguesa”; a nível mais académico e literário dão à estampa a revista “Ícaro” e “Gente Nova”. Destaque ainda para o “Reformador”, jornal fundado pelo Partido Republicano Reformador; para a “Voz Socialista”, quinzenário fundado pelo Partido Socialista; e para o semanário “Ressurreição”, publicado pelos estudantes monárquicos. De acordo com os registos, todos estes periódicos acabaram no mesmo ano. A estes títulos há ainda a acrescentar o “Doze de Outubro de 1918”, com apenas um número, mas cujo título deu nome a um quinzenário surgido em 1920, que também não foi além desse ano.
E nesse ano de 1920 vários títulos surgem. A Maçonaria assinala o 1.º centenário da Revolução Liberal com “A Revolução de 1820”; surge também a “Luz ao Povo”, com apenas quatro números publicados; e a “Acção Liberal”, ligado ao Partido Popular. A nível estudantil, “Alma Lusa” ficou-se pelo número um, “Lusa Atenas” pelo número dois e “A Tradição” pelo número cinco.
No ano de 1921 aparece “o Conflito”, que não vai além dos oito números. De referir também os periódicos humorísticos “A Blague” e “Termocautério” e, ainda, “Nova Fenix Renascida”. “O Alarme” (político e que logo termina), “O Jornal” (republicano que não vai além desse ano), “O Pregão Real” (monárquico que também acaba em 1921), “Restauração” (monárquico que, de forma irregular, se manteve até 1925) e a revista “Memórias e Notícias” surgiram também nesse ano.
“Correio de Coimbra” surge em 1922 e mantém-se até hoje
Em 1922 o Partido Republicano Português publica “O Democrata”, que se mantém até 1925, e a Associação Cristã dos Estudantes lança “Vida Nova”, quinzenário que segue até 1923. O CADC edita a revista “Estudos”, que teria uma vida muito mais longa, publicando-se até 1970, privilegiando artigos de índole religioso mas também de caráter científico e literário.
História e percursos diferentes tiveram o “Correio de Coimbra”, semanário ligado à Diocese de Coimbra, e cuja publicação se mantém até hoje, sendo também este jornal um exemplo de longevidade.
“Academia” e “O Empregado de Comércio” são os títulos que surgiram em 1923, ambos com um percurso curto, registando publicações irregulares só até ao ano seguinte. Foi também nesse ano que iniciaram a sua publicação o “Coimbra Desportiva”, “A Cidade”, o radical “Meteoro” e ainda os republicanos “O Popular” e a “Província”.
No ano de 1924 surgiram também bastante novos títulos, sendo de destacar “Via Latina”, “As Vespas”, “Escola Nova” e “Portugal” (todos eles desapareceram no mesmo ano). Mais tempo duraram o “Sport”, “A Voz de Coimbra” (terminaram em 1925), “Renovação” (terminou em 1926) e “A Defesa” (durou até 1927).
O bissemanário “O Jornal” (2.º com este título) e “A Humanidade” são os novos títulos surgidos em 1925, tendo sido também efémeros. Nesse ano nascem também as revistas “Os Novos” e “Biblos”.
O ano seguinte foi mais rico. Alunos do liceu lançam “O Bicho”; surge o jornal académico “Zeros”; o semanário de caricaturas “Pena, Lápis e Veneno”; “Pró-Coimbra” (com apenas uma publicação por ocasião das Festas da idade); “O Bombeiro de Coimbra” (dos Serviços de Incêndio); e “Vida Nova” (do Partido Republicano de Esquerda Democrática). A maioria teve vida curta. Em 1926, em termos de longevidade, a exceção foi “A Voz Desportiva”, que se manteve durante muitos anos.
“Condestável”, “O Escoteiro de Coimbra” (ambos periódicos escutistas), “O Distrito de Coimbra”, “A Ideia” e “A Presença” foram alguns dos mais importantes títulos surgidos em 1927. No ano seguinte, o destaque vai para “A Voz de Coimbra” (bissemanário republicano que não vai além desse ano) e para a “Voz do Povo” (que se publicaria em Coimbra até 1931”. A nível estudantil, outros títulos surgiram, nesse ano e também em 1929, quase todos com uma vida bastante curta.
“Diário de Coimbra” nasce em 1930
A partir dos anos 30 do século XX nota-se uma quebra no que toca a novos periódicos, apesar de serem anos ricos em revistas (muitas delas estudantis e literárias) e boletins, verificando-se, contudo, que a grande maioria tem uma duração curta, havendo mesmo alguns que não vão além do primeiro número.
No ano de 1930, há, todavia, uma nova publicação que se destaca e que irá sobressair pela sua longevidade – o “Diário de Coimbra”. O jornal é um dos poucos que continua a publicar-se até aos dias de hoje. Nesse ano surgiu ainda “O Negro”, jornal de reportagens, mas acabou no mesmo ano.
“O Bom Combate” e “A Saúde”, dois títulos inspirados no flagelo de então – a tuberculose -, são as novidades de 1931. De referir que o último foi publicado até 1943.
Ainda nesta década destaque para o semanário “Notícias de Coimbra” (o terceiro com esta designação), que surge em 1933 e vai até 1946; para o quinzenário “A Voz do Calhabé”, que dura até 1978; e ainda para o jornal “Coimbra”, que terminou em 1935. Em 1939, destaque para “A Cabra” (que surgiu por ocasião da Queima das Fitas e que em tempos mais recentes voltou a ser retomado) e “O Salatina”.
No ano de 1940 apenas dois jornais surgem, “A Queima” e “A Cidade do Mondego”, e têm apenas um número cada. Os anos seguintes são pobres em novos títulos. Entre as publicações surgidas, realça-se o quinzenário monárquico “Mensagem” (1946) e “Briosa” (1949), também ambos com uma vida curta.
Nos anos seguintes continua a não haver grandes novidades, apesar de irem surgindo sempre algumas revistas e boletins, muitos deles ligadas ao ensino, saúde e a entidades e coletividades da cidade.
Em 1956 surgiu um novo jornal desportivo, “Placard Desportivo”, que não vai além do primeiro número. No mesmo ano publica-se o primeiro número de “Rotary Club de Coimbra” e começa a segunda série do jornal de escuteiros “A Tua Pista”, que se iria manter até 1962.
Em 1957 começa a publicar-se a revista “Rua Larga”, que dura até 1961. Surge também o jornal de informação, cultura e regionalismo “Expansão”, que publica uma primeira série até 1966 e uma segunda de 1970 a 1981.
Sobre os anos seguintes não há muito a destacar. Na década de 60, em 1964, surgiu a “Gazeta de Coimbra”, que durou pouco mais de uma década, terminando em 1975. Em 1967 aparece a “Tribuna de Coimbra”, quinzenário dedicado à informação, cultura e regionalismo.
Já nos anos 70, mais precisamente em 1974, destaca-se o aparecimento de um novo jornal religioso, “Família Camboniana” e surge “O Domingo”, semanário que integrava a edição de domingo do “Diário de Coimbra”.
“As Beiras” e “Jornal de Coimbra” surgem na década 80
Na década de 80, a par com as várias revistas que vão sempre surgindo, há alguns novos periódicos a anunciar. Logo em 1981 surge o semanário “Jornal do Vale do Mondego”, em 1983 apresenta-se o mensário “Jornal A Voz de Coimbra” e em 1985 começa a publicar-se a “Tribuna de Coimbra”, dirigida por António Marinho, que continuará até ao ano seguinte. É também nesse ano que surge uma revista, de cariz religioso, que se mantém até hoje, “O Mensageiro de Santo António dos Olivais”. Surgem também dois periódicos sindicais “Jornal de Luta” (da União de Sindicatos de Coimbra) e SPZC Informação (do Sindicato dos Professores da Zona Centro). Vem também a lume “A Sebenta”, revista dirigida por Sansão Coelho.
Já em 1986 destaque para o jornal desportivo “Desportivo das Beiras”. É também nesse ano que o jornal “As Beiras” chega a Coimbra, tendo iniciado a sua publicação em Tondela. Este é um dos títulos que se mantém em publicação até hoje.
Em 1987 surge o semanário “Jornal de Coimbra”, dirigido por Jorge Castilho, e a “Voz da Terra”, dirigido por Joaquim Casimiro.
Já na década de 90, em 1991, a secção de jornalismo da AAC lança o jornal “A Cabra” (título que já tinha existido no passado e do qual já aqui falámos), dirigido por José Albuquerque, cuja publicação ainda se mantém.
Em 1994 surge a “Folha de Santa Clara”, que teve como primeiro diretor Jorge Martinho, seguindo-se José Simão. O jornal encontra-se suspenso desde 2012.
“Campeão das Províncias” no arranque do século XXI
É no início do século XXI que o “Campeão das Províncias” chega a Coimbra. Com origens muito remotas, o jornal foi fundado em meados do século XIX em Aveiro, tendo-se prolongado até 1924. Anos mais tarde, a publicação foi retomada, ainda em Aveiro, por ação conjunta do jornalista Lino Vinhal (seu Diretor) e pelo Instituto Superior de Ciências de Informação e Administração. No ano 2000, Lino Vinhal, proprietário do Grupo Media Centro (que entre outros jornais e rádios integra também “O Despertar”, transferiu este semanário para Coimbra, onde se publica desde então.
Nestes primeiros anos do século XXI, em 2003, surge a “Rua Larga”, revista da Reitoria da Universidade de Coimbra, dirigida na altura por Fernando Seabra Santos, e que continua em publicação. Anos depois, em 2011, aparece a revista C, dirigida por Soares Rebelo, mas que acabaria por ter uma existência curta, tendo o último número saído em setembro de 2012.
Em 2012 surge, na área da saúde, a revista “Olhares”, produção do Centro Cirúrgico de Coimbra, coordenada por Conceição Abreu e Robert Van Veize, e que ainda se mantém.
Os “sobreviventes”
De forma sucinta, aqui ficam alguns dos títulos que marcaram estes últimos cem anos. Como facilmente percebemos, muitos periódicos, revistas e boletins surgiram mas, destes, apenas alguns se mantiveram por alguns anos, sendo muito poucos os que se mantêm até aos dias de hoje.
“O Despertar” é, sem qualquer dúvida, o mais antigo, com 100 anos de publicação ininterrupta. A nível de jornais, em atividade mantêm-se também o “Correio de Coimbra”, “O Mensageiro de Santo António dos Olivais”, o “Diário de Coimbra”, “As Beiras”, “A Cabra” e o “Campeão das Províncias”.