Um jornal com a longevidade secular que este apresenta, ensina-nos muito sobre a história do jornalismo em Portugal. Nascido numa época conturbada, quando a República lutava pela consolidação, afirmou-se num tempo em que para ser jornalista não era necessário possuir um curso técnico ou universitário atestando formação específica.
Os jornais eram espaços privilegiados, reputados e disputados, de certa forma equivalentes às hodiernas revistas científicas, onde homens e mulheres detentores de diversas formações explanavam as suas matérias, de acordo com os interesses pessoais e profissionais, procurando o rigor e a qualidade em cada artigo noticioso.
Sente-se isso não só com o nosso periódico, mas também com os seus contemporâneos, como a Gazeta de Coimbra ou o Conimbricense. Historiadores, Matemáticos, Médicos, Empresários, Economistas, Políticos, entre outros, encontravam nas páginas dos periódicos o espaço para divulgar conhecimento e informação, assumindo, por vezes, as funções de diretores e redatores, controlando os aspetos editoriais e tipográficos.
É raro encontrar a designação de jornalista, ou alguém assumir, no espaço público, que essa era a sua atividade principal ou secundária. Na verdade, o primeiro curso universitário de jornalismo em Portugal realizou-se em 1979, numa iniciativa da Universidade Nova de Lisboa. Desde então o jornalismo afirmou-se enquanto ciência, tornou-se parte integrante do 4.º poder, juntando-se ao esquema bem conhecido dos três poderes do Estado Democrático: Legislativo, Executivo e Judiciário.
O seu impacto na sociedade tem sido de tal ordem, que questões como a liberdade de imprensa e da atividade de jornalista têm sido, sucessivamente, colocadas em causa, devido à pressão de grupos de interesse que os tentam controlar e manipular, pela sede de poder e dinheiro.
Ambiciono, um dia, lançar um periódico, num formato que há muito venho refletindo nos meus cadernos de apontamentos. Onde o jornalista se dedique ao jornalismo e não entre nas esferas de outras ciências, evitando escrever sobre o que não sabe ou domina, praticando o exercício da livre investigação e acesso a fontes.
Que possa, de certa forma, recuperar o espírito dos primeiros tempos, e agarre aquilo que de melhor nos tem trazido as últimas revoluções tecnológicas. Até esse dia, renovo os parabéns a “O Despertar” e a toda a equipa, que semana após semana consegue manter bem viva a chama deste farol de jornalismo.