Com a escolha dos nomes para a composição do Governo, António Costa provou que, mais do que ter um projeto político para o país, tem um verdadeiro projeto de poder para o PS, usando o Governo, numa óbvia troca de prioridades, para logo numa primeira linha, atender aos interesses do partido que lidera.
Ficou aliás, muito claro: a composição do novo Governo é a prova provada de que o PS domina o Estado e de que, para o PS, o Estado serve antes de tudo, para que o próprio PS possa resolver os seus problemas.
A absolutíssima maioria de António Costa, conseguida no passado mês de janeiro, teve como primeira consequência uma inenarrável conjugação de caminhos com um único sentido: a corte socialista, composta pelos pretendentes a ocupar, num futuro, o lugar do líder; gente que bebeu toda da mesma fonte – e apenas na mesma fonte -, sobrepôs-se a tudo e a todos, num pobre quadro, bem demonstrativa daquilo que julgávamos já não ser possível acontecer num país onde, a cada esquina, tanto se apregoa a competência.
Não digo, com isto, que um Governo tenha de ser apenas composto por técnicos, por académicos ou por especialistas. Aliás, ninguém será melhor político do que… um político. A questão não é essa. É outra: é a de se perceber claramente, que todos aqueles políticos lá estão, sobretudo, por isso ser conveniente para o futuro do PS e não necessariamente por ser útil para o futuro do país.
O novo elenco governativo não foi pensado para servir o país, foi antes congeminado para servir o PS e o seu futuro enquanto partido político – ou se quisermos ser ainda mais precisos, foi pensado para servir um grupo muito concreto dentro do PS. Um grupo de pessoas que António Costa não quer que se esvaia numa luta inglória aquando da sua saída e que agora passa a poder manobrar, imbuído que está em poderes de facto e de direito como se de peças num tabuleiro de xadrez se tratasse.
O Governo é assim, feito de parceiros, de comparsas, de gente feita num mesmo pequeno mundo que têm como o primeiro fundamento as cautelas táticas de quem sabe que atrás de si poder vir a desgraça.
O facto de António Costa ter escolhido nomes claramente justificados pelo único facto de lhes poderem vir a suceder à frente do partido, revela bem onde os encontramos e àquilo a que estamos destinados nos próximos quatro anos. De Medina, expulso de Lisboa, a Galamba, estão lá todos e só lá não estão aqueles que até aparentavam ser mais diligentes do que todos os outros: a saída de Pedro Siza Vieira é um bom exemplo disto mesmo.
É, por isso, importantíssimo o papel que está destinado à oposição, é, por isso, importantíssimo o papel que está destinado de forma muito particular, ao PSD.
É que há um país que não se revê neste estado de coisas. Um país que quer diferente, que se inquieta e que não permitirá que o condenem a continuar a arrastar-se amarrado à cauda da União Europeia. Um país que não tolerará, por certo, o abuso que lhes prepararam.
Serão quatro longos anos. Esteja a oposição – o nosso único garante – à altura para cumprir o seu papel.