O conhecido Avô Cantigas, natural da Lousã, soma 40 anos a encantar crianças e adultos pelo país fora. Ao longo de quatro décadas de carreira, soma mais de trinta álbuns discográficos de músicas que certamente nunca vão sair de moda nem dos ouvidos de todas as gerações que o acompanham. Um avô bem-disposto que desde os seus 27 anos está sempre pronto para acarinhar os seus milhões de “netos”, uns com mais de 50 anos e que ainda cantam “A Canção do Avô Cantigas” como se ainda fossem também crianças.
Quem é o Avô Cantigas?
É uma personagem. Mas não é muito mudada daquilo que sou enquanto Carlos Vidal. Nos primeiros meses de carreira o Avô Cantigas representava em termos teatrais uma personagem com certas características, como andar pausadamente, curvar-me, modificava a minha forma de falar. Hoje o Avô Cantigas é a minha própria personalidade.
Qual o balanço que faz destes 40 anos de carreira?
É muito positivo, porque olhando para trás vejo que tem sido um percurso muito agradável e bonito, com uma relação fantástica com o público, principalmente com as crianças. Quarenta anos não são 40 dias e já passei por milhões de crianças. Estando ainda em plena atividade é um prazer cantar para as crianças dos dias de hoje, que já são quase os meus trisnetos.
Como foi ser “avô” aos 27 anos, idade com que surgiu o Avô Cantigas?
Foi uma ideia minha e de António Pinho, que é a pessoa com quem criei o Avô Cantigas. Na altura foi uma experiência muito bonita para mim. Mais tarde, quando comecei a libertar-me mais e a desprender-me mais do boneco do avô, não foi porque estivesse a correr mal, mas foi algo instintivo. Tudo surgiu com uma personagem criada para um programa de televisão da RTP, “Passeio dos Alegres”, com Júlio Isidro, e que na altura era um dos mais famosos. O Avô Cantigas teve a sorte de ser lançado aí, em que de repente me tornei uma “estrela”.
Como é ser o Avô de várias gerações?
Eu vou sempre lidando com as crianças e há uma altura em que atingem uma idade em que são elas que passam a lidar comigo! Se vejo um rapaz ou uma rapariga de 13/14 anos, reconhecem-me e abordam-me. Também há jovens na casa dos 20 anos que têm um relacionamento com o Avô Cantigas muito carinhoso. E há 15 anos quando tinham os seus cinco anos saiu o “Fantasminha Brincalhão” e era a música de infâncias deles ou o “Fungagá da Bicharada” que atingiu milhões de visualizações. O Avô Cantigas tem a sorte de manter o contacto com os mais pequenos mesmo quando começam a ter outra idade. Isto para não falar dos pais que têm agora os seus 40 anos ou mais e na altura em que eram crianças ouviam o Avô Cantigas. Eram os meus verdadeiros netos!
Como se sente ao ser considerado um “ídolo” dos mais novos e até dos mais velhos?
Não sei se sou um “ídolo” como diz. Eu sei que marco a infância de muitas crianças e sei que são minhas fãs e eu sinto esse carinho até mesmo em adolescentes que têm hoje uma relação especial comigo. É algo muito gratificante! Às vezes vou na rua e as pessoas olham para mim e dizem “olha o Avô Cantigas”, porque me reconhecem e têm esse gesto espontâneo, sempre embrulhado com um sorriso e isso é fantástico!
O que pretende transmitir o Avô com as suas cantigas?
Comecei com um disco há 40 anos em que abordava diversas temáticas, em que não tinha um tema genérico. Cerca de cinco anos depois, saiu um álbum em que todos os temas falavam do corpo humano e teve muito sucesso nas escolas. Mais tarde lancei um disco dedicado à proteção do meio ambiente, a convite da Secretaria de Estado, bem como um projeto discográfico relacionado com a segurança rodoviária. Ultimamente tenho-me voltado mais para o entretenimento, regressando às cantigas avulsas, sem tema geral, mas sempre dando bons conselhos nas entrelinhas e com interesse didático e pedagógico, que contribuem para o desenvolvimento das crianças. Em relação às letras, durante muitos anos, o Avô Cantigas cantava músicas compostas por António Pinho.
Em que é que se inspira para escrever as músicas?
É um pouco aleatório. Os temas vão surgindo na sequência dos momentos que vou vivenciando e dos acontecimentos que o quotidiano nos traz.
Há alguma música especial?
Há várias. Têm surgido músicas que marcam vários pontos da minha carreira. Mas talvez seja a versão que fiz muito pessoal do “Fungagá da Bicharada”, com um videoclip muito engraçado, que me deu balanço para existir até aos dias de hoje! E outros tantos trabalhos que tiveram um sucesso considerável, como o “Fantasminha Brincalhão”. Também tenho a ideia de um dia reunir as baladas do Avô Cantigas!
Recorda-se do primeiro espetáculo enquanto Avô Cantigas?
Não. Recordo-me da minha primeira apresentação, que foi no programa que já falámos, do “Passeio dos Alegres”. Naquele domingo à tarde passou o genérico e foi o momento do Avô Cantigas!
Por onde atua o Avô Cantigas?
O grosso das minhas atuações são em grandes espetáculos organizados por várias entidades, como Câmaras Municipais, Comissões de Festas, entre outras. Para mim é maravilhoso as pessoas pensarem em mim para animar as crianças com o meu espetáculo.
Que projeto tem em mãos?
Neste momento, o CD dos meus 40 anos de carreira, que conta com sete músicas da minha autoria e oito temas em parceria com António Pinho.
Ao longo dos 40 anos houve algum momento que o tenha marcado?
Há muita coisa, pois já são muitos anos. Mas há algo que me marcou, a participação nas festas nas Pediatrias, como no IPO de Lisboa e em outros hospitais. Tardes memoráveis para aquelas crianças que tiveram a infelicidade de ter cancro, em que contribuíamos para elas se sentirem mais animadas e felizes. Momentos lindos em que damos à música a capacidade de poder intervir em quem verdadeiramente necessitava de alegria.
Como foi conciliar a vida de artista com a pessoal? No fundo era pai e avô dos seus filhos!
Os meus filhos ouviram-me a compor as músicas. Na altura o Avô Cantigas tinha cerca de cinco anos de carreira quando o meu primeiro filho nasceu e foi sempre assistindo e muitas das vezes juntava-se a mim. Mais tarde, tive outro filho que passou pelo mesmo, mas já estava em outra fase do meu percurso. Houve sempre uma relação muito boa. E também já sou avô de verdade! Tenho um netinho com três anos e prestes a ter outro!
Esta semana comemorou-se o Dia dos Avós. Quer deixar alguma mensagem?
O Dia dos Avós é importante, porque neste dia fala-se nos avós e de todas as suas necessidades. Aquilo que falta neste dia não é tanto a relação dos avós com os netos, mas com a sociedade que precisa de os ajudar.
Sendo natural da Lousã, ainda mantém ligação com o concelho?
Sim. Tenho uma relação muito boa com a Lousã. Tenho feito muitos espetáculos com muito sucesso e tenho gostado muito de atuar na minha terra. Ainda tenho lá família, pelo que me desloco ao concelho também para os visitar e não apenas por motivos profissionais.