Depressa se despediu esse quinto mês, mais tórrido que o habitual, nas semelhanças emprestadas de um Julho ou de um Agosto que depressa chegarão. Como um poema maduro, prenho de bucolismo, com ele se foram as diversas paletas de cores que durante semanas tingiram as serras e planuras. Não é por acaso que o mês em que se comemora o dia da Mãe é de todos o mais florido e sonoro, expressando da natureza um grande leque de beleza e amor que é necessário apreciar para entender. É no mês de Maria que germinam ainda grande parte das sementeiras, em que se assiste ao crescimento das primeiras folhas que nos primeiros passos pedem os mais tenros cuidados. As flores vão vingando nos pomares e nos vinhedos, os olivais são agora mantos de brancura prometendo boa safra, enquanto nas hortas as favas tomam o ditado, “Maio as dá, Maio a leva”, tal como tantas outras coisas que estes trinta e um dias transportam sem recuo.
Os jardins vêm-se nessa decadência cromática, nessa botânica cada vez mais verde que apenas a água é capaz de manter durante dias tão solarengos. As horas quentes preenchem de vida as sombras e abrigos, as horas mais frescas fazem encher os passeios e caminhos, andando a sociedade nessa ânsia de viver a liberdade mais do que nunca, depois de tantas provas que o mundo nos tem dado.
As andorinhas serpenteiam os céus naquele corrupio tão feminino e rodopiado, deixando nos beirais os seus ninhos tão característicos. O cuco escuta-se no seu típico cantar de ave que espreita e chama, numa ode que se estende até aos santos. Os gaios vão vigiando os milheirais começando desde já a eleger as melhores espigas, enquanto os melros, são agora os fedelhos mais lambareiros que tomam contam dos mais altos ramos das cerejeiras, carregadas de brincos encarnados, tão cobiçados e ansiados. Os grilos absorvem o calor dos dias, para dar longos recitais pelas noites que tão agradáveis se têm sentido convidando a desfrutá-las.
Toda esta fauna se atenua de som à medida que me aproximo da cidade, dessa onde há pouco se festejou a maior festa de seus filhos, a festa dos estudantes, tão carregada de fados e guitarradas, sendo que não só em Maio se escrevem os melhores momentos. Serenatas e baladas por Coimbra fazem sentido todo o ano.
Nessa mesma balada de saudade chega o Junho, prometendo ser festeiro e de arrais como à tanto se desejavam de novo viver e sentir. Andam por essas aldeias os santos com vontade de descer dos altares, com mais vontade ainda anda o povo de os passear e festejar, anunciando por esses caminhos e cruzamentos numerosas festas e romarias que prometem preencher o Verão até às colheitas. Também na urbe se prepara o “cortejo real” da sua Rainha que este ano volta a atravessar o Mondego. Nota-se a fé do povo ainda mais acesa, tal como incandescente anda a sua vontade de reunir e viver novos momentos, pois muitos, já se perderam por causa de uma pandemia e o que se viveu é tal como Maio, “Maio os deu, mais os levou…”. Desse mês se traz o ramo da espiga, colhido nessa quinta-feira sagrada, tão carregada de simbolismo e na vontade de ver a Ascensão de melhores dias.