Mais de 80 por cento das famílias de pessoas com deficiência intelectual expressam receio sobre o futuro dos seus filhos. Esta é a principal conclusão do Estudo sobre Qualidade de Vida Familiar, desenvolvido pela Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental (APPACDM) de Coimbra durante este ano.
A instituição apresentou, na terça feira, os dados desta investigação, cofinanciada pelo Programa de Financiamento a Projetos do Instituto Nacional para a Reabilitação (INR) e que envolveu 155 famílias acompanhadas pela APPADCM de Coimbra. De acordo com a instituição, este estudo “permitiu a sua caracterização nas dimensões de qualidade de vida familiar, identificando recursos e estratégias de apoio em contexto de pandemia”, assim como conduziu à definição de “uma estratégia e ações de melhoria de qualidade de vida para as famílias”.
O estudo foi realizado junto das famílias dos 242 utentes que frequentam a resposta social Centros de Atividades Ocupacionais (CAO) da APPACDM de Coimbra. O objetivo passou por caracterizar estas famílias e perceber as suas principais necessidades, de acordo com cinco domínios de qualidade de vida familiar. De acordo com o estudo, 84,30 por cento das famílias de pessoas adultas com deficiência que frequentam esta valência têm rendimento per capita abaixo do limiar da pobreza. A análise permitiu perceber, ainda, que 80,39 por cento das famílias com filhos com mais de 45 anos expressam medo quanto ao seu futuro. Para contextualização, 30,97 por cento dos cuidadores têm idades compreendidas entre os 70 e 90 anos.
Este estudo permitiu identificar também os impactos da pandemia covid-19, principalmente os períodos de confinamento, nestas famílias. A grande maioria (84,5 por cento) assumiu que teve sentimentos de preocupação e ansiedade e 23,5 por cento consideram ter reduzido as manifestações de afeto com os seus familiares com deficiência.
De acordo com a coordenadora dos CAO, Ana Isabel Cruz, este estudo “coloca a nu uma realidade preocupante, em que o envelhecimento, o cansaço, o desgaste emocional e a pobreza assumem proporções muito fortes”. Estes dados “impelem-nos a ter de pensar estrategicamente e a agir no curto prazo, minimizando a angústia de um desgaste acumulado, de quem todos os dias vê o fim mais próximo e teme sobre o futuro para os seus filhos”, alerta a coordenadora.
Defende que “é preciso diversificar respostas, ajustá-las à realidade e, principalmente, deixar de adiar soluções que podem ajudar a que a eterna pergunta ‘o que vai ser do meu filho quando eu morrer’ apenas encontre o silêncio como eco”.