Queridos leitores, o texto desta semana é inspirado no livro “Em que posso ser útil?”, da autoria de Pedro Vieira e editado recentemente pela Fundação Francisco Manuel dos Santos na sua coleção Retratos da Fundação. Este é um livro que de alguma forma chama a atenção para a importância do setor do comércio e serviços como grande empregador em Portugal.
Tenho a felicidade e o orgulho de ter trabalhado no comércio durante cerca de 25 anos. É verdade que a minha experiência é um pouco diferente das experiências retratadas neste livro porque exerci sempre cargos de liderança de equipas, em grandes empresas multinacionais e em diferentes cidades e países. De qualquer forma passei muitas horas na “placa de vendas” e revejo-me em muitas das situações retratadas.
Poderia encher as páginas do nosso jornal com histórias (muito) engraçadas da minha vida de comerciante… vivi na SONAE os tempos em que os clientes faziam excursões às lojas CONTINENTE… vivi na DECATHLON os tempos em que os clientes entravam na loja de Alfragide e perguntavam: “onde estão as batatas?”… vivi na H&M os tempos em que descarregávamos camiões à meia-noite, na Rua do Carmo, em Lisboa, e depois, completamente estoirados, ainda tínhamos energia para celebrar no Bairro Alto… vivi na MEDIA MARKT os tempos em que as lojas no seu primeiro dia vendiam tanto, tanto,…, tanto que nós “entravamos em delírio”… vivi uma apaixonante vida de comerciante, graças a tantas incríveis pessoas que conheci: equipas e clientes!!!
Partilho com os meus queridos leitores duas das minhas histórias mais caricatas…
…quando fui trabalhar para Barcelona pensava que falar bem castelhano seria suficiente para poder atender clientes na loja. Rapidamente percebi que não porque bastou escutar a palavra “mitjons”, quando alguém me fez uma pergunta que incluía esta palavra, para ficar em pânico… aquela cliente perguntava onde poderia encontrar um produto ou estaria a perguntar onde era o wc? Como não fazia ideia do que deveria dizer, acabei por pedir desculpa afirmando que era portuguesa, que estava em Barcelona há pouco tempo e que pedia o favor de me dizer a palavra em castelhano… “calcetines,”, disse a senhora com um ar aborrecido… ok… meias… já podia ter dito… estou safa…
…um dia, estava eu tranquilamente a vender numa loja lisboeta, quando atendi um simpático senhor que aparentava ter a idade da Mãe Rosarinho. Facilmente a conversa foi parar a Coimbra e à Académica e cheguei à conclusão de que aquele senhor e eu tínhamos um amigo em comum na minha cidade. Simpaticamente pediu-me para “transportar” um abraço para Coimbra, mas quando me disse o seu nome eu ia caindo para o lado… Amilcar Alho!!! Facilmente se percebe porque é que eu nunca mais esqueci aquele senhor…
Queridos leitores, quando nos voltarmos a encontrar já vos contarei mais umas histórias e prometo continuar a “roubar sorrisos”…
O título deste texto recorda o Pai Augusto porque sempre que atendia o telefone fixo na nossa casinha da praceta perguntava: “Então o que manda?”