Bianca de Matos
Uma mulher ouvir: “tem cancro da mama” é doloroso. Fica “sem chão”, sente-se perdida, o mundo desaba. O choque inicial é grande, as lágrimas correm pelo rosto, com mil e um pensamentos como: “será que vou sobreviver?” ou “será que vou ter forças para ultrapassar a doença?”. Pensar que lhe espera sessões de quimioterapia, cabelos a caírem aos punhados quando passa a mão pela cabeça ou se penteia. Pensar nas pestanas e nas sobrancelhas a caírem. Pensar no momento em que muitas mulheres decidem rapar o cabelo para que não seja tão doloroso. Pensar na cirurgia, em que muitas ficam sem o peito e isso as faz sentir que são menos mulheres. Quando se olham ao espelho e parece que não são elas que ali estão, é um outro alguém que está a ser refletido naquele pedaço de vidro que, por vezes, se torna insuportável encarar. Pensar nas dores e nas noites mal dormidas, um sem mundo de sofrimento continuado.
No entanto, há algo que estará sempre presente nestas mulheres: a força de vontade e coragem para abraçar esta luta. Prova disso são as sobreviventes desta doença, uma verdadeira força da natureza, um exemplo de esperança, de superação e aceitação. Mulheres que transformam esta luta num processo de autoconhecimento e de transformação, que começam a olhar para a vida com outros olhos e com outro significado.
Os tratamentos passam a ser encarados como o suporte “salva-vidas”, os lenços coloridos passam a fazer parte dos armários, a reconstrução mamária passa a ser uma hipótese ou simplesmente a aceitação do seu novo corpo, e o apoio dos amigos e da família passam a ser o medicamento de que mais precisam, tornando tudo um pouco mais leve. Sentir a mão de alguém, um ombro amigo, um abraço especial da mãe, do pai, de um filho (a) ou do parceiro. Sentir que têm um porto seguro que as ajuda nas horas mais difíceis ou um sorriso reconfortante nos dias menos bons, em que as forças parecem ter desaparecido. É saber que podem pegar no telemóvel e receber um telefonema com um simples “vai ficar tudo bem”.
O apoio dado às mulheres com cancro da mama é visível pelos gestos e iniciativas solidárias que se realizam ao longo do ano. Basta pensar, por exemplo, nas caminhadas “Pequenos Passos, Grandes Gestos”, dinamizadas pelo Núcleo Regional de Coimbra da Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC), que decorreram no passado sábado (14) em sete cidades da região Centro, incluindo Coimbra, no âmbito do Outubro Rosa (mês da prevenção do Cancro da Mama), totalizando 15 mil participantes. Só na nossa cidade a atividade moveu centenas de pessoas numa grande “mancha rosa”. Ou pensar nos voluntários (as) que fazem peditórios, que tiram tempo do seu dia para partilhar nem que seja uma simples conversa, em várias instituições, como no Instituto Português de Oncologia, entre tantas outras, onde as mulheres portadoras de doença oncológica passam muito do seu tempo. Muitas são as mulheres sobreviventes de cancro da mama que partilham a sua história, a sua força, o seu sorriso de vitória e toda a informação sobre esta doença, bem como alertam para a importância da prevenção e da realização do rastreio que são tão fundamentais (se diagnosticado e tratado precocemente, o cancro da mama tem uma taxa de cura superior a 90%). Muitas são também aquelas que transformam o seu tempo em sorrisos nas outras mulheres, através da produção de próteses, lenços, perucas e outros acessórios.
Não é por acaso que se afirma que “a união faz a força”. A solidariedade é um bem precioso. Ajudar o outro com o mais pequeno gesto pode mesmo tornar o dia de alguém melhor. Comece hoje a fazer sorrir alguém. Comece hoje a dar a mão a quem precisa. Comece hoje a espalhar a esperança e a força de vencer. Pois é possível vencer esta luta: a luta do cancro da mama.