A vida é toda ela acompanhada de melodias, pautadas a cada momento, em sonoridades que mesmo no silêncio existem. Entre o Homem e o Meio enquadramo-nos em todos os andamentos, desde as horas mais Lento, ao Adagio mais aprazível, à tranquilidade num momento Moderato, ao Allegro das boas ocasiões e surpresas, até ao Presto do dia a dia.
Somos maestros de todos os compassos, “A vida é uma música, a nossa história é a letra”, não respeitando por vezes o metrónomo físico e psicológico.
Admiro uma grande diversidade de melodias, procurando entender a cada dia parte delas. Um simples som ou a junção destes, da monotonia rodopiada de uma mó a girar, ao canto de um simples pardal, harmonias quase sempre perfeitas. Tanto consigo admirar a voz definhada de uma mulher a joeirar numa eira ou as vozes esganiçadas de outras durante uma sacha. A música tem muitas maneiras de se assistir e de se escutar. Do som mais natural, ao conjunto mais cheio de sons que possam existir. Para o músico, passa pela abordagem a “música de ouvido” e a “música de pauta”, é difícil esquematizar a ideia. Dos géneros musicais mais diversos, até ao encontro da simples harmonia que em nenhum género se enquadra.
Da minha perdição pela terra, há um néctar que dela parte, o vinho. Uma vinha é uma obra de arte que muitas peças e artistas empregou antes de o ser. Nas vinhas velhas, autênticas galerias de arte, cada planta é original, longe dos sistemas intensivos, onde não há videiras iguais, onde haverá admiradores para todas as cepas, tal como quem escolhe um quadro numa determinada exposição. Quanto ao néctar protegido e figurado por Baco bem se pode afirmar a célebre frase de Robert Louis, “O Vinho é poesia engarrafada”, tal como a música é poesia de bandeja, também para todos as escolhas. Não existem vinhos estragados, esses não se vendem, não há má música, há para todos os gostos. Se não aprecio determinado vinho é porque já o degustei, se gosto de folk, de música clássica, jazz, não gosto de rap, de rock, etc., mas por vezes provo.
Tal como o vinho, há décadas atrás existiam uma dúzia de marcas numa garrafeira, hoje temos muitas dezenas, havendo adeptos para todos os tipos de vinho, tal como para todos os géneros musicais. O vinho faz-se na vinha, a música faz-se de um som. Sim, não me venham dizer que o partir de uma simples garrafa não é música, pode é não ser a mais aprazível…
“Sem música a vida seria um erro.” (Friedrich Nietzsche)