O país confronta-se com ausência de estratégia. Sente-se faltar a energia para a reconstruir. Durante quase seis anos vivemos da energia gerada pelo crescimento rápido do turismo, pelos sucessos desportivos dos nossos heróis populares, pela paz social garantida pela “geringonça” e pelo notável consenso e interação positiva entre o Presidente e o Primeiro-ministro.
As ondas da pandemia e o caso de governação quase esgotaram as energias nacionais: a vida parou longos meses, as administrações encerraram, as desigualdades agravaram-se, o assistencialismo foi recuperado com esforçadas e rápidas medidas, mas prevaleceu quase sempre o peixe sobre a cana de pesca, o subsídio sobre o investimento, a limitação dos prejuízos sobre o risco moral da habituação.
Provavelmente, teria de ser assim. Mas não sempre. As novas coletivizações (TAP, transportes públicos subsidiados, habitação pública, torneiras abertas para o SNS) obedeceram mais a generosidade ideológica do que a um plano estratégico.
Os mecanismos de regulação, mal desenhados de nascença, secundarizam, a livre iniciativa, omitem objetivos, metas e sua avaliação regular, ignoram incentivos económicos e suas perversões, minimizam os corretivos, acabando por paralisar a economia, tornando-a dependente do emaranhado legislativo que só os grandes gabinetes sabem, desenvencilhar.
No plano moral, a generosidade social espontânea é consumida em escândalos judiciários, dir-se-ia programados para avalanche temporal.
Urge uma estratégia para saída da crise. Encerrar ou arrefecer a pandemia, extraindo as devidas lições ajustar o PRR a uma espécie de Plano Marshall, com mais investimentos do que subsídios, o mínimo de assistencialismo, recuperando as linhas de força dos semestres europeus, enxertando as inovações de Costa Silva.
No investimento infraestrutural, haverá que concluir o 5G, desatar o nó aeroportuário, ligar Sines por comboio, estrada e adutores ao país e à Europa da energia e das mercadorias, prosseguir a campanha e das mercadorias, prosseguir a campanha das renováveis, cuidar do ambiente e da água, fazendo-os pagar pela indústria, agropecuária, instituições e famílias por preços justo e equitativo. Extrair a industrializar o lítio e cuidar das suas sequelas.
No social, aprendamos com os erros passados, reunindo de novo Saúde e Social, planeemos a saída da erosão demográfica estimulando o investimento na habitação para jovens casais, ensinemos a matemática como fizemos com o inglês, cuidemos melhor das fronteiras. Na administração do território, tenhamos coragem, para passos mais longos, tornemos harmónica a música do quinteto ministerial por quem dividimos os fundos (ou mesmo reduzamos o número de solistas), aproveitemos as boas práticas municipais do tempo de pandemia para dotar autarquias com mais responsabilidade e correspondentes recursos.
Na administração financeira, desconcentremos a gestão para decisores institucionais com mais liberdade, responsabilidade e meios, para não começarem o ano já em anoxia. Planeemos a redução da carga fiscal com metas a 12 anos. Revigoremos a administração pública eliminando seleções fictícias e descredibilizadas por leis ambíguas que as furava desde o início; estudemos, ensinemos e formemos, desde a entrada e ao longo da vida e paguemos melhor, mas com mais exigências, aos que nomeamos para serviços público.
Guardemos esforços de consenso nacional para a política de defesa e para a política externa. Uma e outra devem partir da identificação dos interesses permanentes de um país atlântico de longa história e grande cultura, aberto a todos os continentes vulnerável a todas as pandemias, mas capaz de a todos ajudar, em especial aos que falam a nossa língua.
Xenofobias e racismo combatem-se na vida e não o discurso. Fraternidade entre nações não é um sentimento apenas, mas uma escolha pensada através do consenso sobre os nossos interesses permanentes.