O Abril encerra com as suas mil águas, numa rega abundante aos solos que se vão verdeando ao ritmo de uma criação natural. O alinhamento das plantas geometriza os campos numa demarcação habitual, desenhos originais e heterogéneos numa mancha fundiária bio diversa. Quem os alcança de longe ou em vista encimada é como quem lê folhas dispersas de um livro ilustrado. De perto percorrem-se essas páginas sentindo as texturas, como decalcando parágrafos de muito trabalho, entrega e dedicação. Qualquer obra se constrói nesta trilogia e dela se extrai a colheita.
Plantar e criar é redigir as frases vivas de um romance natural. A personagem central é o Homem, é ele que escreve e protagoniza o enredo com as forças e os recursos do meio. Desse livro talhado de pequenas e grandes áreas, se pode assistir a ganhos e perdas, a objetivos que correm bem, outros mal, a vida é isso mesmo.
Da natureza se absorve o significado mais simples do que é a Liberdade, essa palavra que ganha mais complexidade à medida que se somam outros sentidos. Liberdade de escolha, de pensamento, de expressão. É esse grande valor que soletrado a nove letras se pode descrever simplesmente numa humilde tela, uma aguarela viva onde esvoaçam bandos de pardais, seres planares de um céu sem amarras, rios que correm sem parança, árvores seculares que crescem de ramadas desordenadas, e um indivíduo que segue e sente a liberdade numa seara que deseja ceifar em abundância, vendo nas espigas o grão do seu trabalho sem que o impeçam de continuar.
Cada um terá uma definição sentida e pessoal desta palavra, tão desejada neste país que a decorou de cravos vermelhos num dia diferente de Abril. É forte o sentimento de gratidão a quem conquistou esse acontecimento. Tal como a Terra convida e exige a que se plante e crie para sobreviver, também a partir desse dia se plantaram novas ideias, se amanharam novos projetos, se criaram novos caminhos, tudo por uma colheita de muitos frutos. São estas meras palavras a prova dessa obra de liberdade, que qualquer cidadão, trabalhador, autor e artista deve continuar a respeitar e a gozar livremente.