14 de Novembro de 2024 | Coimbra
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Orlando Fernandes

Semana a Semana: o longo questionário

3 de Fevereiro 2023

O ´mecanismo´ de avaliação dos candidatos a governantes tem um pecado original: foi desenhado à presa em ´cima do joelho´, para aliviar a pressão sobre António Costa e desviar as atenções da série de casos perdoáveis que afetaram e afetam – o Governo, a braços com uma instabilidade inédita.

Foi, aliás visível, o embaraço da ministra Maria Vieira da Silva na conferência de imprensa em que anunciou o novo dispositivo, materializado num longo questionário, para tentar cobrir o desnorte em que caiu o primeiro-ministro, um político calejado, mas que está a pagar a fatura de querer rodear-se, apenas de gente oriunda da corte de fiéis e do seu universo partidário.

Com estas autolimitações à partida, o resultado só poderia ser, como é desastroso, faltando ainda saber quantos governantes atuais sobreviveriam se fossem submetidos às mesmas 36 perguntas.

O PS teve pressa em capturar o aparelho de Estado, incluindo a maioria dos organismos de matriz independente, vocacionado para serem contrapesos do sistema. Costa repetiu, afinal a mesma lógica e a mesma ´receita´ usadas por Sócrates na anterior maioria. Sabemos como acabou.

Quanto Costa ´subiu ao muro´, em 2011 – depois da cambalhota que ´reverteu´ a derrota eleitoral – o PS logrou neutralizar as oposições e ganhar uma hegemonia que fica nas fronteiras de ser ´dono disto tudo´.

Para dar corpo a esse poder, o PS contou com a fraqueza e a cumplicidade dos partidos à sua esquerda e com uma direita perplexa, desde logo, com a incompetência de Rui Rio, líder da oposição por alcunha.

Ao abdicarem do protesto, em nome de uma estratégia oportunista, o Bloco e o PCP cavaram a sua irrelevância.

Consolaram-se na órbita do poder, sentados á mesa do Orçamento. Sonharam alto, até com um ´upgrade´ que lhes permitisse por um pé no Governo.

Resgataram esse erro com a queda a pique nas últimas legislativas, que os forçou a despedimentos em casa, como qualquer patrão aflito com as contas.

O declínio e a menor visibilidade mediática, aguçou-lhe, contudo, o engenho.

Enquanto o novo líder do PCP, Paulo Raimundo, já se oferece para entrar no Executivo, com a treta da “alternativa patriótica e de esquerda”, Catarina Martins, à falta de melhor, decidiu aproveitar a alma de atriz para reinventar-se em podcasts, convidando para começar, ex-ministros socialista desejosos de palco.

Claro que tais podcasts servem o objetivo único de provocar ´ruído´, que sirva para tirar o partido do desalento em que se encontra.

Catarina sobreviveu ao desaire nas urnas, sem nunca ter tirado as consequências, ao contrário de Louça, em 2012, que renunciou à liderança em circunstâncias idênticas.

Por seu turno, o PCP ao escolher para secretário-geral um antigo funcionário do partido, apostou no carreirismo mais fiel à ortodoxia dominante.

Na altura, até Arménio Carlos, um sindicalista que se presumia candidato a sucessor de Jerónimo (tal como João Ferreira ou Bernardino Soares), não se conteve, mostrando-se desiludido com a opção do comité central, uma “surpresa” para a “generalidade dos militantes”.

Por isso, e aproveitando os embaraços no PS, o PCP ´pisca o olho´ a Pedro Nuno Santos – a quem manifestamente, quer encorajar para ser o futuro líder socialista -, tão cedo António Costa decida ´meter os papeis para a reforma´.

No meio deste imbróglio, que fez o líder da oposição? É verdade que Luís Montenegro endureceu o discurso e passou a estar mais atento às histórias do dia.

Infelizmente, porém, o PSD não escapou ileso e tem, também, os seus ´telhados de vidro´, envolvendo, designadamente, o ex-vice-líder parlamentar, Pinto Moreira, investigado sobre o período em que foi autarca em Espinho.

Montenegro tentou aproveitar uma entrevista na SIC, em ´prime time´, para se antecipar aos efeitos da borrasca. Mas depressa se apercebeu que o convite estava inquinado, saindo-lhe na ´rifa´ um entrevistador, mais apostado em massacrá-lo do que em ouvi-lo.

Se não quiser ser outro líder, de passagem, Montenegro terá de mostrar que tem fibra, e impor-se na agenda política, sem esperar que o Governo apodreça por dentro.

Os portugueses agradecem.

 


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