São dezenas de idosos, em que a idade é apenas um número e a vontade de aprender e de estar ativo ainda está bem viva na vida destas pessoas. Semanalmente deslocam-se ao espaço da antiga Junta de Freguesia de São Bartolomeu, situada na rua Fernão de Magalhães, em Coimbra, cedido pela União das Freguesias de Coimbra, para participar nos diversos ateliês dinamizados pelo projeto “Oficina dos Avós”, da Associação das Cozinhas Económicas da Rainha Santa Isabel. Desde a costura à informática há sempre algo para aprender.
Nunca é tarde para aprender e a verdade é que cada vez mais a população sénior quer saber mais, estar ativa e conviver com outras pessoas. Nesse sentido, Teresa Sousa criou o projeto “Oficina dos Avós”, “que vem colmatar a falta de respostas para as pessoas idosas que são autónomas e ágeis”.
“Esta ideia surgiu no âmbito da intervenção que já é feita pela Associação das Cozinhas Económicas da Rainha Santa Isabel (ACERSI), uma instituição criada em 1933, com um refeitório social, no entanto faltava a tal resposta para as pessoas que ainda têm capacidades de desenvolver atividades”, explica a promotora.
Assim nasce, em 2019, através do apoio do BPI da Fundação “La Caixa”, a Oficina dos Avós, da Associação das Cozinhas Económicas Rainha Santa Isabel, que visa “promover o envelhecimento ativo e o bem-estar de cada participante”.
A iniciativa contempla um conjunto de ateliês, desde aulas de informática e Internet, costura (“Linhas e Agulhas”) ao “Yoga na Oficina”, dirigido a todas as idades, onde o requisito principal é a vontade de aprender e saber ler e escrever. As lições de informática decorrem às segundas-feiras e quartas-feiras, das 14h00 às 16h00 e das 16h00 às 18h00. Já o Atelier de “Linhas e Agulhas” funciona às terças-feiras e quintas-feiras das 14h30 às 17h30, enquanto o de “Yoga na Oficina” acontece às sextas-feiras, pelas 11h30.
“Houve também interesse por parte dos participantes em aprender mais sobre o funcionamento do telemóvel, pelo que iniciámos também aulas nesse sentido, indo ao encontro das necessidades e interesses dos idosos”, esclarece Teresa Sousa, afirmando que já chegaram a ter mais de 60 participantes nos diversos ateliês.
Nas aulas de costura, por exemplo, “chegaram a ser transformadas diversas peças de roupa que deram lugar a um “desfile de moda” no Pavilhão Centro de Portugal, onde as participantes desfilaram e foi um verdadeiro sucesso”, conta a mentora do projeto, que ambiciona “fazer a diferença na vida das pessoas e que se integrem na “família” da Oficina dos Avós para que tenham um envelhecimento feliz, saudável e ativo”.
O gosto em aprender
“O Despertar” foi conhecer e ver de perto como decorrem os ateliês e foi no decorrer de uma aula de informática que encontrámos Maria Marques, da Pedrulha. Com 65 anos decidiu inscrever-se nesta iniciativa “para ocupar o tempo e para aprender”.
“Já sou reformada e tem sido muito bom participar, pois aprendemos, convivemos e não estamos fechados em casa”, acrescentou.
Naquele dia, conta Maria Marques, estavam a aprender a utilizar o telemóvel, desde saber tirar uma fotografia, a fazer chamadas e até escrever e mandar e-mails. Além da informática, a “aluna” também está inscrita no ateliê de costura e revela que já transformou e costurou “peças de roupa, sacos de praia”, entre muitos outros.
Mas Maria Marques não veio sozinha e trouxe o seu irmão António Rosinhas, de 62 anos, também residente na Pedrulha. “Queria aprender mais coisas sobre o funcionamento do computador e relembrar os conhecimentos que já tinha e já aprendi muitas coisas, por exemplo, no telemóvel havia definições que não sabia mexer e agora já sei, assim como no computador”, refere muito entusiasmado e com vontade de saber cada vez mais sobre o mundo das tecnologias.
Com 73 anos, Maria Bernardo, residente em Coimbra, confessa que se sentia desatualizada, uma vez que “atualmente tudo se faz através das novas tecnologias”, pelo que “precisava de estar atualizada”.
“A própria Câmara, por exemplo, publica todos os eventos na Internet e deixou de ter a agenda em papel e ficou difícil para mim ter conhecimento do que se dinamizava em Coimbra, daí me ter inscrito para aprender a utilizar os novos equipamentos”, explica a participante, que desvenda já ter aprendido muitas coisas novas, como pesquisar na Internet sobre os assuntos que lhe interessam.
Quem também conhecemos ali foi um casal muito bem disposto. Afonso Brás, de 71 anos, e Fátima Simão, de 70 anos, residentes em Coimbra.
“Vim para aprender, não foi para vir passar o tempo e na informática vim sem saber nada e já estou no nível II”, conta a aluna enquanto o esposo acrescenta que veio para aprofundar os seus conhecimentos de informática.
O casal afirma sentir-se “satisfeito e feliz” com todas as aprendizagens adquiridas até ao momento. “Estas iniciativas são muito importantes e já andava há vários anos a procurar um sítio onde pudesse aprender e estou a gostar muito de estar aqui”, sublinha Fátima Simão.
A Oficina dos Avós é um projeto concretizado em parceria com a União das Freguesias de Coimbra, que cedeu o espaço para dinamizar os ateliers, em conjunto com a Faculdade de Psicologia de Coimbra, com a Associação de Cooperação para o Desenvolvimento (ATLAS) e com a Associação Nacional de Gerontologia Social (ANGES).
Além desta iniciativa, a ACERSI está a relançar o projeto “Abraço de Gerações”, também suspenso em consequência da pandemia da covid-19, que é nada mais, nada menos do que uma ideia que promove a relação intergeracional, em parceria com a Associação Académica de Coimbra. Trata-se de uma ação que consiste “em alojar o estudante académico em casa de um idoso, em que não paga o alojamento, apenas comparticipa com as despesas básicas, e que este lhe faça companhia e de acordo com a sua disponibilidade acompanhe o idoso no que for necessário”.
“É uma forma de potenciar os laços intergeracionais”, remata Teresa Sousa.