E de repente, no intervalo das canções, surgem tabuleiros com taças de alvo arroz doce feito e servido por mãos trigueiras da cor da canela que o polvilha, para venda, aumentando a receita a favor do povo de Moçambique. Foi nesta última terça à noite em que o Salão da Associação de RIBAS (MOINHOS DA GÂNDARA) encheu para receber o espetáculo de SOLIDARIEDADE COM MOÇAMBIQUE, uma iniciativa da ASSOCIAÇÃO DE INOVAÇÃO E TRADIÇÕES, EM-CANTOS, com sede em CUNHAS e que conheci recentemente através de um dos seus membros, o professor JORGE VENTURA, a propósito do CD do Grupo que tem o título ESTENDAL.
Xácaras e arroz doce a ajudar nos amargos de boca dos milhares de sofridos moçambicanos da Beira. Toda a Gândara de terras arenosas e também de séculos sofrida, onde o Homem aprendeu a tratar por tu a adversidade, parece ter dado à costa em Ribas. Foi uma onda gigante de solidariedade, interajuda, talento e humanismo. Como se os moinhos voltassem a voltear-se moendo o trigo da esperança no rodar do semear e colher como no-lo diz a canção RESTOLHO da Mafalda Veiga que foi entoada pelo Padre NUNO FILIPE FILENO: “Mas é preciso morrer e nascer de novo/Semear no pó e voltar a colher/Há que ser trigo, depois ser restolho/Há que penar para aprender a viver//”.
Em poucos dias, na espuma da dor moçambicana, naquele amargoso penar, a Equipa do Grupo EM-CANTOS e das Escolas de Música e Dança aparelharam os instrumentos musicais e as vontades, os novos e os menos novos, mãos que se deram com a fluidez poética, popular e sábia das quadras do Aleixo. E foram, eito-fora, ajudar aqueles meninos “SEM CONDIÇÃO” irmãos de todos os nus saídos da garganta do Zeca de um Bairro Negro, mas que não o era de negritude, mas sim de infelicidade. Como no-la cantou CLÁUDIO MATEUS. Sem pretensiosismos, apenas mergulhada na ânsia enxuta de ajudar, esta FESTA DE RIBAS E DOS EM-CANTOS transformou-se quase numa narrativa épica em que alguns deram de forma singela, porque se DERAM, muito aos milhares de irmãos moçambicanos que lá longe, envoltos na crueldade da intempérie, nem sequer conseguem imaginar a filigranada magia da dádiva deste grande e aflito coração gandarês povoado de fantasmagóricas adivinhações (ai, CARLOS DE OLIVEIRA, poeta gandarês bebido pelos Trovante) e de reais doses de humanismo fraterno e mui sentido. As mulheres da Gândara não vieram à festa com os seus típicos chapéus pretos, nem caixoné; nem xailes negros de 8 pontas de merino; elas vieram, maternalmente ansiosas e com arroz doce no regaço, para ajudarem os mininos do lado de lá do Índico, tão longe nos mapas, mas tão pertinho na cartografia do coração lusitano que continua a ver em MOÇAMBIQUE um irmão.
Desfilaram, além dos já enunciados e do Grupo anfitrião EM-CANTOS, que de facto encanta em todos os aspetos do virtuosismo interpretativo à beleza do trajar e na doçura das moçoilas, cantores e canções apresentados por NÉLIO OLIVEIRA: os CEPA, ANA PAULA & FREITAS, RICARDO SILVA e TIAGO CORDEIRO nas cordas das guitarras, tal como o Grupo TONALIDADES, o rock de KAZÉ GIL, os AMADORES, JACINTA SILVA (ui, que voz fabulosa que não conhecíamos) e os BALUARTE com medievas sonoridades nalguns temas e com as vozes consagradas de SARA TAVARES e CLÁUDIO DIAS, além de um giríssimo Grupo de Dança, GÂNDARA GENERATION. E também foi citado MIA COUTO, pois claro! É referência natal daquelas paragens índicas de rios e savanas: escritor premiado internacionalmente: “Os desafios são maiores que a esperança? Mas nós não podemos senão ser otimistas…O pessimismo é um luxo para os ricos”. CÉLIA OLIVEIRA, presidente da Junta, regozijou-se com a Noite; o Vereador das Coletividades, MIGUEL PEREIRA, enalteceu os presentes e agradeceu a RICARDO PEREIRA, presidente da Associação e ao Representante da CRUZ VERMELHA, fiel depositário da verba obtida e a ser entregue em Moçambique… numa noite de entrega humanitária com belíssimos e dulcíssimos sons e pessoas de CORAÇÃO GRANDE. Inovar e Manter as Tradições: os nossos aplausos, meus Dinâmicos Amigos. ENCANTARAM-ME.
Obrigado.
“KANIMAMBO”.