2 de março de 1917. “O Despertar”, o “modesto jornal de província”, apresenta-se à “encantadora” e “formosa princeza do Mondego”, prometendo “empenhar o melhor dos seus esforços” em sua defesa. Assumia-se, sem medo, como um periódico “simples”, “despretensioso” e “humilde”, sem certezas de como seria recebido mas, apesar disso, determinado a traçar a “aspera estrada do dever”, a confiar no futuro e a, se assim tivesse que ser, “morrer com honra”.
Não sucumbiu! Chegou na segunda feira, 2 de março, aos 103 anos. Um feito notável que honra aquele grupo de amigos que em 1917, quando se viviam períodos conturbados, ousou abraçar este projeto editorial, “despertando” Coimbra e a região numa altura em que eram ainda muito poucos os jornais existentes.
Decorridos 103 anos aqui se mantém, nunca tendo interrompido até hoje a sua publicação e orgulhando-se de integrar o grupo restrito – cerca de três dezenas e meia – dos jornais centenários portugueses.
Apesar de todas as mudanças sociais ocorridas ao longo da sua história, foi conseguindo ultrapassar as dificuldades surgidas, fruto do trabalho incansável de todos aqueles que fizeram parte deste projeto, desde as várias Direções, aos muitos colaboradores, sem esquecer os seus Assinantes e Anunciantes.
Nasceu na Baixa de Coimbra, na Rua Pedro Rocha, a caminho do Pátio da Inquisição. Foi aí que fez praticamente todo o seu percurso, com as oficinas abertas e apelativas, que despertavam a curiosidade daqueles que por aquelas ruas se deslocavam. Nos inícios de 2015 mudou-se para a Rua Adriano Lucas, na Estrada de Eiras, onde se mantém até hoje. Mas, esse elo umbilical com a Baixa da cidade, será eterno. As oficinas e a redação já não existem, o prédio foi vendido e está a ganhar nova vida. Não perderá, contudo, a memória do passado, continuando a ostentar, nas paredes agora rejuvenescidas, as memórias e a história, traduzidas nas placas alusivas a alguns dos marcos mais importantes da vida deste jornal (nomeadamente o 50.º e o 75.º aniversário, anos em que foi distinguido pela Câmara Municipal da altura). Um gesto repleto de simbolismo, que preserva a memória e que, por isso, não podemos deixar de enaltecer e agradecer a quem, apostando no futuro sem esquecer a história, permitiu que este património se mantenha no lugar onde pertence, no edifício onde o projeto nasceu.
Hoje, ao celebrarmos estes 103 anos, evocamos todos aqueles que fizeram parte dessa história. Seriam muitos para os enumerarmos todos aqui mas há nomes que não podem ser esquecidos, a começar pelo seu fundador, João Henriques. Após a sua morte, sucedeu-lhe o filho, Mário Henriques, que acabaria também por falecer poucos anos depois. Quando se temiam anos difíceis, António de Sousa surge como “o salvador”, assumindo este projeto que acabou por se manter na família até inícios de 2008. Os filhos, António, Armando, Artur e Lúcia, deram-lhe sequência, com o jornal a envolver toda a família, incluindo o neto, Fausto Correia, que era seu diretor por ocasião da sua morte, a 9 de outubro de 2007. Após a sua morte, Lino Vinhal mostrou que a amizade é um compromisso que vai para além da vida e manteve vivo o jornal, como era desejo do amigo. A ele se deve a continuidade de O Despertar, num percurso que teve o seu ponto maior em 2017, precisamente a 2 de março, quando celebrou o primeiro centenário, iniciando então um novo caminho, rumo aos próximos cem…