“O Despertar: Um século de história 1917-2017 [Pessoas, Factos e Causas]”. É este o título do livro que eterniza a história dos primeiros 100 anos de vida deste nosso jornal. Um livro com gente dentro, recheado de factos e causas, que mostra a força da cidade e da região.
Da autoria do historiador João Pinho e editado pela Câmara Municipal de Coimbra, este livro foi lançado na sexta feira, no Dia Mundial do Livro e dos Direitos de Autor mas também no dia em que, em Coimbra, se iniciaram as comemorações dos 47 anos da Revolução dos Cravos. Duas datas, portanto, repletas de simbolismo e que tanto têm a ver com esta missão nobre que é a da imprensa regional.
A Sala Almedina, no belo Convento São Francisco, foi o palco escolhido para esta sessão. Apesar das limitações impostas pela pandemia, e dos cuidados a que obriga, a sala encheu-se de gente nesta apresentação do livro de “O Despertar”, uma cerimónia onde foi recordado o longo percurso deste jornal, as várias gerações que o ajudaram a construir e a afetividade que este título transporta.
Foram todas estas gerações que o presidente da Câmara Municipal de Coimbra, Manuel Machado, começou por evocar ao falar da vida de “O Despertar”, um projeto centenário que, como disse, “associamos a várias causas de Coimbra” e que só se tornou possível porque “houve pessoas que ao longo deste século tiveram a força, a energia, a capacidade, a determinação e a vontade de assumir o jornal”.
“É de toda a justiça salientar aqui todos os que ao longo do tempo se empenharam em fazer despertar para as coisas e para as causas de Coimbra, com determinação, com dedicação, com esforço”, sublinhou, elogiando o trabalho de todos os que passaram pelo jornal desde a sua fundação mas deixando uma palavra muito especial a Lino Vinhal e família (que assumiu o projeto após o falecimento de Fausto Correia, falecido a 9 de outubro de 2007), mas também “à família Sousa e família Fausto Correia”. Agradeceu, no fundo, “a todos aqueles que ajudaram a manter a chama viva de ‘O Despertar’”, sem esquecer o autor da obra, João Pinho, parabenizando-o “pelo seu trabalho que resulta num documento histórico para a cidade de Coimbra”, que sintetiza um século de vida do jornal e que é um testemunho vivo dos principais acontecimentos que marcaram os últimos 100 anos na cidade e região.
Lino Vinhal, Diretor-Geral de “O Despertar”, não escondeu a emoção no lançamento desta obra que tão aguardada e desejada era por todos aqueles que vivem e sentem este projeto. Recordou, também, “as várias centenas de colaboradores que por aqui passaram ao longo destes 100 anos, gente imensa que tanto deu a ‘O Despertar’”, deixando uma saudação muito especial a todas as gerações que o trouxeram até aos 104 anos, completados a 2 de março.
“Chegámos”, sublinhou, evocando o desejo do amigo Fausto Correia de chegar ao centenário, um sonho que lhe foi “roubado” mas que, fruto do poder da amizade, não permitiu que morresse mesmo após o seu prematuro desaparecimento. Dirigindo-se à viúva e filhos, ali presentes, recordou o “homem que ao longo da vida tanto deu a Coimbra” e a este projeto.
Lino Vinhal agradeceu também à Câmara Municipal de Coimbra, instituição que também faz parte da história deste século, tendo estado sempre presente, como sucedeu, por exemplo, nalguns dos seus grandes momentos (como nos 50, 75 e 100 anos).
“’O Despertar’ foi muito mais do que um jornal. É, no fundo, o coletivo de Coimbra, onde grande parte da história da cidade está escrita. Sem o jornal é impossível descrever a história de Coimbra”, realçou, enaltecendo a importância que este livro tem e agradecendo a Manuel Machado e à Câmara a que preside por este legado.
Neste dia de celebração para “O Despertar”, agradeceu também ao historiador João Pinho, por reunir nesta obra “pedaços de história” tão importantes, e ao jornalista Jorge Castilho, que apresentou o livro mas que faz parte da história da imprensa regional e que teve também sempre uma forte ligação afetiva com Lino Vinhal e Fausto Correia.
Sobre o percurso já percorrido, assegurou que “’O Despertar’ não chegou aqui arrastando-se” mas sim “com a genica e com a força de quem está a começar”. Sempre de olhos postos no futuro, brincou com os 200 anos e assegurou que, enquanto a vida o permitir, “’O Despertar” despertará todos os dias”.
Um exemplo a seguir por outros municípios
Fausto Correia foi mesmo o “elo de ligação” nesta sessão que teve como protagonista a história de “O Despertar”. Jorge Castilho também o recordou, bem como às famílias Sousa e Henriques. Elogiou a “investigação cuidadosa e séria” de João Pinho e agradeceu à Câmara Municipal de Coimbra por esta obra que homenageia este “jornal centenário do seu concelho”, um exemplo que, no seu entender, deve ser seguido por outros autarcas do país.
Jorge Castilho apelou mesmo a Manuel Machado que, enquanto presidente da Associação Nacional dos Municípios Portugueses, possa sugerir aos presidentes das Câmaras das localidades onde também há jornais centenários para que apoiem os jornais locais, já que são “testemunhos da construção da história dos lugares, das cidades, do país”.
Recordou também o trabalho que a Associação Portuguesa de Imprensa (API), a que pertence, tem vindo a fazer no sentido de valorizar e promover estas publicações portuguesas (cerca de três dezenas e meia) que merecem “um especial carinho”.
Jorge Castilho evocou o longo percurso do jornal “O Despertar”, tão bem retratado neste livro, não esquecendo também um pouco da história da imprensa na cidade e a sua importância.
Coube ao autor do livro encerrar a sessão de lançamento do livro “O Despertar: Um século de história 1917-2017 [Pessoas, Factos e Causas]”, precisamente a sua 17.ª obra. João Pinho congratulou-se pela sala cheia, apesar da pandemia e das restrições obrigatórias, um facto que “prova a força da cultura e do livro, desta cidade e do periodismo”.
“Este é um dia muito especial. Não por ser o autor do livro de ‘O Despertar’ mas porque hoje se honra a história e a memória de gerações de homens que tudo deram de si em prol de uma imprensa livre, regionalista, republicana e tantas vezes, diga-se, contra a corrente”, destacou, comparando a “uma viagem náutica” esta digressão que fez por estes 100 anos de história do jornal. Recordou também a sua “origem, expansão e afirmação”, desde o início com João Henriques, passando pelos anos da família Sousa até chegar a Lino Vinhal que, como sublinhou, “viabilizou a continuidade de um projeto editorial ímpar, depois da tragédia inesperada com o desaparecimento de Fausto Correia, uma personalidade multifacetada, de afetos e causas, que tinha em ‘O Despertar’ a sua menina dos olhos, onde publicou o primeiro artigo de opinião ainda jovenzinho”.
Afeto e dedicação a uma mesma causa
João Pinho deixou, ainda, uma palavra especial a todos os “funcionários e colaboradores dedicados” que passaram pelo jornal, que “sentiam o pulsar da cidade e da região vertida nas páginas onde semanalmente foi sendo tecida a história da nossa terra, das suas gentes, nos mais diversos artigos e secções”. Deixou um cumprimento especial a Manuel Bontempo (a caminho dos 70 anos de colaboração mas que, por motivos de saúde, não pôde estar presente) e a João Baptista, dois dos seus colaboradores mais antigos, e também ao mais novo, o jovem Vasco Francisco, estes dois últimos presentes no lançamento.
Terá havido algum segredo para a longevidade de ‘O Despertar e para ter sobrevivido, por exemplo, a duas pandemias? João Pinho acredita que sim e arrisca mesmo uma resposta – “foi o triunfo de um sentimento de família” que foi perpassando, ano após ano, década após década, “contagiando funcionários, colaboradores, assinantes e amigos, estendendo esse abraço fraterno e solidário a toda a cidade, ao Município e suas freguesias, à região que orgulhosamente vem defendendo, que nunca lhe regateou apoio e que sempre se disponibilizou a apoiar uma causa comum, identitária e memorialística de matriz claramente regionalista”.
Deixou ainda um repto para o futuro: “Nenhum de nós chegará ao bi-centenário de ‘O Despertar’ mas a todos cabe a responsabilidade cívica de o ajudar nesta caminhada impressionante que já vai em 104 primaveras. Penso que, mais do que um jornal, estamos perante um monumento da imprensa contemporânea”, sublinhou.
De referir ainda que esta cerimónia, tão marcante na história e na vida de “O Despertar”, contou com a presença de várias personalidades da cidade, merecendo um especial destaque a forte representação do Executivo camarário, tendo estado presentes, para além do presidente, o vice-presidente, Carlos Cidade, as vereadoras Carina Gomes, Paula Pêgo e Ana Bastos e, ainda, Francisco Paz, diretor do Departamento de Cultura. Destaque, também, para a presença do vice-reitor da Universidade de Coimbra, João Nuno Calvão da Silva; dos presidentes de Junta de Santo António dos Olivais, União de Freguesias (UF) de Coimbra e UF de Santa Clara e Castelo Viegas, respetivamente Francisco Andrade, João Francisco Campos e José Simão; do presidente da API, João Palmeiro; da esposa e filhos de Fausto Correia, Lurdes, Miguel e Pedro Correia; da esposa e filha de Lino Vinhal, Fátima e Lina Vinhal; de vários dos nossos colaboradores, entre muitos outros amigos que se associaram a esta sessão.