A situação socioeconómica e também emocional dos doentes oncológicos e dos seus cuidadores tem-se vindo a agravar devido à pandemia. Um estudo realizado pela Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC), que envolveu perto de um milhar de doentes/sobrevidentes e quase 400 cuidadores, revela que durante a pandemia um em cada 10 doentes e cuidadores sofreram um relevante impacto socioeconómico e que um em cada dois doentes apresentou sofrimento emocional significativo.
Esta análise mostra que a pandemia tem agravado a situação socioeconómica de muitos doentes oncológicos, assim como os tem deixado mais frágeis a nível emocional, perante a ansiedade e insegurança própria da doença e também dos constrangimentos que a covid-19 trouxe. A LPCC sensibiliza, por isso, para a necessidade de se reforçarem os programas de apoio e doentes e cuidadores, pelo menos neste período mais difícil.
Consciente das dificuldades com que os doentes se deparam, a Liga tem procurado ajudar, através de várias respostas, sendo de destacar o reforço do apoio psicológico especializado que assegura nas Unidades de Psico-Oncologia que tem no país.
A nível regional, desde que esta Unidade foi criada, em 2009, realizaram-se 7.228 consultas a 1.421 utentes, 59 por cento dos quais doentes e 41 por cento familiares/cuidadores.
Já este ano, no início de fevereiro, o Núcleo Regional do Centro (NRC) reforçou este apoio a nível psicológico, tendo em conta que, neste período de pandemia, é natural que os doentes se sintam “tristes, ansiosos, confusos e até revoltados”. Natália Amaral, secretária-geral do NRC, explicou que estas consultas “são gratuitas e estão disponíveis tanto presencialmente como em regime de teleconsulta”, cabendo ao doente e ao psicólogo decidir o que é melhor para cada caso. As consultas estão disponíveis em todas as capitais de distrito da região Centro – Aveiro, Castelo Branco, Coimbra, Covilhã, Guarda, Leiria e Viseu –, podendo ser marcadas através do telefone 239 487 490 ou do email nucleocentro@ligacontracancro.pt, sendo agendadas “quase de imediato”.
O estudo agora realizado mostra ainda que “um em cada 10 doentes e cuidadores sentiu bastante a muitíssima dificuldade em pagar as despesas familiares durante a pandemia covid-19, indicador que demonstra o relevante impacto socioeconómico da pandemia nestes doentes”. Revela, também, que 72 por cento dos doentes e 76 por cento dos cuidadores sentem-se bastante a muitíssimo preocupados com a pandemia, sobretudo com o impacto desta na continuidade do tratamento e evolução da doença”. Estes números permitem concluir que “um em cada dois doentes apresentou sofrimento emocional significativo”, podendo ter maior risco de desenvolver problemas psicológicos. Os números dão conta que “30 por cento dos doentes oncológicos e 42 por cento dos cuidadores manifestam ansiedade significativa e que 18 por cento dos doentes oncológicos e 22 por cento dos cuidadores manifesta depressão significativa”.
A informação que serve de base a este estudo – transversal, descritivo e inferencial – foi recolhida através de um questionário elaborado pela equipa de psicólogos da LPCC. As respostas foram obtidas através do website institucional, www.ligacontracancro.pt, tendo sido cumpridos todos os pressupostos de proteção de dados. O questionário esteve disponível online entre os dias 2 de julho e 18 de novembro de 2020. A amostra foi constituída por 948 doentes oncológicos/sobreviventes de cancro e por 378 familiares/cuidadores, com mais de 18 anos e residentes em Portugal.