O centenário Grémio Operário de Coimbra, que estava fechado desde os anos 1990, foi reativado por uma associação que pretende transformar aquele que foi em tempos o espaço de ensaios de Zeca Afonso numa espécie de “incubadora de artes”.
Fundado em 1887, o mesmo ano em que nasceu a Associação Académica de Coimbra, o Grémio Operário foi um importante espaço cultural na Alta da cidade, acolhendo bailes, teatros cantados e pequenas operetas, mas também apresentações dos grupos universitários da cidade, contou à agência Lusa o presidente da Associação Cultural Recreativa e Memória Grémio Operário de Coimbra, Miguel Matias.
Naquele que era um espaço muito ligado à parte ‘futrica’ da cidade, passou também a cooperativa Bonifrates e Zeca Afonso, que morava poucos metros abaixo no n.º 12 da Rua da Ilha, junto à Sé Velha, e que por lá ensaiava.
Dentro do Grémio Operário de Coimbra, ainda está guardado um busto do autor de “Vampiros”, assim como placas comemorativas da coletividade e algumas pinturas.
Por lá, mantém-se também o pequeno palco nas cores originais, em tons de azul, amarelo e rosa, que chama a atenção.
“Apenas pintámos com as mesmas cores que tinha”, salienta Miguel Matias.
O presidente da associação, que também é gerente do Be Coimbra, projeto com residências para estudantes Erasmus, decidiu avançar com o projeto, juntamente com mais um grupo de amigos ligados à programação cultural em Coimbra, quando surgiu a oportunidade de alugar o espaço à Diocese, proprietária do edifício.
O pai de Miguel tinha sido diretor da coletividade nos anos 1970 e as memórias de ir em miúdo aos “famosos bailes do Grémio” apenas atiçaram mais a vontade de avançar com o projeto.
O espaço acabou por ser arrendado com o compromisso de reabilitação do Grémio, recuperando também o andar de cima, com nove quartos, que estarão concluídos no início de agosto e que tanto irão servir para residências artísticas, como para alojamento local, vertente que irá garantir a sustentabilidade do projeto cultural, explicou.
Depois de ter recebido vários eventos desde março, a associação arrancou neste mês com uma programação mais regular, dinamizando um ciclo de cineconcertos e outro dedicado às músicas do mundo, assim como acolhendo outras iniciativas.
“Queremos um posicionamento como uma incubadora de artes. Tudo o que são projetos emergentes ou que não tenham espaço para se mostrarem terão aqui o seu primeiro espaço, seja em que área for”, realçou Miguel Matias.
O grupo, que conta ainda com Pedro Seixas, Catarina Pires e Rosa Balreira, está já a desenhar a programação para o resto do ano.
Em setembro, o Grémio vai realizar o Festival Ilha 12, que deverá ser anual e pluridisciplinar, assim como um ciclo de cantautores integrado na iniciativa.
Em dezembro, espera fazer regressar o concurso de bandas de garagem “Só Roque”, disse Pedro Seixas, da equipa, salientando ainda uma vontade de apresentar a Coimbra “o circuito do humor” e garantir duas noites mensais de ‘stand up comedy’.
Segundo Pedro Seixas, o Grémio não pretende posicionar-se como uma sala de espetáculos de Coimbra, salientando que a equipa tem procurado sempre “estabelecer um diálogo” com os vários agentes e espaços culturais da cidade, por forma a trabalhar em parceria, e sempre de portas abertas para propostas nas mais diversas áreas.
Mais para a frente e com a pandemia ainda mais controlada, o Grémio pretende ter programação ainda mais regular.
“Com o regresso do turismo podem criar-se mais dinâmicas e ser uma coisa quase diária”, salientou Miguel Matias.
Por agora, estão ainda previstas as atuações no ciclo Alta World Music, que começou em 8 de julho, de Chaló Correia, em 6 de agosto, e dos italianos Cucoma Combo que navegam pelo afrobeat, em 27 de agosto.
A programação do espaço pode ser consultada em facebook.com/pg/gremiooperario.coimbra.