21 de Janeiro de 2025 | Coimbra
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Gaiteiros “Os Katembas” assinalam 20 anos de atividade

6 de Dezembro 2024

A Catemba é uma bebida que nasceu na ex-colónia portuguesa Angola e que foi trazida para Portugal, no pós-Guerra Colonial, pelos chamados “retornados”. O seu consumo tornou-se, rapidamente, habitual nas vilas e aldeias, sobretudo, do centro do país. É essa recordação, ainda tão viva na memória de Rodrigo Leston, que dá nome ao grupo de gaiteiros bairradino que, este ano, assinala duas décadas de atividade.

“Por norma, consumíamos essa bebida. Eu propus o nome e acabou por ficar. Achei que era diferente e que tinha a ver connosco”, revela Rodrigo Leston, fundador de “Os Katembas”, em declarações ao “O Despertar”. Assim, há 20 anos, o “C” da Catemba deu lugar ao “K”, como forma de tornar a denominação ainda mais original.

Apesar da aventura destes gaiteiros se ter iniciado em 2004, o percurso de Rodrigo Leston começou muito antes disso. Com apenas oito anos, foi para a Filarmónica da Pampilhosa aprender a tocar Requinta. O gosto pela música foi-se adensando, o que o levou a querer explorar novos instrumentos. Um dia, descobre a Gaita de Foles e, com ela, nasce a vontade de fazer mais e melhor. É desta forma que Rodrigo Leston decide formar um grupo seu: os Katembas.

 

O início do sucesso

Aquando a sua formação, os Katembas eram compostos por Rodrigo Leston (Gaita de Foles), Daniel Vieira (Caixa de Percussão) e Luís Almeida (Bombo). No entanto, estes nomes foram-se alterando com o passar dos anos, devido às circunstâncias pessoais e profissionais dos respetivos elementos. Assim, nas últimas duas décadas, já passaram cerca de 20 pessoas pelo grupo. Em contrapartida, há uma que se mantém até aos dias de hoje: a que deu vida aos Katembas.

“Nunca desisti do grupo. (…) Sempre fui o elo de ligação de todos os elementos que passaram pelo projeto”, conta Rodrigo Leston. O fundador admite ainda que não se imagina sem este grupo que tanto tem dado ao centro do país. “Aqui, na região Centro, está muito enraizada esta questão dos gaiteiros a animar as festas das aldeias”, explica.

Apesar dessa ter sido sempre uma realidade, Rodrigo Leston não tem dúvidas de que, nos últimos vinte anos, o número de projetos deste género tem vindo a crescer substancialmente. “Atualmente, eu diria que existem mais de 100 grupos de gaiteiros aqui na zona Centro”, adianta. Uma evolução que pode ser justificada com o facto desta ser uma profissão versátil.

“O gaiteiro é chamado para muitas situações (…) É muito mais fácil contratar um gaiteiro, porque não é preciso sistema de som nem aparelhagens. Nós chegamos ali, tocamos e é muito mais prático. Somos genuínos”, sublinha Rodrigo Leston. Nesse sentido, – e porque a procura continua a ser superior à oferta -, o responsável garante que os Katembas nunca foram prejudicados pelo crescimento da concorrência. “Eu acho que terem nascido mais grupos não foi sinónimo de termos menos atuações”, afirma.

 

“Somos um grupo eclético”

Atualmente, para além de Rodrigo Leston, os Katembas são também constituídos por Zé Raimundo (Caixa de Percussão) e Zé Albuquerque (Bombo). Estes últimos, chegaram ao projeto há oito anos, sendo que o fundador não poderia estar mais satisfeito com o trabalho que tem sido feito. “Damo-nos bem e as pessoas gostam da nossa dinâmica”, salienta.

Classificando-se como “um grupo eclético”, os Katembas tocam todo o tipo de música e em qualquer lugar: desde arruadas, a procissões e até casamentos. “Por ano, fazemos cerca de 100 participações em eventos. Há uma recetividade muito grande das aldeias. Cada vez mais, eu costumo dizer que não há festa sem gaiteiro”, desvenda Rodrigo Leston.

E se, no passado, havia algum estigma em relação a estes profissionais, nos dias que correm esse preconceito parece estar a desvanecer-se. “Antigamente, os gaiteiros eram muito associados a pessoas que tinham pouca formação escolar. Entretanto, houve uma evolução brutal”, recorda. Uma progressão que se fez sentir também ao nível dos instrumentos. “Hoje, existem Gaitas eletrónicas. Isto era algo impensável há uns tempos atrás”, acrescenta.

 

A fiel amiga

Pertencente à família dos aerofones, a Gaita de Foles é composta por, pelo menos, um tubo melódico e um insuflador mediado por uma válvula, ambos ligados a um reservatório de ar. Pela sua particularidade, esta “acaba por ser diferente dos outros instrumentos”, o que, na opinião de Rodrigo Leston, a torna muito especial.

“Há pessoas que vêm ter comigo para lhes ensinar a tocar”, revela. Contudo, engane-se quem pensa que esta é uma atividade fácil de aprender. “É preciso ter uma certa força e jeito para a coisa. Requer os seus tempos de aprendizagem”, alerta.

Certo é que a sua peculiaridade e sonoridade característica ajudaram muitas pessoas a enfrentar, com mais leveza, os tempos cinzentos da pandemia. Isto porque, durante o confinamento imposto pela covid-19, Rodrigo Leston organizou um evento online apelidado “Stop Covid!”. Nele, desafiou grupos de gaiteiros que conhecia a fazerem um encontro virtual e a tocar para quem os quisesse ouvir.

“Fui pioneiro no mundo a fazer uma iniciativa destas. Pelo menos, permitiu que as coisas recomeçassem. Foi um evento importante, porque tudo tinha parado e, a partir daqui, houve novamente um despertar”, orgulha-se.

 

20 anos em documentário e livro

Como forma de comemorar o seu vigésimo aniversário, os Katembas vão lançar um documentário. Apesar de ainda não ter uma data definida para ser exibido ao público, as filmagens já foram realizadas, estando agora a ser produzido. “É um trabalho muito minucioso”, reconhece Rodrigo Leston. Todavia, as celebrações não se ficam por aqui. No próximo ano, vai ser também publicado um livro sobre quem são os Katembas para lá da música.

Um percurso de duas décadas que vai estar expresso em imagens e longas páginas, nas quais não vão faltar recordações alegres. Afinal, na vida de um gaiteiro, não há espaço para tristezas. “Também temos problemas familiares e profissionais, mas quando estamos a tocar isso acaba tudo. Temos de levar alegria às pessoas. (…) Os momentos a tocar são sempre felizes”, frisa Rodrigo Leston.

A felicidade é, por isso, um desejo no futuro do grupo bairradino que mal pode esperar para saber o que lhe reserva o amanhã. “O que me aguenta mais é trazer coisas novas ano após ano. Há sempre coisas diferentes para fazer e isso é o mais interessante”, conclui.


  • Diretora: Lina Maria Vinhal

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