22 de Abril de 2025 | Coimbra
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Apicultura pode ser prejudicada pela falta de incentivos

2 de Setembro 2022

A apicultura é a atividade responsável pela produção de mel e também essencial para a proteção do meio ambiente, tendo em conta que as abelhas são insetos fulcrais na natureza.

Desde 2011 que Portugal, principalmente a apicultura, tem vindo a ser afetado pela Vespa Velutina que provém do sudeste asiático. Essa espécie é a responsável pela mortalidade de milhares de abelhas, destruindo consequentemente as colmeias e prejudicando a produção de mel.

Tendo em conta este fenómeno do aparecimento das vespas a nível nacional a produção de mel tem vindo a decrescer. Contudo, este ano foi diferente e principal motivo, essencialmente na área da Lousamel, foram as alterações climatéricas que têm afetado o país.

“Apesar de este ano termos começado com boas perspetivas no que toca ao aumento significativo da produção de mel, infelizmente as alterações climáticas, como as chuvas no mês de junho, vieram prejudicar a produção e acabou por haver um retrocesso”, explicou Ana Paula Sançana, diretora executiva da Cooperativa Agrícola da Apicultura da Lousã e Concelhos Limítrofes, Lousamel.

Embora este ano a Vespa Asiática não ter estado a atacar intensivamente, a norte, na época de produção de mel já começam por esta altura a aparecer junto das colmeias, podendo prejudicar no futuro.

José Rodrigues, produtor de Mel, em Miranda do Corvo, refere este ano como um dos melhores anos de produção, conseguindo quase igualar a de uma época normal. “O ano passado tive cerca de 6kg de mel por colónia e este ano já consegui ter cerca de 13/14 kg, sendo que num ano razoável são cerca de 15kg”, conta.

A norte do concelho, segundo o produtor, foi visível um “maior impacto na produção de mel devido às temperaturas, pois foi na altura da melada e originou um decréscimo, contudo não se verificou este fenómeno na zona onde tem as suas colmeias”.

Combate à Vespa Velutina

Apesar de já existir uma área no Município da Lousã que trabalhe no combate à espécie invasora com a implementação de armadilhas, focando-se na captura às espécies fundadoras e que é feita na altura da primavera, isso não é suficiente.

“O mais difícil ainda ninguém consegue fazer. A deteção dos ninhos das vespas fundadoras de forma precoce e conseguir combater na sua génese. Contudo é complicado, pois na maioria das vezes só conseguimos detetar o ninho quando a folha cai”, sublinha Ana Paula Sançana.

Embora sejam colocadas as armadilhas, tanto pelos apicultores como pelas organizações responsáveis, a deteção do ninho de forma precoce acaba por ser impossível.

Um produtor de mel local, José Rodrigues, confessou ao Despertar que “os Bombeiros Voluntários de Miranda do Corvo ajudam imenso no combate à vespa, mas não é suficiente. Os profissionais da apicultura já têm os seus métodos de deteção, principalmente com o nascer do sol quando os ninhos brilham e conseguem-se visualizar alguns”. Contudo, acha que “deveria haver uma equipa destinada para este tipo de trabalho, tal como há em concelhos vizinhos, como na Pampilhosa da Serra, em que este ano não houve sinal de vespas”.

Confiante, o produtor, confessa ao Despertar que acredita “ter visto a Águia Vespeira na zona onde tem as suas abelhas”. Esta ave é essencial no combate aos constantes ataques às colmeias, porque acaba por comer os ninhos das vespas, o que por sua vez impede a sua reprodução e pode levar mesmo à sua extinção.

Desce a produção, mas e os apoios?

Os incentivos à produção não são diretos. A nível regional é fornecido alimento para as abelhas, em alguns municípios, “tendo em conta que a apicultura é um vetor importante não só do ponto de vista económico, mas, acima de tudo, na sustentabilidade do território”, explica a Lousamel.

“O governo tem apoios, mas não especificamente para o decréscimo da produção, o que acaba por originar uma desmotivação por parte dos apicultores, tanto os profissionais como o que praticam esta atividade de forma complementar”, refere ao Despertar, Ana Paula Sançana.

Além da morte das abelhas provocadas pelas vespas e todas as situações exógenas, o material de produção aumentou de preço e a produção de mel que existe torna-se insuficiente para suportar os custos.

Segundo a Cooperativa Agrícola de Apicultores da Lousã há três áreas que deviam ser apoiadas. A primeira é mesmo no apoio à produção quando há quebras e o apicultor tem um histórico de ter rendimento na produção. A segunda é apoiar os próprios apicultores por prestarem um serviço sistémico, independentemente de serem ou não profissionais, tendo em conta que “estão a prestar um serviço ao meio ambiente”. E, por fim, um incentivo aos regimes de qualidade por parte do governo, neste caso à produção com denominação de produção de origem ou à certificação de produção biológica, “porque há uns anos foram criadas diversas denominações de mel no nosso país e muito poucas delas estão a funcionar”. “Orgulhosamente a nossa ainda está no ativo, mas com muitas dificuldades, tendo em conta as produções muito baixas”, acrescenta.

José Rodrigues, apesar de a autarquia da Lousã apoiar os seus apicultores e dos Bombeiros Voluntários de Miranda do Corvo estarem sempre disponíveis para ajudar, concorda que “deveria haver apoio na certificação do mel, porque para terem a sua marca registada e de facto ser valorizado o produto há um custo associado a cada produtor no valor de cerca de 104 euros em vistorias, técnicas para acompanhar a produção, mais os rótulos”. “Chega a uma altura que não dá”, desabafa.

A falta de incentivos a esta atividade pode originar um certo abandono por parte dos apicultores da produção de mel. Embora os apoios não garantam tudo, sendo que as condições climatéricas e as vespas asiáticas possam destruir colmeias e afetar a produção de mel, podem incentivá-los a permanecer nesta atividade, seja profissionalmente ou como hobbie.

“É uma atividade tão gira, tão bonita, uma montra para a Serra da Lousã que é uma pena que possa acabar, mas acaba por nos dar mais despesa, atualmente, que lucro”, sublinha o produtor.

Porque devemos escolher o mel da Serra da Lousã?

O mel da Lousã tem Denominação de Origem Protegida (DOP) e tem características em termos de floração à base de urze e com alguma presença de castanheiro para poder ser considerado DOP.

Este produto da Serra da Lousã tem especificidades de montanha que lhe confere características organoléticas com alguma diferenciação no que diz respeito à “adstringência do sabor, mais persistente, forte, com um aroma bastante intenso e um âmbar escuro que é o que distingue o mel desta zona”, sublinha Ana Paula Sançana. Neste momento é uma das variedades de mel mais procuradas, até mais que os claros.

A nível de custos, com o défice de produção, é vendido a 15 euros kg enquanto o valor normal ronda os 12 euros.

“Gostava de sensibilizar os consumidores de mel a procurarem e a elegerem essencialmente os que são produzidos a nível nacional. É importante lerem a etiqueta e confirmarem se diz feito em Portugal e valorizarem o que é nosso e assim, também, apoiarem os nossos apicultores nesta fase crítica para a atividade”, apela Ana Paula Sançana.

Caixa da Feira do Mel no Espinhal:

A Feira do Espinhal vai valorizar este produto endógeno este fim de semana, com início hoje, naquela que será a sua 33ª edição. Durante três dias os visitantes vão poder desfrutar do seguinte programa:

Hoje (2 de Setembro):

21h00, Entrega de Prémios de Mérito Escolar “professora Alice Gonçalves”

22h30 Grupo Coral “Carlota Taylor” e os Djs Sara Santini e Luís Silva, no Largo da Feira

Amanhã (3 de Setembro):

10h00, Jornada de “Apiturismo”

18h30, Festa da Caricatura

23h00, Ana Malhoa

00H30, Baile Sórtimo

Domingo (4 de Setembro)

8h30, arruada com os gaiteiros “Toca a Andar” e “Porta da Traição” e a caminhada “Rota da água e do mel”

19h30, encerra o Certame

21h30 espetáculo “Tomar-lhe o Gosto”


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