“Há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não” – perdão. Devo escrever: há sempre carros que não passam na ponte do Paço, há sempre alguém que diz(ia) não! E agora dois presidentes de Câmara disseram sim e os carros, mais-dia-menos-dia, (dentro de um ano segundo é noticiado) vão começar a passar (bem) uns pelos outros e a cruzarem-se sem problemas e sem prejuízo para a fauna do Paul de Arzila. E vão passar pela nova ponte do Paço que vai ser construída. Há tantos anos que dizem NÃO para finalmente haver um SIM e uma trova que aprova a construção de uma nova PONTE DO PAÇO para ligar os concelhos de Coimbra e de Montemor-o-Velho. Uff! TANTO TEMPO QUE DEMOROU! Mas veio luz-verde e um dia destes teremos a nova ponte e os carros a circularem. E, espero, assistirmos, finalmente, à prometida CONTINUAÇÃO DA VIA RÁPIDA DE TAVEIRO até Alfarelos e ao NÓ RODOVIÁRIO de Montemor para depois entroncar na A14 e Nacional 111 sem aquele ziguezague doudejante que apontava a hipótese da Via Rápida ir quase até Condeixa. Arrenego-te maldição! Pergunto ao vento que passa notícias da finalização da VIA RÁPIDA e o vento, com uma linguagem que tenho dificuldade em descodificar, parece dizer-me: vai devagar, devagarinho, que temos o mesmo direito que os compadres alentejanos. Quais compadres? – Aqueles que entram nas ANEDOTAS DE O DESPERTAR: ou há loiras ou compadres alentejanos, mas, compadre, aquilo até ficava melhor com uma bolinha vermelha no canto superior direito da página embora as anedotas venham à esquerda… e são devoradas com entusiasmo. Pessoalmente é o primeiro assunto que leio, mas na última semana não houve nem loiras nem alentejanos. E como estou farto de greves que não compreendo, espero que esta semana as ANEDOTAS DE O DESPERTAR não entrem em greve e sejam, como habitualmente, publicadas. Se elas fizessem greve, esta crónica ficaria sem legendas ou sem comprovativo.
O INESQUECÍVEL BONECO REBELDE
Chega-me a casa, como oferta do Município de Leiria e do Museu de Leiria (grato), um trabalho notável de BANDA DESENHADA de quem poucos anos viveu e foi um dos mais talentosos da sua época. Refiro-me a SÉRGIO LUIZ, humorista, cartunista, cineasta, desenhador leiriense (nasceu na Praia da Granja em 1921, mas viveu vários anos em Leiria). A morte, devido a tuberculose renal que se foi agravando, levou-o cedo, aos 21 anos, mas este artista legou-nos, no pouco tempo de vida, trabalhos notáveis. A COLEÇÃO BONECO REBELDE é constituída por quatro livros deste BONECO e um quinto livro referente à Exposição – Roteiro “Entre o Museu de Leiria e o Arquivo Distrital de Leiria” realizada no ano passado em que sobressai, por síntese, em desenhos e por fotos da exposição, a bela expressão artística de SÉRGIO LUIZ e ainda em menor volume, o trabalho de seu irmão GUY MANUEL. A obra destes conceituados jovens saiu “do resguardo dos arquivos e memórias familiares” para se encontrar (finalmente) com o público e recordar ainda o que foi a ação de jornais que preencheram infâncias e adolescências através dos traços e histórias do BONECO REBELDE publicados no PAPAGAIO “jornal de miúdos para miúdos” (poucos leitores se lembrarão). O PAPAGAIO iniciou a sua publicação em abril de 1935 sob a direção de Adolfo Simões Muller vendo a luz do dia até 1949 e aparecendo mais tarde, apenas, como secção da Revista FLAMA. LEIRIA evocou e evoca com a exposição e agora com esta coleção de livros cuja aquisição recomendo (estão os cinco livros numa bela caixa fechada por um lápis, vejam, vejam! Ou leiam, leiam!) estes seus talentosos artistas que em tempos não muito recuados foram notáveis e nem sempre lembrados e mostrados. O que teriam feito mais estes irmãos se tivessem vivido mais anos? – é uma pergunta-inquietação. Eram, aliás, filhos de uma personalidade também de excelência: o escultor LUÍS FERNANDES (natural de Ourém 1895/1954) que foi coautor com o arquiteto António Varela (e efetivo escultor) do MONUMENTO AOS MORTOS DA GRANDE GUERRA (iniciativa do Município de Coimbra e da Liga dos Combatentes) o qual podemos apreciar a meio da Avenida Sá da Bandeira, em Coimbra. Foi inaugurado, alguns anos depois de outro monumento, com a mesma evocação, ter sido erigido em Leiria. Homem de cultura e desassossegado, Luís Fernandes esteve ainda na fundação do conceituado e premiado ORFEÃO DE LEIRIA. Agradeço a todas as entidades que estiveram na evocação destes inesquecíveis talentosos irmãos (tal como o pai) e na edição da coleção de livros do BONECO REBELDE. Por ser grande a lista de quem esteve nesta ação editorial e memoriosa particularizo, apenas por velhíssima amizade e admiração, o enorme caricaturista e cartunista ZÉ OLIVEIRA que acompanhei com o nosso QUIM BELIZÁRIO na Revista CAPA E BATINA. Havia algumas coisas que não se podiam escrever, mas foram rebeldemente abonecadas. E cuidado leitores: fiquem a saber que isto anda mal em termos de Liberdade de Imprensa que PIOROU em 2018 na Europa Comunitária: homicídios impunes, intimidações, detenções arbitrárias. Chega? “O vento cala a desgraça/o vento nada me diz”. Uma trova, por mais singela que seja (e nada há de mais simples do que uma trova) pode dizer muito. E pode ser REBELDE como um CARTOON.