18 de Janeiro de 2025 | Coimbra
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ALICE LUXO

Tertuliar – Alegria e “coisas” boas: música e arroz-doce

4 de Dezembro 2020

Como se chega a uma ligação aparentemente tão insólita, caríssimo leitor? Vamos tentar deixar aqui um pequeno (esperamos que saboroso) lamiré: a Música é uma linguagem universal (como muitos já disseram e escreveram) e o arroz-doce é de uma transversalidade absolutamente singular à mesa da portugalidade. É este o mote para as palavras-sorriso de hoje: o valor da partilha.

Se o mês de novembro nos foi convidando a musicar o nosso caminhar calcorreando tapetes castanho-alaranjados com que a Natureza nos tem brindado, o mês que agora chega traz com ele a antecipação de dias que associamos a uma alegria partilhada: música nas ruas, luzes, conversas descontraídas… o que nos leva (levaria?!) a redescobrir o bom que é viver o espaço público, sentirmo-nos parte e co-responsáveis pelos lugares que habitamos.

Ano tragicamente atípico, 2020 tem-nos vindo a colocar um imenso desafio: como alimentar o nosso sentido de comunidade?

A simplicidade de um prato de arroz-doce, sinónimo de comunidade, cultura e tradição, pode servir como metáfora para um saborear que se quer inspirador de começos novos: “bordar” o arroz (cozido em água ou leite, juntando ou não ovos, conforme a região) como se a canela fosse pó mágico e cada colherada se traduzisse num sorriso aberto em cada comensal.

Não! Não está tudo bem! Se acharmos que está tudo bem é porque não estamos atentos. Nem a nós nem ao outro, que somos nós do outro lado do espelho. Mas podemos sempre arriscar parar, silenciar, olhar em volta, ficar gratos pelo “simples” facto de estarmos aqui e arregaçar as mangas para começar de novo. De um modo diferente.

A música que nos une em silêncio partilhado e o arroz-doce que se distribui e nos torna família, comunidade de afetos, pode dar uma ajuda. Melhores dias virão certamente. Saibamos nós caminhar de coração aberto, confiantes na capacidade de nos tornarmos cada dia mais sábios. Sorrir, mesmo que apenas com o olhar, tornarmo-nos presentes, seja através de um telefonema, um postal ou uma carta, ou mesmo uma caminhada ou uma simples ida a uma esplanada para tomar um café,… somos seres de comunidade, a soma das experiências que partilhamos. Ou, como tão bem nos relembra S.S. Papa Francisco: “perante as várias formas atuais de eliminar ou ignorar os outros, sejamos capazes de reagir com um novo sonho de fraternidade e amizade social que não se limite a palavras”.

É sempre tempo de voltar a lembrar: à Mesa da Portugalidade há sempre lugar para mais um saber Ser sabor Humano e se há mês em que faz ainda mais sentido, será certamente dezembro de 2020. E para que não haja desculpa (e retomar uma prática da imprensa escrita), aqui fica uma receita de… arroz-doce de Coimbra: “para meio litro de arroz, meio litro de água e mais uma pinguita. Põe-se esta água a ferver e tempera-se com sal. Quando estiver a ferver, deita-se o arroz e deixa-se ferver até o arroz cozer bem (deve evaporar toda a água). Junta-se 2 litros e ¼ de leite e açúcar a gosto. Querendo pode deitar algumas gemas de ovos. Deve empregar-se arroz carolino” (“Quinta das Lágrimas, cenário dos amores de Pedro e Inês – história, requintes e sabores”, Paulino Mota Tavares e Maria Leonor Carvalheiro).

Ainda se lembra dos desafios-convite em aberto?: ao final do dia escrever num caderninho 3 “coisas” boas que aconteceram nesse dia e registar, para memória futura, as histórias e experiências vividas.

Quem sabe na próxima primavera nos reunimos à volta de uma mesa “O Despertar” a celebrar as “coisas” que vão alimentando a nossa fonte de Vitamina A, de Alegria.

Até já e… tertuliemos “coisas” boas!


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