16 de Outubro de 2024 | Coimbra
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ALICE LUXO

Tertuliar – Alegria e “coisas” boas: letras e sabores… venham mais cinco

29 de Janeiro 2021

Continuemos então a desfolhar, ou será que deveríamos escrever… continuemos então a servir a nossa sopa, o nosso ABC da gastronomia, caríssimo leitor?

Porque acreditamos que as pontes nos abrem caminhos, regressamos à nossa letra C, para relembrar caldos e caldinhos de que a canja é titular na ancestral sabedoria de tratar constipações e gripes que em tempo de invernia teimam em surgir. Da canja de galinha, do campo, ao simples caldo de arroz, uma “aguadilha que servia para manter hidratado e alimentado um corpo febril de gaiato irrequieto”, como nos dizia alguém ao relembrar algumas histórias gustativas que à lareira se iam desenhando: a chaminé com o fumeiro, a panela de ferro na trempe, as castanhas, o milho que “se virava do avesso, em estoiro”…

Saboreemos a nossa sopa, passando à letra F, de feijão (já por aqui escrevemos no nosso Jornal sobre este nosso alimento, lembra-se caríssimo leitor?), alimento que nos permite saltitar entre doce e salgado, entre o pastel de feijão a feijoada ou mesmo a sopa à lavrador; temos ainda a fogaça e o folar – doce ou salgado, conforme a região (relembramos aqui antigo ditado, aplicado às artes da mesa: “cada terra com seu uso, cada roca com seu fuso”) – ou mesmo a fava (que tal com chouriço e broa, caríssimo leitor?), que nos devolvem a simplicidade gourmet à mesa da portugalidade.

Colamos a letra F (de frango) à letra G, de galinha, do campo, pela alternativa gémea que permitem no nosso receituário; assada, tostada, estufada, com ervilhas (salto-ponte de regresso ao nosso E), arroz, massa ou… batatas fritas em palitos ou às rodelas (novo salto-ponte agora de regresso às nossas letras A, de azeite, e B, de batata), no cozido (a letra C a regressar numa corrida ao nosso convívio, trazendo à lembrança o carapau) e surge de rompante uma ideia: a galinha é quase tão versátil como o nosso fiel amigo! Entre salgados e doces, podemos encontrar receitas várias, de que aqui destacamos as empadas e o Manjar Branco, um doce singular com uma história que se cruza com a do Mosteiro de Santa Maria de Celas. E se à hora do chá lhe aparecerem umas grades? Sim!, a arte de biscoitar está igualmente guardada nesta nossa letra G.

Das 1001 histórias gustativas que Coimbra tem para partilhar, aqui fica uma ementa estudantil: “jantar de galinha que uma capoeira na Alta cedia por preço mais convidativo, muitas batatas fritas” (Ruben A.)

Continuando neste nosso ABC da gastronomia, chegamos aquela que se revela um verdadeiro enigma gastronómico: a letra H. Letra plural, de Horta, que nos remete para alfaces, rabanetes, tomate, couve, cebola, alho, espinafres, cenoura, beterraba, beringelas, pimento, ervilhas, coentros, salsa, nabos,… não esgotemos aqui o nosso ABC com tão colorido cardápio, “un petit je ne sais quois”, do nosso receituário. A horta, os produtos da horta, permite-nos criar várias receitas (para além de saladas): do bolo de cenoura ao pão de espinafres, mas também aos peixinhos da horta; e aqui recorremos também ao valioso contributo das galinhas poedeiras e ao feijão verde, lembrando ainda o fio de azeite (o que nos leva a novos saltos-ponte com letras já percorridas).

Letra nova, novo desafio. O que terá a letra I para saborear? Será que vamos deixar esta letra em aberto? Caríssimo leitor, para além das iscas, que iguaria conhece que tenha a letra I como inicial?

Alguém partilhou connosco que bons produtos antecipam bons pratos, sempre que a mão que os manuseia for guiada pelo ingrediente secreto que torna uma cozinha memorável. Sabe certamente do que ingrediente falamos, caríssimo leitor!

Na escrita lembramos aquela que poderá ser a pergunta gustativa de 2021, o ano em que Coimbra é Região Europeia da Gastronomia (“o que se come aqui?”) e o convite de continuarmos o nosso caminho à descoberta, em modo colaborativo, do que poderá ser a identidade gastronómica de Coimbra e Região.

Dando continuidade a uma tradição da imprensa escrita, deixamos aqui uma receita de… “Galinha córada”: “quando se prepara canja de galinha (sopa de arroz em caldo de galinha) muitas pessoas preferem comer a galinha córada em vez de simplesmente cozida. Nesse caso esfrega-se a galinha depois de cozida com alho esmagado, sumo de limão e sal fino; pôe-se no forno, unta-se com manteiga e córa-se. No molho que provem da manteiga e da gordura da galinha, podem deitar-se os miúdos d’esta, depois de tirada a galinha e cozêl-os demoradamente, acrescentando esse molho com uma porção de gordura tirada do caldo destinado à canja. O molho com os miudos serve-se a acompanhar a galinha córada.” (“Tratado completo de cozinha e de copa”, Carlos Bento da Maia).

Relembramos que todas as terças-feiras, nas redes sociais (@CCEC2027) há uma conversa em direto que nos convida a fazermos parte do caminho que levará Coimbra a Capital Europeia da Cultura em 2027 e mais além.

Até já e… tertuliemos “coisas” boas!


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