11 de Outubro de 2024 | Coimbra
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ALICE LUXO

Tertuliar – Alegria e “coisas” boas: couves e feijões

13 de Novembro 2020

Nem Bordallo resistiu a levar ao centro da mesa aquela que é provavelmente a rainha da horta. Portuguesa, troncha, galega, penca,… em caldo verde, em migas, na sopa, no cozido, como acompanhamento, refogada, salteada… a couve, sinónimo de partilha, de comunidade. Ninguém planta apenas uma couve! Planta-se meio cento ou um cento e quando os elementos a deixam prontinha a ser alimento… há sempre mais do que suficiente para todos, ativando-se assim as relações de vizinhança e o sistema de trocas. Alguém partilhou connosco a memória da panela de ferro sempre ao lume, principalmente no outono e inverno, a que se ia acrescentando água, couve e feijões ao longo do dia, para haver sempre uma malga quente para quem chegava do campo. Corpo e alma alimentados, o dia ganhava nova vida e era tempo de ir tratar dos animais. Verdadeiro alimento-medicamento, a couve revela-se fonte de vitaminas e minerais essenciais para nos mantermos saudáveis. E a impermeabilidade das folhas? Será que foi inspiração para os nossos guarda-chuvas? O verde-natureza no prato surge ao longo do ano, em todo o país, como protagonista ou personagem complementar no nosso receituário tradicional mas também no contemporâneo, com novas receitas e combinações que nos levam a descobrir que uma couve é muito mais do que uma couve: é um livro de receitas! Não tem horta? Não se preocupe, basta ir ao Mercado e encontra uma couve, ainda fresquinha, vinda diretamente da horta.

E os feijões?! Bem, essa é outra história, caríssimo leitor! Há inúmeras variedades: vermelho, branco, frade, catarino,…

Vamos sair da mesa e relembrar mais uma história partilhada: “Oh menina!, perder nem a feijões!” – sorriso maroto de oito décadas e pico de sabedoria – “sabe, nós também éramos criativos! Alguns pegavam no pouco dinheiro que recebiam e iam ao bingo, para noitadas de farra, perdendo tudo ou quase tudo; nós não íamos mas jogávamos na mesma, só que a feijões e, mesmo perdendo (o que nenhum de nós gostava e até dava direito a partilhar muitas palavras esdrúxulas!) tínhamos sempre direito a uma feijoada no final!”.

Para além de estarem juntos em muitas receitas, a couve e o feijão seco têm quase sempre por companhia um fio de azeite e uma fatia de broa. As temperaturas baixam? Os alimentos tornam-se mais quentes, mantendo os sabores em lume brando e surpreendendo-nos sempre com a simplicidade gustativa; lembremos, por exemplo, a posta de bacalhau desfiado, misturada com feijão frade, e acompanhada de couve cozida (dentes de alho, picados, a temperar), regados com um fio de azeite… e broa, claro! Procurar as histórias gustativas que Coimbra guarda e partilha nas “casas de bem comer” que ao longo dos tempos têm vindo a ser referenciadas por inúmeros autores é certamente um caminho em que vamos encontrar algumas das pontes que levaram e levam tantos de nós a reunir à volta da mesa.

É curioso como muitas das memórias que guardamos e das histórias que vivemos com um sorriso aberto estão associadas a alimentos partilhados. E se nos disser que memória gustativa guarda?

É sempre tempo de relembrar: à Mesa da Portugalidade há sempre lugar para mais um saber Ser sabor Humano.

Ainda se lembra dos desafios-convite em aberto?: ao final do dia escrever num papel (pode ser um caderninho, em modo diário de bordo) três coisas boas que aconteceram nesse dia e registar, para memória futura, as histórias e experiências vividas.

Quem sabe na próxima primavera nos reunimos à volta de uma mesa “O Despertar” a celebrar as “coisas” que alimentam a nossa fonte de Vitamina A, de Alegria.

Até já e… tertuliemos “coisas” boas!


  • Diretora: Lina Maria Vinhal

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