19 de Junho de 2025 | Coimbra
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Sansão Coelho um homem que se ouve mesmo em silêncio  

8 de Março 2024

Falar de Sansão Coelho é trazer às páginas de O Despertar, nesta edição dos seus 107 anos, um dos seus Colaboradores mas também, e sobretudo, uma figura pública que toda a região conhece e admira pelo Homem de bem que em si contém um dos mais prestigiados homens da Comunicação radicada em Coimbra ao longo dos últimos 50 anos.

Aos microfones da rádio – RDP – Sansão Coelho foi voz, foi alma, foi aplauso a muitas das causas assumidas por Coimbra, pela região e pelo país. “Ouçamo-lo” na Entrevista que lhe solicitamos.

 

O Despertar [OD] Há quanto tempo é colaborador do Jornal O Despertar?

Sansão Coelho [SC] Embora sem data precisa recordo-me de ter entregue na redacção e tipografia de O Despertar textos de assuntos gerais e outros baseados no norte da cidade, particularmente Loreto e Bairro do Brinca onde morava com os meus pais. Teria, talvez, 15 anos. Durante algum tempo tive essas colaborações coladas num caderno, mas com as mudanças residenciais desapareceram. Aliás, de um modo geral, não sou de guardar aspetos relativos à minha vida profissional.

 

[OD] O Jornal O Despertar está a assinalar 107 anos. Recorda-se de quando e como o Sansão e o jornal cruzaram os seus caminhos?

[SC] Foi em meados dos anos 60, como uma espécie de assumido correspondente – se assim posso considerar – na zona norte da cidade.

 

[OD] Acha que nestes 100 e tal anos de vida que o Despertar tem, desempenhou com algum mérito e muito afeto a sua função?

[SC] O Despertar, quando foi bissemanário, era lido em termos de atualidade cruzando com sociedade. Por não dispor de grandes meios técnicos/gráficos e humanos o nosso jornal sobrevestia uma capa de proximidade e de profunda humildade e óbvia afetividade. Os seus leitores e assinantes, do trabalhador comum ao intelectual, como acontece hoje, eram fidelíssimos. Recordo-me do cuidado da minha sogra em manter a assinatura de O DESPERTAR em nome do seu falecido tio, ALBERTINO MARQUES, um artista conceituado na arte do ferro forjado e um inequívoco conimbricense e progressista. Morávamos em dois andares contíguos na rua João Machado e eu é que fiquei, posteriormente, a pagar a assinatura do tio-avô da minha mulher e só mais tarde é que a assinatura passou para meu nome, ou seja, nominalmente, quisemos também manter intocável a assinatura no nome de quem amava o jornal porque era respeitar uma herança, uma tradição citadina. Ainda há dias escrevi que O DESPERTAR É UMA MARCA COIMBRÃ MUITO FORTE E tem muito mérito.

 

[OD] Entretanto Coimbra e a região cresceram também no campo informativo? Acha que está bem nesse domínio da informação?

[SC] Estou desgostoso com a falta de um jornal, de uma rádio, de um canal de televisão ou de um médium digital, sedeados em Coimbra, a terem PROJEÇÃO NACIONAL, fundamentalmente com capacidade de imporem critérios editoriais no país sem abdicarem da informação local e regional. Mesmo no âmbito das revistas culturais e académicas perdemos a capacidade impactante de Coimbra à escala nacional. Isto não é bairrismo grotesco: é uma constatação que dói. Há quem se promova através dos média em vez de promover Coimbra, nacional e internacionalmente. Já agora deixe que dê o exemplo de um jornal regional de França, o SUD-OUEST, com sede na província e que é lido e tem aceitação em todo o país. É o segundo ou terceiro diário francês de maior expansão com cobertura e leitura no plano nacional

 

[OD] Continua a considerar a Comunicação um dos ativos essenciais do viver coletivo e, quando livre, garante da liberdade?

[SC] Claro que sim, seja comunicação social, grupal, empresarial ou institucional. E adiciono a informação clássica ou convencional, tal como a formação e pedagogia pelos média e o entretenimento. Já o jornalismo é uma área específica integrada na comunicação. Jornalismo é denotativo, referencial, rigoroso, objetivo, a verdade inequivocamente presente. Pura e dura. Factos e comentários podem ser expressos, mas devidamente demarcados e admito a subscrição de CAUSAS, mas igualmente marcadas, definidas sempre na incessante busca do bem comum. Recordo-me, a título de exemplo, de trazer para as notícias da rádio factos ligados à ecologia que não consegui colocar, nos anos 70, na abertura de um jornal radiofónico, mas hoje, felizmente, esta temática abre jornais sonoros e televisivos. Aproximava-me, nessa época, de uma causa. A Comunicação Social, atualmente, anda por aí a depender de certos poderes que podem cercear a liberdade e a democracia, mas é, como indica na sua pergunta, um ativo essencial no bom viver coletivo.

 

[OD] Recorda a sua superior carreira profissional aos microfones da RDP ao longo de vários anos? Foi particularmente feliz, nessa altura, em termos profissionais?

[SC] Preâmbulo: peço-lhe o favor de retirar o que classifica na sua pergunta de “superior carreira”. Foi um percurso vulgar onde tive o privilégio de trabalhar no que gostava e até digo com algum humor que nunca trabalhei e só fiz o que me deu prazer. Como calcula deu-me sempre grande satisfação ser útil, ao que penso, à nossa cidade e região, e divulgar, por exemplo, os nossos fabulosos cantores e instrumentistas no âmbito do fado e da canção de Coimbra. E divulguei o mais que pude quer na rádio quer na televisão.  Peço desculpa pois estou a detalhar e a resposta devia ser mais curta para lhe dizer: sim, fui feliz. E tive grandes companheiros de viagem profissional.

 

[OD] Passa a maior parte dos seus dias na Figueira da Foz. Sabemos que gosta da cidade de forma tão sentida, acha que ela reúne as condições ideais para se viver com mais tranquilidade?

[SC] Tenho filhas e netos em Montemor e, como preconizava o nosso saudoso diretor, Dr. Fausto Correia, é preciso apostar no eixo Coimbra-Montemor-Figueira cheio de potencialidades, e encontro nestas três localidades a minha identidade. Agora, na Figueira, com mais tranquilidade, ando mais solto, faço caminhadas, já evito o trânsito rodoviário inexplicável de Coimbra e tenho praia. Figueira e Coimbra estão condenadas a amarem-se eternamente pelos laços do Mondego e completam-se. Já agora, digo-lhe que estou integrado no movimento associativo da Figueira e sou presidente da Dez de Agosto.

 

[OD] O que acha que faz mais falta ao Despertar atual? Quer ajudar-nos dando-nos alguma sugestão?

[SC] O DESPERTAR é uma PAIXÃO coimbrã e o que me dá prazer, atualmente, é escrever neste jornal de 107 anos que respira Coimbra. Esta situação pode cercear uma resposta objetiva. As paixões cegam-nos e só vemos coisas lindas neste jornal, mas admito existir um potencial a aproveitar: a expansão do jornal ao digital, explorar novos assinantes junto de antigos estudantes de Coimbra espalhados pelo país e dar-lhe dimensão nacional, mas sempre com a camisola de Coimbra vestida. As grandes causas do eixo Coimbra-Figueira deviam passar pelas páginas de O DESPERTAR com direito a manchetes e reportagens. Pessoalmente gostava que o nosso jornal liderasse, opinativamente, a criação da Área Metropolitana de Coimbra e da Regionalização que não é o mesmo que a tímida descentralização a que assistimos a conta-gotas. Coimbra continua ensanduichada entre Porto e Lisboa e esta situação não pode continuar. Lancemos o alerta.

 

 


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