13 de Julho de 2025 | Coimbra
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Quinta do Zorro preserva raças autóctones em vias de extinção

13 de Junho 2025

A Quinta do Zorro, em Coimbra, é uma esperança no que diz respeito à salvação de raças portuguesas ameaçadas. Entre galinhas, caprinos e porcos são mais de 500 os animais que habitam os cerca de 3 hectares de uma micro exploração agropecuária na aldeia do Zorro. O projeto familiar teve início, em 2017, quando Paulo e Elisabete Serra decidiram dar uma nova vida a terrenos da família que estavam abandonados.

“Colocámos galinhas autóctones porque pesquisamos sobre o assunto e vimos que eram animais nossos, portugueses, e que estavam em vias de extinção”, recorda Elisabete Serra, em declarações ao “O Despertar”. E se a ideia inicial era apenas limpar o campo e mantê-lo livre de vegetação espontânea, hoje, o casal produz artesanalmente quatro raças autóctones de galinhas portuguesas: Pedrês Portuguesa, Preta Lusitânica, Branca e Amarela.

De momento, a Quinta conta com 100 galinhas reprodutoras em linha pura. Todos os animais estão inscritos no respetivo Livro Genealógico da raça, garantindo a sua qualidade. “Em colaboração com a associação e com os técnicos que gerem o livro, temos sido parte do trabalho de melhoramento genético e de busca pelos melhores reprodutores”, adianta Elisabete.

No entanto, a qualidade não é o único resultado desta parceria. Ao se aperceberem da importância de preservar raças ameaçadas, os fundadores da Quinta do Zorro rapidamente optaram por aumentar o número de animais no terreno. Assim, às aves, vieram juntar-se: caprinos da raça Serpentina, e porcos da raça Malhado de Alcobaça.

Respeitar a essência dos animais

Desde a sua génese, a Quinta do Zorro prima por garantir o bem-estar dos animais, respeitando sempre a sua essência. Deste modo, todos são criados livremente para que possam manter os seus comportamentos naturais e escolher o próprio alimento. Todavia, esta liberdade pode acarretar alguns problemas. No ano passado, a exploração foi vítima de um ataque de raposas que resultou na perda de cerca de 200 galinhas, estando, agora, a recuperar.

Atualmente, – e no total -, a Quinta conta com mais de 500 animais, nomeadamente, 200 galinhas reprodutoras, 300 pintos, 40 cabras adultas reprodutoras e 3 fêmeas e um macho da raça Malhado de Alcobaça. Além da preservação destas espécies, o casal também dá a conhecer as raças autóctones portuguesas em eventos, seminários, feiras temáticas e medievais, concursos e exposições.

Não obstante, dispõe ainda de um projeto que leva aos estabelecimentos de ensino, designado “O Pinto vai à Escola”, com o intuito de alertar os mais novos para a necessidade de cuidar destas raças. “Os meninos ficam muito empenhados, interessados e super contentes porque conseguem ver de perto, tocar, mexer nos animais e ver como é que se desenvolve um pinto”, revela Elisabete Serra.

Por outro lado, a responsável esclarece que é fundamental atrair uma população mais preocupada com a qualidade e com a diferenciação dos produtos. A essas pessoas, recomenda sempre a escolha de uma raça nacional, sobretudo, quando o tema são galinhas. “São animais muito rústicos, que não precisam de grandes medicações; adaptam-se muito bem ao nosso clima e conseguem viver no tipo de ambiente que temos”, salienta.

O dia-a-dia na Quinta

Todos os dias começam bem cedo para o casal Serra, sobretudo, para Paulo. O marido optou por se dedicar exclusivamente à Quinta do Zorro e, por isso, é sobre ele que recai a maior parte das tarefas. Logo pela manhã, é preciso abrir as capoeiras para que as galinhas possam andar em liberdade. De seguida, a missão é tratar dos porcos. Quando há pintos a nascer, é necessário ainda garantir que tudo está organizado e pronto para os receber.

Após o almoço, é feita a ordenha aos animais que estão em lactação e, de seguida, Paulo sai com o rebanho. Geralmente, o trabalho fica concluído por volta das oito/nove da noite. “Não fazemos o pastoreio à moda antiga em que o pastor ia de manhã à noite e levava uma marmita. Não temos essa hipótese, por isso, fazemos assim”, confessa Elisabete. O esforço é muito, mas a recompensa é maior: ver a natureza a acontecer em frente aos seus olhos. “Quando chegamos lá e temos animais a nascer, é muito reconfortante”, reconhece, com um sorriso nos lábios.

Engane-se, no entanto, quem acredita que a azáfama só se faz sentir de segunda a sexta-feira. Aos fins-de-semana, os fundadores da Quinta do Zorro continuam a cuidar dos animais, e não só. Habitualmente, usam esses dias para divulgar a sua atividade em mercados da região. Uma ação que lhes deu a conhecer uma realidade: uma esmagadora maioria das pessoas não tem noção da existência de raças autóctones portuguesas.

“Eu acho que nem sabem pronunciar, muitas vezes, a palavra. Há um desconhecimento muito grande”, constata Elisabete Serra. Contudo, a partir do momento em que se informam, surpreendem-se pela positiva. “Há curiosidade e há interesse. Temos tido muita procura por parte dos jovens, que, por vezes, se deslocam centenas de quilómetros para nos vir buscar galinhas e pintos”, sublinha.

Falta quem queira trabalhar

Manter uma exploração agropecuária nem sempre é fácil, sobretudo, quando todos os encargos ficam à responsabilidade de apenas duas pessoas. No caso, Paulo e Elisabete têm de se desdobrar para assegurar os cuidados necessários a todos os animais, sendo que ao trabalho na quinta, a responsável junta ainda outra ocupação profissional.

“Há dificuldade em conseguir gente para trabalhar”, lamenta Elisabete, acrescentando que este é um dos principais problemas que o projeto enfrenta. “Principalmente na parte do rebanho, não conseguimos encontrar pessoas. Queremos ir de férias ou estar uns dias ausentes, e não dá. Temos que estar sempre aqui, porque os animais não podem ficar sozinhos”, refere.

Assim, toda a ajuda é bem-vinda e o casal continua a lutar por encontrar quem esteja disposto a ser parte da família da Quinta do Zorro. Até lá, vão continuando a fazer o que têm feito: alcançar bons resultados. “O feedback é sempre muito positivo”, orgulha-se Elisabete. Nesse sentido, é impossível não olhar para o futuro.

“Queremos aumentar o rebanho de caprinos para o dobro”, avança a responsável. Isto porque uma das próximas metas do casal passa pela produção de queijo. “Também queremos incluir no rebanho ovinos (…) Apostar num animal que tenha aptidão mista para podermos tirar o leite e outro tipo de vantagens”, conclui.


  • Diretora: Lina Maria Vinhal

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