Os doentes oncológicos estão a viver momentos de grande ansiedade e insegurança. Para além das grandes preocupações que resultam da própria doença, doentes e familiares deparam-se hoje com outras fragilidades, não só a nível económico mas também emocional. Os pedidos de apoio duplicaram no primeiro semestre deste ano na região Centro, na área de intervenção do Núcleo Regional do Centro da Liga Portuguesa Contra o Cancro (NRC-LPCC), o que leva esta entidade a reforçar as ajudas e a, neste “Outubro Rosa”, apelar a toda a sociedade para que continue a apoiar esta causa.
Outubro “veste-se” de rosa, numa mensagem de alerta, sensibilização e também esperança que pretende chegar não só aos doentes e familiares que lutam contra o cancro da mama mas a toda a sociedade. Neste mês dedicado à luta contra o cancro da mama, importa, mais uma vez, alertar para a importância da vigilância, da prevenção e do diagnóstico precoce da doença.
Apesar de este ser um ano atípico, a Liga Portuguesa Contra o Cancro sensibiliza para a data e, na região, o Núcleo Regional do Centro apela à união de toda a comunidade – doentes, familiares, empresas, entidades públicas e privadas, grupos e pessoas individuais – nesta causa que, direta ou indiretamente, a todos toca.
O ano de 2020 não está a ser um ano fácil e para os doentes oncológicos assume-se ainda mais difícil e desafiante. Não fosse a gravidade de qualquer doença oncológica suficientemente preocupante, a pandemia da Covid-19 veio agravar ainda mais a situação de quem se depara com a doença. De acordo com Sónia Silva, psicóloga do NRC-LPCC, “os pedidos de apoio duplicaram no primeiro semestre do ano”, sendo ainda mais evidente, neste contexto de pandemia, “a fragilidade dos doentes e familiares”, não só em termos económicos mas também sociais.
“Sentimos que houve efetivamente um acréscimo muito significativo, havendo na região Centro muitas famílias a precisarem de apoio. Se todos nós sentimos mais fragilidade económica e mais instabilidade profissional numa altura de pandemia, é natural que no caso dos nossos doentes oncológicos essa fragilidade seja ainda maior”, alerta.
Pandemia aumenta fragilidade e insegurança
Sónia Silva esclarece que as fragilidades não são apenas de ordem económica, apesar de haver vários pedidos de ajuda nesta área, aos quais o NRC-LPCC tem procurado responder de várias formas, como pagando medicamentos, rendas de casa e assegurando transportes e alojamento quando os doentes têm que permanecer perto das unidades hospitalares.
“Sentimos realmente um acréscimo significativo nos pedidos de ajuda financeira por parte das famílias que estão a atravessar uma situação de doença oncológica e que têm necessidade de dispor do seu dinheiro para as despesas básicas, para continuar a realizar os tratamentos e deslocar-se para as instituições hospitalares”, explica.
Mas, por outro lado, aumentam também os pedidos de apoio jurídico, havendo muitos doentes que pedem esclarecimentos diversos, sendo a questão das baixas médicas uma das mais frequentes. Neste primeiro semestre do ano, comparativamente a igual período em 2019, aumentaram também consideravelmente os pedidos de apoio psicológico. Nesta área, com as consultas presenciais canceladas, o NRC teve que arranjar alternativas para continuar a garantir o apoio aos doentes e famílias, apostando na teleconsulta. “Os doentes sentem muita necessidade de desabafar. Se já se sentem vulneráveis numa altura aparentemente normal das suas vidas, quanto mais a viver uma situação de surto pandémico. Estão, sem dúvida, ainda mais fragilizados, têm noção de que são doentes de risco e, como tal, temem frequentar os hospitais, temem que as consultas sejam alteradas ou, por outro lado, mesmo que saibam que o seu tratamento está acautelado, receiam o confronto com o hospital, o contacto com os profissionais de saúde, com outros doentes, o tempo de espera nas salas…”, frisa.
Sónia Silva diz que “tudo isto acresce a ansiedade que, só por si, já era elevada em virtude da doença oncológica, que tanto fragiliza a pessoa”. A psicóloga do NRC-LPCC admite que, nesta fase, “os níveis de ansiedade estão muito aumentados”, estando a Liga a desenvolver um estudo a nível nacional para “aferir precisamente as dificuldades dos doentes oncológicos mas também dos seus cuidadores, numa perspetiva abrangente”. Este estudo decorre online, no site da LPCC, até 31 de outubro, e visa analisar o impacto da Covid-19 nos doentes e seus familiares, a nível psicológico, social e noutras vertentes.
“Outubro Rosa” apela à prevenção
Consciente das dificuldades que os doentes oncológicos estão a passar, a LPCC quer fazer de outubro, mais uma vez, um mês de sensibilização. Apresentada na terça feira, no Museu Nacional Machado de Castro, em Coimbra, a campanha “Outubro Rosa” pretende alertar para a importância da vigilância, da prevenção e do diagnóstico precoce do cancro da mama, através de várias iniciativas que, ao longo do mês, mobilizam a sociedade.
“Outubro é o mês dedicado à prevenção do cancro da mama. Queremos lembrar todas as mulheres que devem olhar para o seu corpo e estar alerta a qualquer alteração. Não deixem para amanhã. Quanto mais depressa fizermos o diagnóstico, melhor é o prognóstico e mais fácil é ultrapassar a doença”, sublinhou Natália Amaral, secretária geral da Direção do NRC. Esta responsável alertou também para os números que se continuam a verificar em Portugal, onde surgem “cerca de 6.500 novos casos” de doença por ano e se registam cerca de 1.500 mortes em igual período, apesar dos tratamentos e dos rastreios efetuados.
O apoio da sociedade civil continua a ser fundamental para que a LPCC continue a assegurar o trabalho de apoio aos doentes e famílias. Este ano, devido à pandemia, não se vai realizar a habitual caminhada “Pequenos Passos, Grandes Gestos”, iniciativa que na região Centro acontece há já uma década, tendo envolvido nos últimos 10 anos “cerca de 92 mil pessoas e permitiu angariar mais de 412 mil euros”, como adiantou Sónia Silva.
Em ano de pandemia, a LPCC reforça as parcerias, de forma a que esta mensagem de sensibilização possa chegar a mais pessoas, bem como as ações de angariação de fundo, existindo para o efeito um conjunto vasto de materiais alusivos à iniciativa, a disponibilizar mediante solicitação dos interessados.
“A participação é fácil e está ao alcance de todos que, de forma institucional, individual ou em pequenos grupos, podem organizar uma atividade de angariação de fundos ou, simplesmente, divulgar as mensagens desta campanha junto dos que os rodeiam”, explica o Núcleo, esclarecendo que todos os materiais de sensibilização e divulgação necessários, assim como merchandising, são disponibilizados por si.
As inscrições para a iniciativa “Outubro Rosa 2020” e toda a informação da campanha encontram-se disponíveis em https://www.ligacontracancro.pt/outubrorosa/. Se necessário, os interessados podem contactar o Núcleo Regional do Centro da LPCC através do telefone 239 487 490 ou pelo e-mail outubrorosa.nrc@ligacontracancro.pt.
Ao longo do mês, nas várias iniciativas, há duas datas que o NRC vai destacar – 15 de outubro, Dia Mundial da Saúde da Mama e 30 de outubro, Dia Nacional de Prevenção do Cancro da Mama.
Liga procura voluntários para Peditório Anual
A Liga Portuguesa Contra o Cancro vai realizar o seu Peditório Anual de 29 de outubro a 2 de novembro, com a devida autorização do Ministério da Administração Interna. Como habitualmente, precisa de voluntários para ajudar nesta iniciativa, lançando por isso um apelo a todos os cidadãos para que se juntem a esta causa, “tornando-a maior e mais abrangente, no objetivo de fazer da luta contra o cancro um exemplo nacional de entreajuda e de solidariedade”.
As inscrições podem ser efetuadas no site da Liga, em https://www.ligacontracancro.pt/peditorio/, e cada voluntário participará mediante a sua disponibilidade, podendo estar apenas num período ou nos cinco dias.
Sónia Silva, psicóloga do Núcleo Regional do Centro da LPCC, lembra que esta “é uma iniciativa muito importante de angariação de fundos”, apelando à comunidade para que participe e ajude.