23 de Março de 2025 | Coimbra
PUBLICIDADE

MANUEL BONTEMPO

Pedaços da pintura de Isabel Zamith

4 de Setembro 2020

Ao idealizar o quadro, esta artista descamba para a completa absorção numa espécie de delírio desperta ou numa morbosa exacerbação que lhe faculta um desenho excelente, original mesmo, o traço é sempre subtil, e possui a fantasia de cobrir a tela, em temas curiosos, onde existe a integridade da harmonia, das perspetivas, dos ângulos, dos claros/escuros.

Ou seja Isabel Zamith pinta numa determinada poesia, quase em surdina que não cristaliza em modelos, inventa, transfigura, recria a arte que embeleza a vista de quem contempla a sua obra meritória.

Sabemos da valia intrínseca desta pintora que não se fecha em casulo e aproveita a investigação e as lições da história de arte para de vez em vez dar-nos verdadeiros “originais” num entendimento clássico que não olvida a irreverência do cromatismo, da qualidade que não peca pelo “academismo corcomido”, e transmite uma atitude vertical de obrar beleza, verdade.

Gostamos, portanto, de ver esta artista que faz parte do naipe dos grandes pintores do país e na sua continuidade, da sua presença, nas nossas galerias, bem precisa pela sensibilidade demonstrada de Norte a Sul, num fluido imponderável pela valia estética que desenvolve nas telas, as ideias, conceitos, formas, numa curiosa filosofia de que se preza e ressalta nalguns quadros as teorias psicanalistas de Freud dando a pintora o realismo literário ou mesmo um saber intelectualista que será, certamente, um toque pessoal dominado pela técnica, usando a cor no seu “sítio” no momento psicológico.

Pintura impressionista ou idealista, ela representa de maneira eloquente a idiossincrasia da pintora os pormenores somânticos do seu verbo, e artista amando o seu país!

Arte extrovertida não impede que muitas vezes composições nascerem do subconsciente, inspiradas pelo impulso criador, nato sempre em conta nesta singular pintora de atitude pessoalista que procura desnudar a sua alma para ser como é!

A sua pintura é uma experiência íntima sem ser “intimista” e não está livre de especulações éticas, como convém a uma artista e é, por outro lado, um ato de fé! Pintura elaborada mas também, de uma narrativa curta, lavada, fresca, transparente mesmo no jogo surrealista que se transforma numa nova visão do mundo com uma gramática universalista da genuína pintura deste artista.

Não se contenta com superfícies nem com o fideísmo de Lamennais, sai de dentro para fora com a sua arte soberba!…


  • Diretora: Lina Maria Vinhal

Todos os direitos reservados Grupo Media Centro

Rua Adriano Lucas, 216 - Fracção D - Eiras 3020-430 Coimbra

Powered by DIGITAL RM