Com esta edição “O Despertar” completa 105 anos de publicação. Longevidade que o mantém como o Jornal mais antigo de Coimbra e um dos mais antigos do país. Convenhamos que são muitos anos ao serviço de uma causa – os interesses de Coimbra e suas gentes –, atravessando períodos controversos da história de Portugal, momentos difíceis de sobrevivência, resistindo umas vezes melhor outras vezes pior, mas hasteando sempre a bandeira da humildade, sem cedências na vontade de continuar. Claro que não há cosmética que disfarce uma idade tão longa, mas mais que uma juventude perdida queremos manter a vontade e a força de mantermos a passada, atravessando as incertezas das manhãs de preocupações como muitas e tantas vezes nos pomos a caminho de mais um dia de trabalho.
Sejamos francos: “O Despertar” está longe de ser um negócio ou uma actividade de rentabilidade assegurada. Longe disso, mas segue a cartilha dos humildes. Se tem carne come carne, se a não tem chucha a cabeça de um peixe barato. Mais do que na barriga cheia, este Jornal aposta no sentido do dever, no rigor da informação que presta todas as semanas, não cede à verdade nem às tentações com que lhe acenam os grupos sociais e políticos da modernidade que se esforçam por dar nas vistas e condicionar a informação ao sabor das suas conveniências de cada momento. “O Despertar” corre por fora e em linha própria à margem disso tudo, sem ceder na linha editorial, feita de verdade e honestidade, que os seus fundadores nos legaram e que manteremos enquanto para isso tivermos forças e pudermos caminhar por meios próprios.
Nessa linha de humildade e de verdade, cá nos vamos mantendo e se a saúde não trair nenhum de nós, por cá nos manteremos até se fazer dia. Somos assim, temos sido assim e assim queremos continuar a ser. Constituímos uma família com os nossos leitores, assinantes, anunciantes e colaboradores e é no seu seio que nos sentimos bem, nos aconchegamos nas horas mais difíceis. O caminho seguido, hoje como ontem, permite-nos cumprir a nossa missão a contento e permite-nos andar de cabeça levantada. Sem a interferência condicionante de grandes grupos económicos, políticos ou sociais, cá vamos prosseguindo na nossa passada ritmada, podendo dizer com orgulho que, 105 anos depois, “O Despertar” tem todas as suas contas em dia. Ainda que de quando em vez tenhamos de chuchar a cabeça do tal carapau encardido.
Este sentido de verdade e de franqueza para com o nosso público é uma exigência que julgamos ter herdado das gerações que nos precederam. Sempre conhecemos “O Despertar” doutros tempos como uma referência ética e de rigor no campo informativo, colocando sempre os interesses de Coimbra na linha das suas preocupações basilares. Desde há cento e tal anos que não haverá em Coimbra medida, projecto, decisão de vulto, que tenham ficado de fora das páginas deste Jornal. E se aceitamos esse compromisso ético assumido pelos fundadores do Jornal, se o renovamos quando aceitamos de Fausto Correia, em nome da família Sousa, não poderemos andar de cabeça levantada se mudarmos um rumo e uma postura com a qual comungamos por inteiro.
Mas este sentido de exigência não é apenas uma questão de herança. É-o também para com os nossos leitores, Assinantes em especial, alguns pertencentes a esta família há 70/80 anos, passando de pais para filhos e netos como fazendo parte de um dote que se renova a cada instante. Fiquem, pois, os nossos leitores, certos de que, bem ao jeito de Sá de Miranda, mais fácil será partirmos que vergar. Sempre com o foco em Coimbra, a grande razão de ser da nossa existência de há mais de um século.
Sentido de exigência que se mantém para com os nossos Colaboradores, a quem aqui deixamos uma saudação muito especial. Pelo contributo que nos dão, é certo. A sua colaboração renova-nos o ânimo em cada edição e não podemos deixar de nos inclinar perante Colaboradores que, com tanta fidelidade, expandem o seu pensamento nas páginas do Jornal. Alguns fazem-no há largas dezenas de anos; os mais recentes levam já o tempo suficiente para que os possamos olhar e ver como irmãos de uma causa tão nobre, como é lutar por Coimbra e pela sua afirmação constante no todo nacional, sem cedências que algumas outras metrópoles trocam por miúdos, beneficiando maliciosamente uns poucos em prejuízo de tantos muitos.
Como poderíamos descurar aquele sentido de exigência se nesta caminhada não tivemos ainda de nos amparar nas muletas do desespero, graças aos nossos Anunciantes. São eles, eles e os Assinantes, a sustentabilidade económica deste projecto editorial. Podemos não lhes oferecer um Jornal de distribuição massiva, tantas vezes alimentada de exemplares que ninguém compra nem lê e apenas servem para manter as aparências. Connosco isso não acontece. O que somos, somo-lo de verdade. Os Anunciantes que em nós confiam podem ter a certeza que a nossa aposta é no rigor ético, na credibilidade, na honra e não nas falácias de alguma modernidade, onde as verdades de ocasião se alimentam das mentiras de conveniência de cada instante. “O Despertar” não vai por aí. E estamos certos que toda esta família – leitores, assinantes, colaboradores e anunciantes – não querem que esse seja o caminho, por mais sedutor que possa parecer. Recordamos Bocage, certos de que quando à “cova escura formos parar”, perdemos a vida mas não a honra.
Obrigado a todos.
Lino Vinhal