A recente transferência do jogador João Félix do SL Benfica para o Atlético de Madrid, pelo valor recorde de 126 milhões de euros, causou profundo impacto não só no mundo do futebol, mas também em setores conexos como a banca ou nos mecanismos de vigilância e fiscalização económica.
Os analistas, consoante o prisma pelo qual alinham, procuram dissecar a operação, tanto em matéria desportiva como económico-financeira. É, em qualquer dos casos, um sucesso para o clube vendedor, que cede um jogador muito jovem e promissor a uma das principais equipas espanholas, sem que o mesmo tenha provado, a meu ver, tudo aquilo que dele se espera – um pouco à semelhança da operação que levou Renato Sanches para o Bayern, com os resultados conhecidos.
A origem dos milhões envolvidos na transação, através da complexa operação financeira mediada pelo mediático agente Jorge Mendes, levaram a eurodeputada Ana Gomes a questionar todo o processo, verbalizando na praça pública o sentir, certamente, de milhares de portugueses, epigrafando-o de «negócio de lavandaria».
Não possuo elementos objetivos que me permitam duvidar da legalidade da operação. Contudo, a demora no anúncio da transferência, os créditos bancários necessários para a sua viabilização (diz-se que na casa dos 300 milhões de euros pagos a 30/40 anos), ou o acompanhamento especial do Fisco e da CMVM, parecem subjetivar a existência de uma cortina de fumo que só o futuro dissipará.
Numa sociedade onde o dinheiro está cada vez mais mal distribuído e concentrado numa pequena elite, em que se acentuam as desigualdades sociais e territoriais, com notícias diárias de esquemas de corrupção, tráfico de influência e lavagem de fortunas é lícito questionar: de onde vem tanto dinheiro?