Os resultados das últimas eleições europeias traduzem parte da situação difícil da nossa democracia participativa: 70 em cada 100 eleitores, aproximadamente, não foram votar; o partido mais votado (PS) obteve 10 por cento do universo total de votos; o centro-direita (PSD) continua em queda acentuada incapaz de se assumir como alternativa credível; a esquerda histórica (CDU) ronda a inexpressividade; a esquerda da esquerda (BE), com posições antieuropeístas, duplicou a presença no parlamento europeu; e o PAN emerge como força partidária sem programa ou posicionamento ideológico mas com discurso eficaz.
A mensagem que o eleitorado passou a quem nos governa parece-me óbvia: a Europa é um assunto distante e ignorado da vida dos portugueses, com saturação visível da vida política e dos políticos incapazes de renovação e envolvidos em sucessivos escândalos. Por outro lado, os 30 por cento que foram votar mostram uma nítida preferência pelas políticas de esquerda em detrimento das apresentadas pela direita – que continua perdida algures entre a herança da troika e a incapacidade de se refundar.
Em consequência desta realidade temos uma classe política desacreditada e o sistema democrático deslegitimado com tão fraca representatividade. Não obstante os sucessivos apelos ao voto, a sociedade portuguesa assobiou para o lado, preocupada com as coisas do dia a dia, há muito desligada das causas nacionais, quanto mais das europeias.
Em condições normais exigia-se uma reflexão alargada e medidas excecionais: aplicação do voto obrigatório, formação curricular especifica transversal a todos os níveis de ensino, alteração do modo de funcionamento dos partidos, ampla discussão nacional. Porém, e à semelhança de outras eleições, tudo continuará como dantes: rumo à vertigem do populismo, demagogia, hipocrisia e arrogância que um dia – oxalá me engane – acabará por nos trair.