Todos queremos o melhor para a nossa vida incluindo a familiar, a começar pelos filhos. É humano, é legitimo e faz parte de uma regra básica da sociedade, diria mesmo, da lei da vida. Compreende-se e aceita-se que assim seja, sendo a anormalidade o seu contrário.
Transportar esta lógica para a esfera da governação tem sido um dos pecados capitais do nosso regime democrático, acentuado nesta legislatura, onde o princípio da relação da confiança pessoal subjacente aos cargos de nomeação política foi, paulatinamente, substituído por uma confiança de base familiar, excessivamente, próxima e intimista.
De certa forma até compreendo esta necessidade de implementar um novo paradigma: «Pais és, filho serás» – reflexo da desconfiança, da competitividade, da ascensão social, da necessidade em alcançar tão breve quanto possível o bem-estar económico-financeiro.
A prática, que não se cinge à esfera da governação central, tem um nome técnico muito citado nas ciências sociais e humanas – nepotismo: favorecimento de parentes ou amigos próximos em detrimento de pessoas mais qualificadas, geralmente no que diz respeito à nomeação ou elevação de cargos públicos e políticos.
Do ponto de vista histórico acredita-se que a origem de tal procedimento começou no seio do Papado, consistindo na atribuição de posições de relevo na hierarquia eclesiástica a elementos da própria família que depois se alargou não só dentro da própria igreja, mas também à corte e nobreza.
Estamos, assim, perante um comportamento vulgar no tempo das Monarquias (absolutistas e constitucionais), duramente criticado pelos seus opositores e rastilho de motivação para as alterações de regime, designadamente, a consolidação do Republicanismo e Democracia no séc. XX.
Não sei se os nossos governantes conhecem a História, fingem conhecer ou preferem ignorá-la. É um direito que lhes assiste em Democracia. Mas não se esqueçam das lições que a História nos ensina: nada dura para sempre, sendo certo que os populismos se alimentam deste aburguesamento das práticas democráticas – pelo que, num horizonte mais ou menos distante, alguém pagará a fatura.