A solidão e isolamento a que tantos idosos estão votados no nosso país tem sido uma preocupação constante. Esta situação torna-se agora ainda mais “aflitiva” com a pandemia da Covid-19, uma vez que, sendo eles uma das faixas etárias de maior risco, a recomendação é para que se mantenham em casa, em tantos casos longe de familiares e amigos, continuando com receio de retomar algumas das suas rotinas.
Apesar de algumas instituições e entidades estarem a retomar progressivamente as atividades com os seniores, há muitos que continuam a ter receio de voltar, não só pelo medo da aproximação aos outros mas também por tudo ser mais difícil nesta fase, fruto dos condicionalismos que a Covid-19 impõe, nomeadamente o constante uso de máscara e permanente desinfeção das mãos.
Nestes dias de tanta incerteza que vivemos, mais do que nunca é preciso olhar para os nossos idosos de outra forma, assegurar que a solidão não se torna demasiado pesada e acautelar que nada lhes falta. Várias entidades, públicas e privadas, têm assumido essa função social, conscientes de que não basta garantir fornecimento de bens mas de que é preciso levar algum conforto emocional, no fundo uma palavra amiga que lhes dê confiança e os ajude a acreditar que vai ficar mesmo tudo bem.
De facto, neste período tão difícil para todos, importa acautelar a saúde, evitar a propagação do vírus mas, também, assegurar o bem estar dos idosos – e restante população – no seu todo, sem descurar a vertente emocional e mental.
GNR identificou perto de 42 mil idosos em 2019
A questão da solidão e do isolamento tem merecido uma atenção especial da própria Guarda Nacional Republicana (GNR) nos últimos anos, que tem vindo a realizar desde 2011 a operação “Censos Sénior 2019”, precisamente com o intuito de identificar os idosos que vivem sozinhos, isolados ou em situação de vulnerabilidade (fruto da sua condição física, psicológica ou outra que possa colocar a sua segurança em causa).
Nos últimos “Censos”, realizados em outubro do ano passado, identificou perto de 42 mil idosos nessa situação, tendo sinalizado 215 situações de maior vulnerabilidade, que encaminhou para as entidades competentes, sobretudo de apoio social.
Os distritos de Vila Real (4.736), Guarda (4.183), Faro (3.272), Viseu (3.201), Portalegre (3.147) e Bragança (3.142) são os que registavam maior número de casos nesta situação. No distrito de Coimbra foram identificados 1.274.
Durante a operação, os militares privilegiaram o contacto pessoal e a realização de ações em sala, no sentido de sensibilizarem e alertarem este público-alvo para que não adotem comportamentos de risco, evitando que se tornem vítimas de crimes, como furtos, roubos ou burlas.
Desde 2011, ano em que foi realizada a primeira edição da operação “Censos Sénior”, a GNR tem construído uma base de dados geográfica, cada vez mais completa, proporcionando assim um melhor apoio à população idosa, procurando criar, por um lado, “um clima de maior confiança e de empatia entre os idosos e os militares da GNR” e, por outro, “aumentar a sua capacidade de intervenção em casos de emergência, potenciando uma segurança efetiva e o aumento do sentimento de segurança dessa população”.
512 mil idosos portugueses vivem sozinhos
Já este ano, em junho, o Gabinete de Estatística da União Europeia (UE), o Eurostat, deu conta que cerca de 512 mil idosos vivem sozinhos em Portugal. Mas, apesar de preocupantes, estes dados mostram que Portugal é um dos países da UE que tem menos pessoas com mais de 65 anos a viverem sós.
Há, contudo, um dado comum a todos os países – são as mulheres as que estão mais sozinhas. Os números referem que em Portugal são cerca de 417 mil as idosas que moram sozinhas e, a nível europeu, mostram que quatro em cada 10 mulheres com 65 anos ou mais estão nessa condição. Em termos estatísticos, cerca de 40 por cento das mulheres residentes no espaço europeu vivem sós, contra 19 por cento dos homens.