Mais de cem viaturas concentraram-se ontem (1 de julho) na Praça da Canção, em Coimbra, num comício ‘drive in’, em defesa do Hospital dos Covões, com intervenientes a pedir uma reversão da fusão com os Hospitais da Universidade de Coimbra (HUC).
Os carros desfilaram pela cidade, num percurso que começou junto aos Covões, atravessou as ruas em direção aos HUC e desceu à Baixa, terminando na Praça da Canção. Com cartazes e muitas buzinadelas, sensibilizaram todos para a importância que este hospital tem para a cidade e para a região.
No final do desfile, na Praça da Canção, decorreu um comício ‘drive in’, organizado por um grupo informal de profissionais de saúde. Com uma parte das pessoas dentro dos carros, a substituir as palmas por buzinas, e uma outra parte fora, vários intervenientes deram voz às suas preocupações em relação ao Hospital dos Covões, integrado no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) em 2011.
A antiga diretora clínica do Hospital dos Covões, Deolinda Portelinha, foi uma das primeiras a subir ao palco, onde mostrou preocupação com aquilo que tem sido o passado recente do hospital, desde unidades com novas instalações que foram desmanteladas à rejeição da instalação da maternidade do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) na área daquele hospital.
“O hospital foi desativado em diversas áreas com prejuízo para a saúde de Coimbra e da região”, frisou, acrescentando que o “ataque” surgiu ao mesmo tempo que “passaram a florescer as [unidades de saúde] privadas” na cidade.
Também o antigo presidente do Conselho de Administração do Hospital dos Covões, Rui Pato, criticou o “desmantelamento” daquela instituição, considerando que aquilo que hoje se assiste nesta unidade hospitalar é apenas reflexo de algo que sempre viu desde o primeiro dia em que trabalhou lá como médico.
“Aquele hospital foi sempre alvo de um ataque soez por parte dos Hospitais da Universidade [de Coimbra]. Nunca tivemos solidariedade daquele hospital”, afirmou, notando que, “pela primeira vez, Coimbra está a voltar-se para a margem esquerda [onde está situado os Covões]”.
Para Rui Pato, o “desmantelamento dos Covões” não tem “lógica nenhuma” e “não vai trazer nada de bom à saúde” das populações.
Um utente, que também usou da palavra, recordou o dia em que foi salvo nas urgências dos Covões, não esquecendo “o sorriso dos profissionais” que o socorreram nem a “competência e eficácia” da equipa. Pediu, por isso, que “não matem o Hospital dos Covões”.
Já o médico Carlos Costa Almeida, primeiro subscritor de uma petição que deu entrada na Assembleia da República que pede a devolução da autonomia ao Hospital dos Covões, salientou que é preciso perguntar à ministra da Saúde se houve “algum estudo ou avaliação” para a fusão dos hospitais que levaram à criação do CHUC.
“Não houve”, respondeu, considerando que, passados nove anos, o resultado da fusão é “péssimo”, sendo que o “único caminho” para que haja uma melhoria da saúde em Coimbra e na região Centro passa pela reversão dessa mesma medida, concretizada em 2011.
“A única solução é a separação dos hospitais. Coimbra precisa de dois hospitais gerais centrais, como teve durante 45 anos e nunca ninguém se queixou e nunca houve manifestações. Com a fusão, ao fim de nove anos, toda a gente se queixa”, frisou Carlos Costa Almeida.
Também Diogo Cabrita, médico nos Covões e um dos organizadores da iniciativa de ontem, corrobora a posição de Carlos Costa Almeida.
“Eu quero um estudo. Quero que me mostrem se valeu a pena. E, se não valeu a pena, que se repensem as coisas”, disse, considerando que a fusão foi um erro.