4 de Outubro de 2024 | Coimbra
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VASCO FRANCISCO

“Ler é viajar…”

28 de Agosto 2020

Há livros que nos conquistam desde o primeiro capítulo, obras que nos fazem embarcar em viagens longas e apetecíveis. Convida-nos a uma dessas viagens no espaço e no tempo a trilogia romanceada de Eurico Machado Costa que, além de um singular escritor, é um verdadeiro guia pelas várias componentes que compõem as suas palavras. A leitura de cada página dos seus livros leva-nos a querer desfolhar outra e outra… numa sucessiva curiosidade e integração num enredo que cativa o leitor.

Numa clausura quebrável a cultura tomou conta dos claustros do majestoso mosteiro de Santa Clara a Nova, naquela tarde de verão que se recorda como o completar de uma trilogia literária, pelas palavras deste autor que merece ser lido. “Os Fugitivos de Caconda”, obra apresentada neste Real Convento, ampla varanda para a Lusa Atenas, é o findar de uma viagem em que várias vezes embarcamos e nos figuramos em cenários ímpares que através do detalhe que Eurico lhes dá, nos faz estar em lugares que hoje nunca poderíamos assistir de outra maneira. Neste convento, onde se deu o desfecho surpreso e esperançoso das personagens principais deste último romance, pode-se deslumbrar os contornos da velha cidade onde deambula a memória de “A Princesa do Mondego”, numa balada narrada entre tricanas e estudantes, futricas e doutores.

O Mondego é em toda a trilogia o leito fecundo de inspiração, de amores e de amarguras, esse mesmo leito que desagua no Atlântico imenso, o único caminho para encontrarmos “O Filho do Marquês”. Três livros que se condensam numa obra que nunca deixará de encontrar leitores. Resumi-los seria difícil, pois só lendo é que poderá refletir e entender a imensidão social, humanista e histórica que os romances transmitem. Não vai sozinho na leitura, o narrador leva-o pela mão, sentirá com ele o bucolismo das paisagens, a ansiedade das tempestades, numa obra aventureira e admirável. Ler os romances deste escritor que Coimbra adotou como seu é usufruir de uma escrita notável e primorosa que faz lembrar algo queirosiano, numa contemporaneidade com futuro. Esse futuro onde não perderei as próximas obras deste romancista que Coimbra e a literatura hão de estimar.


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