O relógio vai ditando as horas num compasso natural. Distinguem-se os seus ponteiros que coroam aquela fachada pitoresca que sobressai aos olhos do visitante e já hábito e utilidade do indivíduo que diariamente ali passa embutido no corrupio urbano. De singular beleza arquitetónica, onde a pedra e o ferro se levantam numa traça que inspirou os seus arquitetos, a Estação Nova (CA) assume-se uma peça do património e da mobilidade. Abrira-se um novo capítulo na urbanização de Coimbra naquele dia 18 de outubro de 1885 aquando da sua inauguração pela Companhia Real de Caminhos de Ferro Portugueses, contando 135 anos de ferrovia, sendo o edifício atual datado dos anos 30 do século passado. O comboio chegara ao centro da cidade, facilitando desde então a proximidade à Baixa e à Alta. Serviços, comércio e hotelaria foram crescendo com esta ligação que se viria a completar em 1906 com a abertura do saudoso Ramal da Lousã, caminho secular que conduzia ao Interior que tanto festejou pela chegada do Comboio. Entre cerros e vales o esfumaçar das locomotivas ascendia entre as serranias onde ecoava aquele apito gritante sinónimo de avanço e de população. Mais tarde máquinas mais modernas faziam o mesmo percurso que se traçava no bucolismo das paisagens entre o Mondego e o Ceira. Há dez anos que o silêncio imperou nessa “estrada” tão útil, destruída por forças políticas e iludida em promessas falhadas.
Chega à cidade a definição de METRO e a vontade de o implementar, com este desejo vai-se destruindo parte do património do distrito. Depois do encerramento das estações e apeadeiros entre Coimbra e Serpins, ronda na imprensa e na boca da sociedade o fecho da Estação Nova, dando lugar futuramente esta construção a um centro cultural que até já tem nome, batizando-o Miguel Torga, o médico e escritor que tantas vezes terá passado pelos pórticos do edifício. Ficaria talvez este aborrecido com o findar da mesma.
Olhamos a memória de uma estação de onde tantos partiram com as malas da emigração, enquanto outros chegavam à cidade que lhe diria o futuro, onde chegaram tantos estudantes e se despediram de Coimbra tantos doutores. Ano pandémico, século XXI e este ponto continua a ser das principais entradas na cidade, onde chegam centenas de passageiros num movimento cotio, operários, comerciantes, professores, estudantes, turistas e demais. Mesmo que o Metro chegue, talvez aquando do aeroporto, será um erro fechar esta estação que serve não só os conimbricenses e gente dos arredores, mas que serve portugueses e estrangeiros. Nada valem estas meras palavras, no entanto que resistam pelo valor social e histórico da Estação.