Depois de muitos avanços e recuos, o projeto do futuro Metrobus parece ter entrado, finalmente, nos “carris”. A empreitada para a abertura do canal na chamada Via Central, na Baixa de Coimbra, foi lançada na semana passada, numa cerimónia em que foi recordado, com alguma mágoa, o caminho árduo que este projeto tem vindo a sofrer ao longo de mais de 20 anos.
Privadas do seu comboio há cerca de 10 anos, desde que os carris foram desmantelados para dar início à instalação do Sistema de Mobilidade do Mondego (SMM), as populações de Coimbra, Lousã e Miranda do Corvo não foram esquecidas nesta cerimónia, que contou com a presença dos autarcas dos três municípios (respetivamente Manuel Machado, Luís Antunes e Miguel Baptista), bem como de outros representantes de concelhos vizinhos e de várias entidades regionais e nacionais.
Em representação do Governo, o secretário de Estado das Infraestruturas e Habitação, Jorge Delgado, pediu desculpas às populações pelo arrastar deste projeto que tanto as penalizou.
“Desde 2010 que as populações de Coimbra, de Miranda do Corvo e da Lousã estão sem o comboio, que circulou durante mais de 100 anos, e essa perda tem sido bem sentida por todos. Não vou fugir aqui às responsabilidades que também foram de governos liderados pelo partido de que faço parte. A ideia começou por ser instalar um metro de superfície. Arrancaram-se os carris do velho comboio e as obras para materializar o metro de superfície chegaram mesmo a arrancar”, recordou, lamentando que, pouco tempo depois, “o SMM hibernasse”, tendo vivido, depois disso, várias fases.
Largas dezenas de pessoas assistiram ao lançamento da empreitada do canal do Metrobus, na Baixa
“As críticas sobre os avanços e recuos que já sofreu são justos e são óbvios. Devemos por isso, enquanto governantes, um pedido de desculpas às populações desta região. Porque mesmo que alguns dos constrangimentos possam até não ser diretamente imputáveis a quem tinha o poder de decisão, uma coisa é certa, quem não teve culpa de nada foram de certeza as populações”, sublinhou.
Considera, por isso, que o dia do lançamento desta empreitada foi muito importante para a cidade e para a região. Apesar de admitir que a solução adotada não é a prometida inicialmente, que assentava num metro ligeiro, sobre carris, entende que “do ponto de vista do serviço à população não irá ser muito diferente”, tratando-se esta solução de Metrobus de “um projeto pioneiro em Portugal de que todos nos devemos orgulhar”.
Assegurou que a obra agora “não vai parar”, contemplando o Orçamento de Estado para este ano 22 milhões de euros para o SMM, projeto que inclui intervenções não só no antigo ramal ferroviário da Lousã, mas também a construção de uma linha urbana, em Coimbra, entre a Baixa e os Hospitais da Universidade. O governante recordou que está a decorrer o concurso para a construção da ligação Serpins Alto de S. João, que espera “poder adjudicar muito em breve”, e anunciou também para “breve” o concurso para a construção da ligação Alto de S. João e Coimbra B.
Jorge Delgado garantiu que o compromisso do Governo com este projeto “é total e absoluto” e prometeu “ fazer todas as obras e iniciar a operação, de forma faseada, ainda em 2022, concluindo este processo até ao final de 2023, data em que o sistema deverá estar integralmente em serviço”, altura em que as populações terão “um serviço de transportes moderno, confortável e frequente”.
Manuel Machado recordou os avanços e recuos do projeto, bem como os “mais de 90 estudos” produzidos e os 118 milhões de euros gastos. Considera que este é “um dia histórico” que renova a esperança das populações, fazendo-as voltar “a acreditar no projeto”. Sublinhou que “agora é tempo de fazer” e que todos estarão “de olhos postos” naquilo que será feito neste canal, um local de grande visibilidade na cidade que irá dar passagem aos autocarros elétricos que farão a ligação aos Hospitais da Universidade.
O presidente da Metro Mondego, João Marrana, considerou que esta é uma intervenção “absolutamente necessária” para que o SMM possa funcionar. Com um prazo de execução de 24 meses, considera que é um projeto que irá contribuir para “a revitalização da Baixa” e que será “muito relevante, prevendo a localização de comércio, serviços e habitação, contribuindo para revitalizar a atividade local, garantindo que se mantém a adequada vivência permanente dos espaços públicos”.