José das Neves Elyseu nasceu em Coimbra, faleceu a 13 de novembro de 1915, foi responsável pela criação da Balada de Coimbra e a alteração dos ranchos folclóricos, para as atuações nos Santos Populares, tornando-os o que são hoje.
O neto, com o mesmo nome do avô, José Eliseu, partilha com o Despertar o motivo do orgulho que tanto tem ao seu ente querido. “Foi tocador de Rabeca, músico, compositor de modas destinadas ao Rancho do Pátio da Inquisição, foi funcionário da Escola Agrária de Coimbra, participou nas serenatas de Penacova, fundou duas tunas em Coimbra e tinha uma escola de música”.
Balada de Coimbra
A balada de Coimbra foi criada em 1898 e tem como nome original “Ballada”. Este simbolo conimbricense é cantado na Serenata e na entrada em campo da Associação Académica de Coimbra.
“A canção, Balada de Coimbra, feita com tanto amor pelo meu avô, José das Neves Elyseu, foi atribuída a Artur Paredes que foi condenado pela adoção desta música como sua. Acabou por ter de pagar cerca de 400 contos na altura e dizer o nome dele antes de a cantar”, conta-nos.
O neto tenciona mostrar que afinal a música mais “badalada” de Coimbra foi realizada pelo seu avô e não por Artur Paredes, que se auto intitulou autor dessa canção e da Balada do Mondego, também composta por Elyseu.
Desta forma pretende manter viva a memória do seu avô e deste marco da cidade de Coimbra.
“Magoa-me quando há professores que dizem que a Ballada está a perder o interesse e a querem retirar do leque de canções típicas de Coimbra. Assim como pretendem extinguir o Fado de Coimbra. Acho impensável. Eu não quero que isto aconteça, que as pessoas se esqueçam destes símbolos da cidade”, confessa.
Os ranchos mudaram
José Elyseu, além de todo o repertório profissional, destaca-se, sobretudo pela alteração dos ranchos na altura das marchas populares de São João, São Pedro e também das homenagens que são feitas à Rainha Santa Isabel, nas procissões, que este ano ocorrem novamente, na quinta-feira e no domingo.
“Marcou com as bonitas canções que escrevia, compunha e pela dinâmica dos bailados que agora se utilizam nos ranchos. O meu avô foi chamado ao Pátio da Inquisição para que fossem vistas as mudanças que gostaria de realizar para inovar estes grupos. E, como não podia deixar de ser, foram aplaudidas e elogiadas, originando os ranchos como os conhecemos”, conta ao Despertar.
Esta criação serviu de modelo para inúmeras digressões pelo país, principalmente na Beira Litoral. Atraiu, naquela época, um vasto leque de sucessos, com novas músicas e canções. “Uma das estrelas mais cintilantes foi o mestre do violino e compositor José das Neves Elyseu, que ainda hoje continua a integrar o repertório dos executantes da guitarra de Coimbra”, assume o neto, José Eliseu.
A homenagem a estas alterações tão cobiçadas e adotadas pelos diversos grupos folclóricos foram realizados, após o falecimento do mesmo, pelo Rancho Folclórico Tricanas de Coimbra.
As músicas de Elyseu foram passando de boca em boca até que Dulce Pontes interpretou o tema “Bonequinha” e à posteriori o gravou como “Aí Solidom”.
“Eu só não quero que a memória do meu avô seja esquecida e que atribuam a outros o que tanto trabalho lhe deu a conquistar. Tenho muito orgulho nele e em tudo o que ele criou, porque o Fado de Coimbra, a Canção de Coimbra e a Balada de Coimbra têm muita mão dele. Não quero que isto acabe”, remata, emocionado, José Eliseu.