Os enfermeiros, bem como todos os profissionais que trabalham nos hospitais, estão a viver “num cenário de arrepiar”. Ricardo Correia de Matos, presidente da Secção Regional do Centro da Ordem dos Enfermeiros (SRCOE), assume que “nunca antes se viveu nada assim”, estando o novo coronavírus a exigir um esforço adicional de todos.
“Até me arrepio quando vou aos hospitais e vejo a gravidade do que lá se vive”, sublinha, enaltecendo o trabalho dos enfermeiros, que asseguram um acompanhamento 24 horas por dia, “prescindindo diariamente da sua família, dos filhos e de um acompanhamento mais próximo aos seus para estarem confinados aos hospitais”.
Neste contexto atual, com a Covid-19 a exigir esforços e medidas excecionais de todos, Ricardo Correia de Matos deixa uma palavra de gratidão e estímulo “às dezenas de colegas enfermeiros que, neste momento, vivem em hotéis e apartamentos cedidos por beneméritos, não vendo as suas famílias há mais de um mês”.
Enaltece o seu espírito de missão e os “enormes sacrifícios que estão a fazer em prol daquilo que é o nosso futuro e da proteção da nossa população mais idosa”, sublinhando que é fundamental que a sociedade e as forças políticas reconheçam e valorizem “o papel absolutamente ímpar e imprescindível que os profissionais de saúde têm, neste caso em particular os enfermeiros”.
Lamenta que, neste ano tão especial para os enfermeiros, decretado pela Organização Mundial de Saúde como o ano de apoio a estes profissionais, o Dia Internacional dos Enfermeiros, que se comemora a 12 de maio, não possa ser celebrado como estava previsto. “A pandemia veio mudar todos os nossos planos. Tínhamos planeado fazer várias atividades a nível regional, com focos em todos os distritos, em parceria com as escolas de enfermagem mas tivemos que optar por outra estratégia”, realça, sendo certo que, “com arrojo e criatividade”, a data será assinalada mais num contexto nacional, através das redes sociais, e focada “na importância da valorização dos enfermeiros”.
“Temos que mostrar a todos os portugueses aquilo que é a nossa realidade. Infelizmente, durante muitos anos, só quem efetivamente estava nos hospitais ou necessitava de cuidados mais diferenciados é que tinha uma noção mais clara daquilo que é o nosso trabalho. Queremos mostrar a Portugal e aos portugueses aquilo que fazemos com várias intervenções públicas, através das plataforma digitais, e agradecer-lhes pelo trabalho que estão a fazer”, sublinha.
Ricardo Correia de Matos lembra, ainda, que a Ordem dos Enfermeiros defende há muito que “a saúde não deve ser encarada como um setor absorvente de recursos económicos e financeiros mas antes, indubitavelmente, como o maior fator de desenvolvimento cultural e de agregação sociocultural das sociedades modernas”. Diz que “é um pilar absolutamente fundamental para o desenvolvimento económico”, lamentando que todas as profissões do setor da saúde – e não apenas a enfermagem – não sejam devidamente valorizadas, continuando a viver “com baixas dotações orçamentais” e a carecer de investimentos a nível da “requalificação de hospitais e das equipas multidisciplinares”.