A Dor é bem-vinda
Quando há pulso firme.
Na voz queda ainda
O Engenho a invadir-me.
Os doutos austeros
De límpidas águas
São náufragos meros
Na espuma das mágoas.
Por isso me faço
Ao mar que em mim torço.
É só com um braço
Que remo e sem esforço.
Mais vale eu zarpar
Perante a intempérie
De em terra avistar
Amarras em série.
Um Vate não teme
Sair do seu cais,
Pois ele vai ao leme
Em busca de mais.
Além horizonte,
Pescando sereias,
Eu lanço uma ponte
Sobre outras areias.
Após tal momento,
Num verso-farol,
Eu sou Firmamento
E atraco no Sol.
Com alma já nua,
Sem fomes, nem sedes,
Apenas a Lua
Eu trago nas redes.
Silêncio no Mundo,
Que o mar Céu virou!
Na Dor, lá no fundo,
Deus é como eu sou!