Muitas vezes o turismo é a salvação para males maiores. O comércio desespera pela chegada dos turistas, principalmente durante o verão, para ver aumentar o seu negócio, sobretudo na área da restauração. Mas nem todos têm a mesma sorte e há lojas de souvenirs que nem nas, supostas, épocas altas conseguem ver melhorias. É o caso da loja Antiga Farmácia que, embora tenha ficado com o mesmo nome quando foi adquirida, é agora uma Gift Store, que vende lembranças da cidade de Coimbra.
Fernanda Mendes é a proprietária do estabelecimento situado em plena Praça do Comércio e com um ar de desalento contou ao Despertar que o negócio “está muito mau”.
De portas abertas há mais de 10 anos naquele espaço, sendo que anteriormente teve outra loja do mesmo ramo durante mais de 20 anos, a empresária revela que a sua vida foi toda dedicada ao comércio e ao contacto com as pessoas, mas que os últimos anos têm sido muito difíceis. “Se não tivéssemos algum dinheiro que recebemos da pensão não sei como íamos aguentar isto. Tem tido pouca ou quase nenhuma procura e tem vindo a agravar-se nos últimos anos”, começou por explicar. Embora afirme que antigamente ainda “se fazia bom dinheiro” agora “nem dá para as despesas” e acredita que não haverá melhoras.
Com 79 anos e uma vida de trabalho e dedicação a esta área, Fernanda Mendes conta que vê com grande tristeza o rumo que o negócio levou e garante que o que a mantém no ativo é a paixão pelo que faz. “É o amor que a gente tem e é aquela saudade, mas ficamos triste com o que vemos. Porque antigamente passávamos nesta rua e era cheia de gente e agora conta-se pelos dedos as pessoas que passam aí”, disse. “O turista vem, mas também não compram nada. Nem na altura de verão se nota melhorias”.
A loja, com o número 40 na Praça do Comércio, vende sobretudo louças, toalhas de praia, toalhas de mesa, camisolas, tudo referente à cidade de Coimbra e alusivo a Portugal, sobretudo camisolas com o nome do futebolista português Cristiano Ronaldo, camisolas desportivas, malas de cortiça, íman, postais, canecas, bolas, chapéus, entre tantos outros artigos que fazem parte do inventário. Questionada sobre o que mais vende na loja, Fernanda Mendes destaca logo as camisolas, carteiras e ímans, mas sublinha que “é só de vez em quando”. “Vem um ou dois clientes por dia e há dias que faço 20 euros. O que é isso? Não é nada para uma loja aberta”, anuiu com alguma mágoa.
A empresária afirma que mantém as portas abertas muito por conta da filha, que também trabalha no negócio. “Tenho uma filha com 50 anos que trabalha aqui e que não arranja mais emprego em lado nenhum. Estamos sempre à espera de melhores dias, mas não sei quando chegam”, declarou, afirmando que vai manter o negócio até onde aguentar.
Praça do Comércio já não é a mesma coisa
Ligada desde muito nova à Praça do Comércio, Fernanda Mendes confessa que nunca viu a Baixa de Coimbra tão “apagada” e preocupa-se com o futuro daquele lugar que em tempos foi o epicentro da cidade. “Isto está tudo quase a fechar e qualquer dia não temos aqui ninguém. Há lojas aí que nem se devem estrear”, reforçou. Para a lojista, o problema devia ser solucionado pela autarquia, que devia “fazer com que as pessoas viessem mais para aqui”.
“Não há transportes, não podem parar aqui porque nem há estacionamentos. As pessoas não vêm à cidade porque vão para os centros comerciais pois é mais fácil. Elas não vão andar carregadas quando podem ir a outro lado onde esse problema não existe”, manifestou.
Para Fernanda Mendes o Metrobus não vai mudar a situação e era urgente adotar outras medidas. “Penso que o metro não vai resolver nada. Acho que vai ser em vão. Mais valia, colocarem estacionamento para as pessoas virem e mais animação durante o dia porque o que fazem é só à noite. Deviam ter também durante o dia”.
Apesar de tudo isto, Fernanda Mendes tem como palavra de ordem “melhoramento” e apela a que todos olhem para a Baixa, principalmente para a Praça do Comércio, com outro olhar.