“Alimente a partilha” é o mote do projeto inovador que a União de Freguesias (UF) de Coimbra lançou com o intuito de combater o desperdício alimentar e ajudar as famílias carenciadas da freguesia.
Promovido em articulação com uma ampla rede de parceiros – AHRESP – Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal, Banco Alimentar, Refood, Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra, Jazz ao Centro e os restaurantes Carmina de Matos, Cervejaria do Parque, Cova Funda, Luca, Mijação, O Cantinho dos Reis, Toledo e Solar do Bacalhau – este é um projeto de economia circular social assenta numa filosofia diferenciadora e que aposta na proximidade, permitindo que as próprias famílias levantem as refeições excedentes nos restaurantes, sem intermediários.
Durante a apresentação deste projeto, o presidente da UF, João Francisco Campos, explicou que o modelo está sustentado numa plataforma que tem a vantagem de ser um sistema totalmente automatizado e controlado por um software, não carecendo de trabalhadores ou voluntários para gerir o processo. É esta plataforma que faz a ligação entre os restaurantes dadores e as famílias beneficiadas, cabendo a cada restaurante aderente “carregar” as refeições sobrantes que tem, sendo depois o próprio software que, mediante alguns critérios – como proximidade do restaurante, relação de quantidade com número de pessoas do agregado familiar e período de tempo sem receber donativo –, faz a seleção da família, enviando-lhe uma mensagem com um código para que possa fazer o seu levantamento no restaurante respetivo.
João Francisco Campos realça que o projeto começou a ser preparado antes da pandemia da Covid-19, numa perspetiva de futuro, tendo sofrido, contudo, “algumas adaptações”, fruto das limitações que se vivem atualmente. Com o duplo objetivo de “combater o desperdício alimentar e ajudar as famílias, faz parte das iniciativas sociais que a freguesia vai desenvolvendo”, explicou, dando conta que a UF acompanha atualmente 175 famílias.
São estas as possíveis beneficiárias deste programa que, como reforçou o presidente, serve de “complemento ao trabalho social que a UF tem feito” e que continuara a assegurar, sendo um dos importantes apoios a distribuição de bens alimentares. João Francisco Campos congratula-se, nesta área, com o trabalho que tem sido realizado não só pela Comissão Social de Freguesia mas pelas muitas instituições que existem na freguesia e que “fazem um trabalho fantástico” no apoio a quem precisa.
Este novo projeto resulta também desse trabalho em rede, envolvendo para já oito restaurantes. O presidente da delegação de Coimbra da AHRESP, José Madeira, considera que tudo “está bem delineado e programado” para que o processo funcione bem, nomeadamente o ato da entrega das refeições às famílias, e felicitou os restaurantes pela adesão a esta iniciativa solidária, apesar “de todas as dificuldades” que o setor vive, considerando mesmo que não há memória de uma crise como a que se vive atualmente. Explicou, ainda, que este é um projeto que continua aberto, podendo outros restaurantes associar-se a esta causa, evitando desperdício e ajudando quem mais precisa.
Adquirida pela UF à empresa Sh Code, esta plataforma aposta num método de funcionamento simples, que depende apenas de três entidades – UF de Coimbra, restaurantes com desperdício alimentar e famílias com necessidades. Sem recurso a meios humanos, o próprio sistema assegura todo o processo. Ricardo Carvalho, da Sh Code, sublinha que o desafio é “tentar reduzir o desperdício, se possível a zero” e “ajudar as famílias”, num processo onde não são necessários intermediários, já que o restaurante só notifica o que tem, o sistema seleciona a família e um dos seus elementos vai buscar a refeição, que vem acondicionada em recipientes próprios, oferecidos aos restaurantes pela UF de Coimbra.
A Refood também se associa ao programa, sendo “alertada” no caso de alguma refeição não ser levantada. Nessas situações, dirige-se ao restaurante, levanta a refeição e vai entregá-la a alguma das instituições que apoia.
Nesta fase inicial, os promotores estimam que possam ser entregues “20 a 30 refeições por dia”.