19 de Junho de 2025 | Coimbra
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Tricots Brancal: 46 anos na Baixa

17 de Junho 2024

A loja “Tricots Brancal”, na Rua Visconde da Luz, n.º69, na Baixa da cidade de Coimbra funciona há 46 anos. Hoje, é gerida por Maria da Natividade, com a ajuda da funcionária Paula.

Maria da Natividade trabalha lá há quase tantos anos quantos a loja tem de existência, tendo arranjado o emprego apenas uma semana após a abertura de portas. Por lá se manteve e continua, até ao momento.

Conhecida pela população como Brancal, é a única loja de lãs em Coimbra, e é lá que se vendem artigos em lã, algodões, enxovais de bebé, e agulhas de tricot, entre outros.

Maria da Natividade confessou, em conversa com O Despertar, que os melhores clientes da loja são os compradores de enxovais, explicando que “todos os dias vendemos enxovais completos para bebés”.

Todos os artigos são manufaturados por parceiros da loja, que se dedicam ao pedido do cliente.

Negócio consoante estações do ano

Tendo em conta os produtos que a loja vende, Natividade explica que, “no inverno o negócio corre melhor”, por ser nessa altura do ano que se usa a lã para produzir roupa, nomeadamente camisolas, casacos e cachecóis, por exemplo.

A gerente mostra-se satisfeita com o rumo da loja, uma vez que “mesmo nos dias menos bons, vamos vendendo sempre qualquer coisa”.

Ainda assim, as lojistas garantem que estes não têm sido tempo áureos para o negócio, tendo o “boom” da Brancal acontecido na década de 80, segundo Maria da Natividade. Isto porque, na altura “não havia tanto comércio nem centros comerciais”.

“Por exemplo, agora qualquer loja vende camisolas que parecem ser feitas à mão, mas não são, até porque se nota que a qualidade não é a mesma” e, por isso, uma peça produzida para os clientes da Tricots Brancal pode ser “bem mais cara do que num centro comercial, por ser feita à mão e pela qualidade do fio com que é tricotada”.

Para mostrar um pouco daquilo que as lãs Brancal permitem produzir, a equipa tem exposto um casaco tricotado há mais de 42 anos, que outrora pertenceu a uma médica de Coimbra e que, por tanto gostar dele, estimou-o como se de um filho se tratasse. Assim, e surpreendida com o estado intocado da peça, Natividade pediu a um familiar da senhora, que, entretanto, faleceu, que lhe desse autorização para o deixar à vista de todos.

 

Satisfeita com a “obra de arte”, a gerente garante que “estas cores ainda estão na moda”.

Covid e pós-covid

No início de 2020, a população mundial foi confrontada com uma pandemia, o covid-19 ou coronavírus. Por esse motivo, e para garantir a segurança de todos, o comércio esteve parado durante cerca de dois meses e meio, sem aviso prévio. Por este motivo, o negócio da Brancal ficou a perder durante largos meses até a vida voltar “ao normal”. Felizmente para a Brancal e para os seus funcionários, o mesmo não aconteceu no segundo confinamento, no começo de 2021. Aliás, deu-se totalmente o oposto, visto que, pelo facto de os profissionais de saúde terem mais conhecimento e informação acerca da doença, a comunidade foi antecipadamente avisada que existiria um novo confinamento, a começar num futuro próximo, com data definida. Desta forma, como relata Natividade, uns dias antes do confinamento “houve filas intermináveis. Chegavam quase ao café Nicola”, porque “as pessoas queriam ter as lãs em casa e havia gente com cinco ou seis sacos na mão, mesmo a fazer lembrar daquilo que acontecia nos anos 80”.

A loja Brancal de Coimbra tem ainda em exposição uma manta de várias cores, feita por uma parceira do negócio na altura da pandemia. Confessa que a colega lhe contou estar aborrecida e, por acaso lembrou-se que tinha em casa restos de fio de diferentes tons e, com isso, produziu uma manta bem colorida.

O turismo numa das principais ruas da baixa

Questionada pel’O Despertar acerca de que tipo de clientes costuma frequentar a loja, já que se situa numa das ruas mais movimentadas da baixa citadina, a gerente revelou que, “os clientes da loja são, na maioria, portugueses. Os turistas começam a chegar por volta de maio, normalmente” e “costumam tirar muitas fotografias, talvez por causa da beleza das cores, ou por haver muita variedade. A verdade é que também compram muito, não tanto como os clientes portugueses, mas compram, graças a Deus”.

Além disso “há pessoas que vivem no estrangeiro e quando chegam a Coimbra vêm à Brancal comprar fio”, sendo este fenómeno resultado da “muita qualidade” das lãs portuguesas.

Hoje, numa altura em que já se vive com menos medo do covid-19, Natividade considera que o negócio corre bem. Prova disso são os clientes que “começaram a pedir-nos para não encerrar à hora de almoço porque trabalham, por exemplo, na Avenida Fernão de Magalhães, e que não têm mais nenhuma oportunidade para cá vir sem ser durante o tempo do almoço”. Numa tentativa de aceder aos pedidos dos fiéis clientes e de forma a deixá-los satisfeitos, as duas funcionárias da loja de lãs passaram a não fechar o estabelecimento para pausa de almoço, revelando não estarem arrependidas, dado que “temos quase sempre gente à hora de almoço”.

A Tricots Brancal poderá ser frequentada até às 18h00. As funcionárias garantem que não ficam até mais tarde na loja por uma razão apenas – a falta de segurança que tem vindo a intensificar-se na Baixa.

Natividade contou a’O Despertar que, a partir dessa hora, já só se vê quem nós não queremos ver e é um bocadinho arriscado. Por esse motivo, passámos a encerrar um pouco mais cedo”. A gerente da Brancal destaca ainda a descaracterização que o local tem vindo a sofrer, contando que há clientes que chegam mesmo a enganar-se na entrada da loja porque, se não vêm cá durante uns tempos, quando voltarem já está tudo diferente”.

Contudo, nos últimos tempos “tem havido muitas iniciativas para promover a Baixa”, revela Natividade, desmanchando-se em elogios à Associação para a Promoção da Baixa de Coimbra (APBC).

“Ainda assim, há outros comerciantes que não acham muita piada, mas isto traz gente para a Baixa. É que as pessoas podem nem comprar na loja, mas, pelo menos, vê-se movimento”, diz, confessando sentir-se triste quando olha pela janela do estabelecimento e não vê “nenhuma alma a passar”.

Apesar de não ter muitas razões de queixa quanto ao negócio nos tempos que correm, a gerente da loja compara a atualidade com as situações de enchente que havia na Baixa, explicando que “antigamente, para andar aqui, era preciso pedir licença. E quando chovia? Ui. Até os chapéus de chuva tocavam uns nos outros”.

Natividade deixa o apelo à APBC para que “continue o bom trabalho”.


  • Diretora: Lina Maria Vinhal

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