4 de Outubro de 2024 | Coimbra
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António Inácio Nogueira

TESTEMUNHOS: Viagens Terra de Artes

27 de Setembro 2024

No Oeste português fica Caldas da Rainha, uma cidade que já visitei, vezes sem fim, e enquanto puder sempre voltarei a aportar. Falo hoje desta terra, porque não posso deixar de divulgar, junto de todos os meus leitores, o Congresso Bienal da Academia Internacional de Cerâmica a realizar de 16 a 20 de Setembro, com 300 participantes de 50 países.

Que cidade bem escolhida pela comunidade internacional!…

       Caldas da Rainha cheira a ruralismo e a cosmopolitismo, cheiros bons, interceptáveis pelos meandros da suas águas abençoadas, segundo a lenda, à arte que se vê e adivinha em cada beco e em cada rua, não olvidando os lugares de silêncio e contemplação.

Descobre-se, caminhando-a, uma cidade que se orgulha de ser refúgio terapêutico e artístico. Eleita cidade criativa pela UNESCO ou melhor, Cidade Criativa no Domínio do Artesanato e Artes Populares.

Dando razão ao já respigado, esta terra possui o único mercado diário horto-frutícola do país (a fazer lembrar o seu intrínseco e já citado ruralismo), quase inalterável desde o final do século XIX, sito numa praça nobre e vibrante da cidade. Contrastando, é local privilegiado para observar em redor a Arte Nova dos seus edificados. As fachadas românticas de azulejos circundam esta mui frequentada praça, fazendo parte do Roteiro da Arte Nova.

Foi considerada Cidade Cosmopolita da Província, durante a II Guerra Mundial, contribuindo para isso o paraíso aqui encontrado por milhares de refugiados chegados a Portugal, muitos de comboio e pela estação de Vilar Formoso. Fugiam do «carniceiro» Hitler; foram acudidos por Aristides de Sousa Mendes.

(Edifício em estilo Arte Nova, Caldas da Rainha, da Wikipédia)

 

A história da cidade está intimamente ligada aos seus recursos hidro-termais com os quais a Rainha D. Leonor, segundo a lenda, se curou de uma ferida persistente que não sarava e a apoquentava sobremaneira.

Eis a razão do chamamento p´ lo seu nome: Caldas da Rainha.

Face a esta circunstância bem sucedida, a Rainha foi levada a determinar a construção de um hospital termal, o mais antigo hospital termal do mundo.

Neste contexto, foi durante o século XIX que a cidade conheceu a sua maior refulgência, ao ser frequentada pelas classes sociais mais abastadas que aqui buscavam as águas sulfurosas para tratamentos.

A abundância de argila na região, foi determinante para o desenvolvimento de numerosas fábricas de cerâmica, onde despontaram mestres inventivos da arte de bem moldar.

Relevam-se as criações do exímio artista Rafael Bordalo Pinheiro, iniciadas na Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha, entre 1884 e 1907. Esta célebre fábrica foi por ele criada, em 1884, com a coadjuvação de Ramalho Ortigão, sendo que os seus objectos são um ícone da cultura portuguesa, presentes em milhares de casas pelo país e no estrangeiro.

E não ficaremos por aqui, pois o tempo e as mãos criativas de alguns caldenses, deram celebridade a outras artes para além da cerâmica. A pintura e a escultura, transformou esta comunidade num verdadeiro centro de artes plásticas, onde se destacaram muitos nomes, como por exemplo, os dos virtuosos José Malhoa, António Duarte e João Fragoso.

.           Quando vou às Caldas da Rainha, costumo estacionar o carro junto das grades do sublime Parque D. Carlos (a mata que a rainha mandou plantar para proteger os lençóis freáticos, dizem), no centro da cidade. Depois entro. Vejo-me em presença de um jardim romântico, com um lago artificial de grande beleza e de variadas alamedas arborizadas, abastadas em biodiversidade múltipla. O silêncio, silencioso, é mágico.

 

Dentro e nas proximidades respira-se arte no Museu José Malhoa, no Centro de Artes (criado nos anos 80 para responder à procura gerada pela Escola Superior de Artes e Design e pelo Centro de Formação Profissional para a Industria Cerâmica), no Museu da Cerâmica, onde refulgem obras de Rafael Bordalo Pinheiro.

No Parque D. Carlos só lamento, ano após ano, o vazio interior dos seus pavilhões de estética edimburguiana.


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