Passei por uma das livrarias da cidade e ao fazer o meu reconhecimento cuidado sobre as novidades existentes, encontrei um livro de apresentação bem concebida, a capa de bom recorte estético, – uma rede que quase me cheira a maresia, – e que pode dizer muita coisa sobre que está lá dentro. A meu gosto.
O tutano íntimo está intermediado com fotografias magníficas, a preto e branco. O livro é de poesia. Apelida-se de Versos Que Te Trago. O autor é Fernando Pompeu, licenciado em Direito, 55 anos de idade.
Era um nome bem conhecido dos adeptos da Académica. Reconheço-o bem. Quando passávamos um pelo outro havia um cumprimento de cortesia, talvez por amargarmos os dois pela camisola negra. Nunca chegámos à fala. Já lá vão um bom par de anos.
Não o reconheceria como poeta. Mas é. Comprei o seu livro. Demorei dois dias a tragá-lo, não me arrependo. Fiquei, positivamente, surpreso.
Segundo diz, usa a rima e a prosa poética, poesia livre, descomplexada, descomprometida. Os versos, afirma também, têm gente por dentro, são os filhos, os amigos, os amores e os mais marcantes momentos da sua vida. Verdade.
É um livro de amor, traição, ciúme, ausência, esquecimento, mar imenso, – o mar está dentro do poeta, – sonhos, utopias, paixão, voos sem limites, caminhos só por caminhar, liberdade, Abril, heróis, – Salgueiro Maia em primeiro.
Por vezes, enleiam-se nas palavras dos seus versos, tristezas tamanhas. A tristeza que não é só tristeza, por vezes, é inspiração. A força do amor pressente-se, é audível. Metaforicamente, diria, que todos os rios se cruzam a caminho do mar.
O livro está ainda entremeado com belas e significativas fotografias da autoria da artista visual e realizadora de cinema, Júlia Shuvchinskaya. Nascem sempre a propósito do conteúdo dos versos. São imagens criadas para um universo de poesia, de cada poesia, do poeta. Lindas as que vertem paisagens relacionadas com o mar e arrolam pessoas e espuma aspergida.
Um livro a ler e a ver. Ponto.
Largarei, aqui, um perfume de todo este enredo tão rico, clamado Dilúvio, com a devida vénia ao autor.
Corre-te na alma Mar salgado,
Mas é de água doce, o brilho dos teus olhos.
Não sei se és rio,
Se és maré,
Mas sei da nascente do teu sorriso aberto,
Que desagua na foz de todos os meus sonhos.
Sei-te talvez ribeiro, riacho, fonte,
Leito, torrente, caudal.
E sei-te, às vezes, dilúvio inexorável…
Quando me levas na corrente
E me puxas para a margem,
A transbordar de ti…: