Se achares por bem, um dia destes falo contigo,
Do chilrear dos pássaros que agora ouço na minha varanda,
E dos que, enquanto jovem, escutava nos olivais e nos figueirais da aldeia.
Se quiseres conto-te das árvores que vejo florir e crescer,
Nos parques e jardins da minha cidade;
Outrora perfumavam-me,
Os rosmaninhais e os pomares aromatizados e floridos das primaveras beirãs.
Se te aprouver conto-te,
Da chuva que tilinta nos ferros da varanda da minha citadina casa,
Que me apraz ouvir, silenciando-me, por debaixo do cobertor que me aquece.
Em tempos idos, ouvia-a cair dos beirados de telha velha,
Das hercúleas casas de pedra da aldeia, enturvando o meu dormir.
Olha, se achares por bem,
E um dia te apetecer ouvir,
Conto-te o que se passa do lado esquerdo do meu corpo e do direito também.
Conto-te o que os dois lados vivem,
Já que outrora só o esquerdo, batia, batia, por amor.
Se achares bem,
Prometo que não te vou demorar muito,
Um dia dos poucos que me faltam,
Conto-te das tristezas, das lágrimas vertidas, das gargalhadas, sim que já as dei,
Dos silêncios de que tanto gosto, das mágoas escondidas.
Olha se achares por bem,
Um dia conto-te tudo… um tudo que é quase nada,
MAS É TUDO.