Estamos em plenas festas da cidade – de 4 a 14 de Julho – com cerca de duas centenas de iniciativas de índole diversa e as duas procissões da Rainha Santa, a da Penitencia no dia 11 de Julho e a Solene no dia 14 do mesmo mês. A Rainha estará na Igreja de Santa Cruz, até ao dia do seu regresso ao Convento de Santa Clara.
Lá irei visitá-la a Santa Cruz. Conversar um pouco. Desabafar sobre a vida, porventura. Lá estarei a olhá-la e a colher o agasalho do seu silêncio. A colher a paz que aquela mulher figurada na obra de Teixeira Lopes me propicia. É a única Santa que me invade, a mim, um agnóstico persuadido. Será pela imagem de beleza incontida? Será o que ela pronúncia? Será a biografia da Rainha? As lendas e os mitos de beleza infinda que à sua volta proliferam? Não sei, só sei que gosto dela e nem quero aprofundar este segredo. É meu até ao fim, inexplicável.
Isabel terá sido uma Rainha muito quista para os pobres, também uma mulher de intervenção, intermediando até vários conflitos régios Por isso mesmo, ainda em vida começou a gozar da reputação de Santa. Foi beatificada pelo Papa Leão X em 1516, vindo a ser canonizada, pelo Papa Urbano VIII em 1625. É reverenciada a 4 de Julho, data do seu falecimento com peste em Estremoz. É padroeira da cidade de Coimbra. No entanto, há muitas outras terras onde é venerada, tais como Trancoso, Sabugal, Leiria, Estremoz, S. Pedro de Moel, etc., Muitos escritores têm dedicado a sua prosa e verso à sua pessoa e vida.
A história mais popular da Rainha Santa Isabel é, sem dúvida, a do milagre das rosas. A época exacta do aparecimento desta lenda na tradição portuguesa não está determinada. Não consta de uma biografia anónima sobre a Rainha escrita no século XIV, mas circularia oralmente pelo país nas últimas décadas desse século. O mais antigo registo conhecido é um retábulo quatrocentista conservado no Museu Nacional de Arte da Catalunha. O primeiro assentamento escrito do milagre das rosas encontra-se na Crónica dos Frades Menores de 1562.
Em meados do século XVI, a lenda já tinha sido amplamente difundida, e foi ilustrada por uma pintura anónima, conhecida por Rainha Santa Isabel, no Museu Machado de Castro de Coimbra, e por uma iluminura da Genealogia dos Reis de Portugal de Simão Bening sobre desenho de António de Holanda. No século XVII surgem mais dois trabalhos anónimos retratando a rainha, a pintura a óleo no átrio do Instituto de Odivelas e o retábulo do Mosteiro do Lorvão. [referências Wikipédia]
Até no fado teve o seu lugar. O grande Alfredo Marceneiro dedicou-lhe o fado
Rainha Santa, com letra de Henrique Rego. Desse fado, que não conhecia, deixo aqui transcritas duas das sextilhas dos versos:
Não sabes Tricana linda
Porque chora quando canta
O rouxinol no choupal
É porque ele chora ainda
P´la Rainha mais Santa
Das Santas de Portugal
[…]
Rainha que mais reinou
Nos corações da pobreza
Que no faustoso paço
Milagreira portuguesa
Que no seu alvo regaço
Pão em rosas transformou.
[…]
[Continuamos sobre o tema no próximo número do Jornal. Uma homenagem em verso]