18 de Janeiro de 2025 | Coimbra
PUBLICIDADE

António Inácio Nogueira

TESTEMUNHOS Onde Ides Ladeira Abaixo, Rainha?

19 de Julho 2024

Onde ides, ladeira abaixo, baloiçando no teu andor?

Onde ides, formosa Rainha, onde ides, caminhando, apressada e pronta?

Onde ides, bela Rainha, com essa quietude serena, reflectida de amor?

Que canção cantas, Rainha, tão tristemente triste, de onde brota tamanha melancolia?

O peso que levais nos braços, vindo dos teus regaços, o que esconde de monta?

Oh! Dizei-mo: frutas, pão, moedas, roupa, amor, milagre, o que é?

Ah! já sei, vais matar a fome aos deserdados, aos mendigos, aos foragidos, pois é?

 

Rainha, ao perguntar-te, ruborizaram-se as tuas faces, algo se passa, não é?

Amuada, mas firme, me retorquiste: levo apenas rosas, muitas rosas,

Benfazejas, perfumadas, milagreiras, tão mimosas…

Oh! suspeitoso, eu não minto, sou Rainha de Portugal,

E cuido de um enorme roseiral…

Abriu o regaço ao agnóstico, ao descrente que sou, e só rosas lá vi então,

Apesar de não ser Dom Dinis, não!…

Vi rosas de rubra cor vidente, vindas dos jardins, montes e prados,

Rosas de caridade, de bondade, colhidas nos hortos do convento, bem arrelvados.

Olhou-me, nos olhos, a minha Rainha e, daquele rosal dela, ofertou-me uma bela rosa:

A mais orvalhada, perfumada, primorosa, generosa.

Depois, pediu-me, com voz terna: vai, vai, apregoa este lenda, este mito das rosas,

P´los pobres dos mais pobres, p´los refugiados vagueantes,

P`los padecentes das guerras, espoliados caminhantes.

Uma lenda, uma voz, um poema, uma mulher, uma santa, És isto tudo, Majestade!

Porque gostarei tanto de ti, desta forma tão silenciada, Majestade?

Sabes, porque ajudas quem precisa e falas a verdade.

 

Olha, agora, antes de partir, vou contar-te um segredo que fica só entre nós:

Espreitei, antes de te interpelar, por entre as dobras do teu regaço, e não vi rosas,

Vi amor, pão, saúde, habitação para todos, p´ra humanidade.

Rosas de generosidade, de clemência, transformadas em realidade.

A Santa Cruz, fui visitar-te e desabafar, como costumo; agora vou de abalada, refeito.

Que fiques bem minha Rainha, no teu andor de mitos feito.

Até sempre, até um dia, quando o meu pó já for perfeito.

 


  • Diretora: Lina Maria Vinhal

Todos os direitos reservados Grupo Media Centro

Rua Adriano Lucas, 216 - Fracção D - Eiras 3020-430 Coimbra

Powered by DIGITAL RM