A toponímia sempre foi uma das minhas paixões. Como se dedica ao estudo da génese e da origem dos nomes dos locais, eis a razão porque ao escrever a monografia da Praia do Pedrógão e das aldeias dos meus pais, investiguei a preceito a origem dos seus nomes, nunca deixando de parte as lendas e os mitos que lhes dão suporte.
Também, de há muitos anos para cá, sou adepto das férias cá dentro, em detrimento das férias lá fora. Passeei, na companhia da minha mulher, pelos sítios mais remotos do nosso país, fazendo grandes caminhadas por montes e vales. Andei pelo meio das vinhas do Douro e dos seus socalcos, pela bela Serra da Estrela, pelo Alentejo profundo, e eu sei lá por onde mais. Posso gabar-me de conhecer bem o país e os seus encantamentos paisagísticos.
Ao longo dessas caminhadas fui observando, surpreendido, a toponímia dos lugares e dei-me, cara a cara, com nomes de aldeias, vilas e cidades [como eu dizia] que nem ao diabo lembram
Eu sei que essas denominações patenteiam a cultura popular das nossas gentes, onde se prefiguram a imaginação, a criatividade, a lenda, o mito… Há nomes que nos dizem algo, falam por si, outras só se entendem indo ao lugar investigar, falar com o povo. De norte a sul, descobri nomes obscuros, outros atestam estórias submersas lá para os confins das memórias, além daqueles que fazem ressaltar a paisagem que as acolheram, ou larachas, piadas, escárnio, anedotas mesmo.
Reflictam sobre o nome de algumas terras por onde passei ou visualizei através de placas: Avelãs da Ribeira, Picha, Nariz, Mulher Morta, Carne Assada, Degolados, Biscoitos, Borracheira, Vale de Azares, Cabeças Velhas, Boa Farinha, Taberna Seca, Água De Todo O Ano, Purgatório, Filha Boa, Minhocal, Tapada dos Pés, Santiago Dos Velhos, Alfaiates, Manteigas, Cai Logo, Vale da Rata, Beco Do Olho do Cu. Fico me por aqui. (quem quiser saber mais nomes, leia um trabalho magnifico de Vanessa Fidalgo, com o titulo principal Porque Se Chama Assim.
Algumas delas ficam bem perto das terras dos meus avós. Escolhi uma dessas. Terra bonita, onde me desloquei várias vezes. Aprendi a lenda que dizem deu origem ao seu nome, – Vale de Azares, concelho de Celorico da Beira.
Havia um fidalgo que vivia num castelo no Vale das Flores (antiga designação de Vale de Azares). Com o fidalgo viviam sua esposa mais dois filhos, um rapaz e uma rapariga, felizes e em perfeita harmonia.
O seu filho, chegou à idade de namorar e “colher” amores, e arranjou uma namorada num lugar ao fundo do vale designado sítio do Ral, onde ia todos os dias ver a sua amada, por um caminho que percorria a cavalo.
Num dos dias, quando se dirigia veloz ao sítio do Ral para ver a sua noiva, o cavalo assustou-se e caiu, batendo o jovem fidalgo com a cabeça numa pedra, morrendo de seguida. Tal facto foi a origem de fatídicos acontecimentos, pois a mãe do jovem desgostosa com o sucedido enlouqueceu de dor, e a irmã do jovem precipitou-se de uma janela, tendo morte imediata.
O fidalgo, pai dos jovens, desgostoso, mandou arrasar a sua casa, o castelo, e mudou o nome ao vale, que de Vale de Flores, passou para Vale de Azares”. [com a devida vénia à Wikipédia]
De encantar.