Quem disse que eu queria ser poeta?
Ser poeta, é ver o que ninguém vê,
É inventar estrelas no céu, com lágrimas no olhar.
Ser poeta, é embeber a alma no caos.
Ah não, não sou poeta.
As palavras não me beijam, ferem-me;
Porque havia então de ser poeta?
Ser poeta é despir palavras,
Estar sempre nu;
É nas mesmas dores sofrer mais que tu;
É sentir as emoções como facadas,
Dar a face às bofetadas,
É sentir como mais ninguém a dor;
É esconder as emoções,
Divinizar mitos e ritos,
Cultivar a subterrânea essência do silêncio,
A orfandade da tristeza.
Não quero ser poeta, não!
Não tenho um livro dentro de mim,
Não quero vestir-me de letras,
Todas baralhar em contradições.
Não, não quero ser poeta, até alguma palavra me beijar.
Nenhuma me beijou.
Definitivamente,
Não quero ser poeta.
Não sou, não!
Versejo, simplesmente.
António Inácio Nogueira